São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Greenspan minimiza efeito do yuan

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

As duas principais autoridades econômicas dos Estados Unidos criticaram ontem a desvalorização do yuan e a política de câmbio da China, que mantém sua moeda desvalorizada artificialmente. O secretário do Tesouro, John Snow, insinuou que a atitude chinesa não auxilia a estabilidade da economia mundial. E o presidente do Fed (Federal Reserve), Alan Greenspan, tratou de diminuir expectativas em relação à valorização do yuan, ao dizer que isso não representará a recuperação de empregos nos EUA.
"Na última década, a China balizou sua moeda pelo valor do dólar norte-americano. Houve um tempo em que tal política poderia ter contribuído para a estabilidade econômica mundial, mas não é mais o caso hoje", disse Snow.
A gestão de George W. Bush tem insistido na correção do yuan nos últimos dois anos. Autoridades chinesas começaram a discutir a questão e estudam adotar uma cesta de moedas, incluindo por exemplo o euro, para traçar a cotação do yuan, que hoje está desvalorizado artificialmente por determinação de Pequim.
O resultado disso e de outros motivos foi o déficit recorde norte-americano no ano passado nas relações comerciais com a China, que atingiu a cifra de US$ 161 bilhões -26,2% de todo o gigantesco déficit comercial dos EUA em 2004. Criou-se então a impressão de que uma valorização do yuan recuperaria empregos nos EUA, pois tornaria os produtos norte-americanos mais competitivos na China, e os manufaturados chineses mais caros nos EUA. Foi essa impressão que Greenspan tentou apagar ontem.
"Tenho consciência de que não há nenhuma evidência crível que suporte tal conclusão", disse.
Para o presidente do Fed, que equivale ao Banco Central brasileiro, também seria errado pensar que sobretaxar produtos chineses traria alento ao mercado de trabalho norte-americano. Segundo ele, as importações de têxteis, computadores, brinquedos e outros produtos de baixo custo continuariam, mas de outros países emergentes da Ásia e "talvez da América Latina". "Poucos, se alguns, empregos norte-americanos seriam protegidos", afirmou.
Snow e Greenspan apresentaram seus argumentos ao Comitê Financeiro do Senado ontem.

Flexibilidade
Na análise norte-americana, a desvalorização artificial do yuan pode acelerar a inflação, o que causaria impactos em outros países. Para Snow, entretanto, a China já está "preparada" para flexibilizar a cotação.
"Deixamos claro para os líderes econômicos da China que a reforma está entre seus próprios interesses, como também do sistema financeiro global. Depois de dois anos de intenso engajamento, está claro que a China, hoje, está preparada para iniciar uma flexibilidade cambial maior."


Texto Anterior: Economia global: Investimento dos EUA no exterior é recorde
Próximo Texto: Capitalismo vermelho: Chinesa quer petrolífera americana
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.