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LUíS NASSIF
FHC e o medo de inovar
FHC fala em construir o futuro.
Enquanto isso, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) amarga um rombo potencial de R$ 50 bilhões, a Previdência continua operando dentro do
regime de repartição (a contribuição de hoje pagando o benefício
de ontem). Esgotado o estoque de
estatais, de concessões e os limites
de aumento da dívida pública, como o Estado pretende ressarcir os
optantes? Por que não se utilizam
as estatais para quitar esses passivos sociais?
Inquirido sobre o tema no programa "Roda Viva", o ministro
das Comunicações, Pimenta da
Veiga, principal articulador político do governo, diz que a idéia é
legítima, mas de longo prazo, e os
problemas do governo são de curto prazo.
Esse é o problema básico do governo FHC. O presidente deixa recender um imediatismo e superficialidade surpreendentes. Sua visão de futuro é algo genérico, retórico, que não avança além da
parolagem em torno do "novo Renascimento" ou a defesa de alguns conceitos básicos, já devidamente assimilados pelos usos e
costumes nacionais.
Quando se entra no campo da
ação, a ousadia retórica é substituída por preguiça, acomodamento, sei lá, um receio, pânico de
inovar em qualquer frente e por
uma capacidade admirável de levantar objeções a qualquer tipo
de mudança -como o mais empedernido conservador que FHC
gosta de vergastar em seus momentos de bonança.
Opção rica
O "encontro de contas" -juntar
credores e devedores e proceder a
acertos que levem a um novo desenho fiscal e de país- é uma opção riquíssima, do ponto de vista
econômico, social e público. Mas é
complexa e exigiria a montagem
de um verdadeiro ministério incumbido de pensar seus detalhes.
Do ponto de vista dos ativos, o
governo tem diversas maneiras de
"fabricar" dinheiro sem ser inflacionário, ainda mais em um país
que tem tudo por fazer. No mês
passado, como poder concedente,
por exemplo, criou uma concessão
para a utilização das linhas de
transmissão de eletricidade para
serviços de telecomunicações e
imediatamente gerou um ativo
de, no mínimo, US$ 250 milhões.
Como credor de empresas privadas que devem para o fisco, tem o
poder de transformar as dívidas
em participação acionária. Muitas empresas têm passivos fiscais
que as inviabilizaram. Sendo invendáveis, viram pó. Transformando os passivos em participação acionária, do pó nasce um
ativo.
São exemplos simples sobre como promover uma estruturação
patrimonial do Estado e "fabricar" dinheiro não inflacionário.
O encontro de contas passaria,
inicialmente, pelo levantamento
de todos os passivos públicos -de
Estados com a União e vice-versa,
de ambos com os fundos sociais
etc. Depois, pelo levantamento de
todos os ativos potenciais -de
empresas estatais a imóveis, concessões, direitos de uso etc. e dívidas de empresas privadas com a
Receita e o INSS.
Simultaneamente, se trataria de
acelerar as leis que faltam para
criar os fundos previdenciários estaduais e reformular o FGTS e demais fundos sociais. Ao mesmo
tempo, se definiriam regulamentos para criar fundos de privatização, que teriam como sócios esses
fundos e bancos de investimento
privados -compartilhando das
análises e dos riscos do investimento, sejam de estatais privatizadas e empresas privadas que seriam recapitalizadas. Há uma
perna relevante, que é o aprimoramento das lei que regem o mercado de capitais.
No campo da privatização, haveria a necessidade de definir um
novo modelo, que contemplasse os
novos investidores e também sócios estratégicos, para a parte
operacional das companhias privatizadas.
Tivesse um mínimo de visão
concreta de futuro, não haveria
como FHC deixar de dedicar nem
que fosse um dia para entender
todos os desdobramentos dessa
idéia.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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