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DINHEIRO NOVO
Para economistas e entidades do setor de crédito, medida não basta para ampliar nível de consumo interno
Juros baixos da CEF devem ter efeito pífio
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Será pífio o efeito que a nova linha de microcrédito -que a Caixa Econômica Federal deve abrir
para clientes de baixa renda- terá na economia real. Na melhor
das hipóteses, medíocre. É isso o
que conclui economistas, entidades privadas e lideranças do setor.
A instituição deve anunciar nesta semana uma espécie de linha de
crédito rotativo, de até R$ 300, aos
clientes do banco. A ação pode até
ampliar a carteira de clientes do
banco, mas em nada alterará o
atual nível de consumo interno,
dizem economistas e entidades
privadas ouvidas ontem.
Os recursos a serem liberados
podem ser utilizados para consumo ou em pequenos investimentos de microempresários.
"Não chega nem a fazer cócegas
no mercado", diz Alexandre
Schwartsman, economista-chefe
do Unibanco. Para a Anefac, associação nacional dos executivos de
finanças, a "intenção é boa", pode
até impulsionar "um pouco" o
movimento o acesso de camadas
sociais mais baixas aos serviços
bancários, mas tem efeito limitado na expansão da demanda.
"Se não tivermos mais bancos
oferecendo o mesmo serviço, e rápido, isso não vai para a frente. É
preciso volume", diz Miguel de
Oliveira, vice-presidente da Anefac. "E, afinal, por que a Caixa vai
manter essa linha, num mercado
sem concorrentes, se começar a
levar calote ou se o retorno for
menor que o esperado? Apenas
porque conseguiu mais clientes?"
A questão é que, informam os
economistas, poucos bancos têm
apresentado, e de forma discreta,
iniciativas concretas em direção à
expansão do microcrédito. O
ABN-Amro Bank é um deles. Segundo José Márcio Camargo,
professor do Departamento de
Economia da PUC-RJ e sócio da
Tendências Consultoria Integrada, isso não ocorre à toa.
"A idéia de ter um banco, que
tem como meta ganhar dinheiro,
dando microcrédito a taxas de juros baixas é um tanto estranha",
afirma ele. "Se a idéia da Caixa é
boa, e pode mesmo se expandir
pelo mercado, por que até agora
nenhum banco incrementou essa
linha aos pequenos correntistas?"
Para ele, "esse dinheiro, de R$ 200
a R$ 300, não é pouco, mas não é
solução" para elevar o patamar
atual de demanda.
Na avaliação de um diretor financeiro de um banco privado,
ouvido pela Folha, a ação da Caixa tem mais um efeito "simbólico" no sentido de mostrar à população que há determinação do governo em impulsionar o crédito.
Hoje, há mais de R$ 26 bilhões
em circulação no mercado na categoria crédito pessoal -em que
os juros cobrados pelas financeiras ultrapassa 12% ao mês.
Segundo informou a direção da
Caixa na semana passada, o banco irá destinar recursos baratos
-a taxa de juros deve variar de
2% a 2,5% ao mês- por meio de
uma linha de crédito para pessoas
com conta corrente na instituição. Serão beneficiados aqueles
que possuem conta com movimentação de até R$ 3.000 por mês
(cerca de 2,3 milhões de clientes).
Financeira quer participar
Quando esse dinheiro -aquele
que pode ser usados em gastos gerais- for parar na conta dos
clientes do banco, economistas
creditam que o destino será o
mesmo. Pagamento de débitos,
utilização na compra de bens
não-duráveis (alimentos) e, eventualmente, gasto com mercadorias de pequeno valor.
Para Paulo Saab, presidente da
Eletros, que representa o setor
eletrônico, a medida tomada pela
Caixa é apenas "um furinho para
entrar o ar" na atividade econômica. Deve atrair, de forma lenta,
interessados numa abertura de
conta mais simplificada na Caixa,
mas não passa disso.
"Eles estão dando o peixe, mas
não ensinam a pescar. O camarada pode até usar o recurso para
uma compra pequena, mas é preciso mais do que isso para apenas
tentarmos sair do sufoco."
A Acrefi, que representa as financeiras, informou ontem que
pedirá ao Ministério da Fazenda a
inclusão das financeiras no projeto. "Vamos propor que esse dinheiro seja repassado para nós
para que possamos oferecer uma
linha também", disse Ricardo
Malcon, presidente da entidade.
A idéia é oferecer esses recursos
com taxas mais baixas que as cobradas pelo setor.
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