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LUÍS NASSIF
A lógica dos juros
Vários leitores têm escrito solicitando que se
tente trocar em miúdos a lógica
por trás da política econômica,
assim como a das críticas a ela.
Em política econômica, assim
como no tratamento médico, o
conceito central a perseguir é o
do "equilíbrio". Tratamento
virtuoso é o que cuida do paciente de maneira a preservar o
equilíbrio geral do organismo.
Se aparece alguma enfermidade aguda, concentra-se o trabalho em combatê-la. Passado o
período crítico, reduz-se a ênfase, isto é, a medicação, para que
outras partes do organismo
não sejam afetadas.
Não existe a idéia da inflação
morta e esquartejada. A manutenção da inflação baixa depende da manutenção do equilíbrio da economia.
Desde 1999, o Banco Central
trabalha com o conceito de
"metas inflacionárias" para
monitorar a inflação. A única
ferramenta que ele dispõe para
tal é a taxa de juros.
Nos países desenvolvidos, onde essa política foi implementada, o aumento da taxa de juros
provoca os seguintes movimentos:
1) aumenta o custo do dinheiro, reduzindo a tomada de financiamento e a manutenção
de estoque e, por consequência,
o ritmo da atividade econômica;
2) valoriza a moeda local,
tornando mais baratas as importações e os produtos exportáveis. Esses dois movimentos
ajudam a derrubar a inflação
e, em geral, são muito sutis: aumentos de 0,25 ponto percentual, por exemplo, já produzem
efeito.
A economia brasileira tem
características que países desenvolvidos não possuem. A
primeira delas é a indexação de
contratos a índices de preços
influenciados pelo dólar. A segunda é um mercado cambial
extremamente volátil, um mercado estreito, de país que não
tem moeda conversível -isto é,
livremente negociada em outras praças. Basta entrar um
pouco mais de dólares para o
preço cair; basta uma eleição
presidencial para o preço explodir.
A inflação é composta por um
sem-número de preços. Há os
preços indexados, os preços dos
produtos comercializáveis
(aqueles cujas cotações são definidas em dólares), os produtos importados e os produtos livres -aqueles que dependem
da lei da oferta e da procura.
O canhão do Banco Central
só atua sobre o último grupo de
produtos. Portanto, quanto
maior o aumento nos outros,
maior será o peso dos juros sobre o quarto segmento. Continha simples: suponha que os
preços dos quatro segmentos
sejam 1 cada. Na soma final, dá
4. Se o preço dos três primeiros
segmentos subir para 1,20, se
quiser manter a conta em 4, o
preço do quarto segmento terá
que cair para 0,4. E como é que
se derrubam os preços desse
quarto grupo? Com recessão.
Nenhum país civilizado do
mundo, desses apontados como
sucesso da implantação dessas
políticas, aceitaria praticar o
modelo em um ambiente com
tais vulnerabilidades. Isso porque o custo social e político seria insuportável.
Acontece que o Banco Central não quer interferir no câmbio. Trata-se claramente de
uma opção política, para não
mexer com o mercado. Sem interferir no câmbio e nos contratos indexados, quem paga a
conta é o setor real da economia, na forma de recessão e desemprego.
Amanhã vamos abordar outros aspectos da questão.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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