São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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DIA DE ESTRESSE

Só entraram US$ 500 milhões no país neste mês; governo esperava entrada média mensal de US$ 1,5 bi

Investimento cai, dólar e risco-país sobem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Investimentos e Bolsa de Valores em queda. Dólar e risco-país em alta. Este foi o retrato de mais um dia de estresse do mercado brasileiro. Vários fatores pressionaram os indicadores ontem. Além das Bolsas norte-americanas -que continuam sob os efeitos das fraudes financeiras que sacodem os EUA-, ajudaram no nervosismo a decisão do JP Morgan de reduzir a recomendação Brasil nas carteiras de investimentos.
O resultado do final do dia foi um novo recorde na cotação do dólar que bateu em R$ 2,92, um salto de 5% do risco-país, que fechou em 1.700 pontos, e uma queda de 1,48% no índice Bovespa.
O volume de investimento direto estrangeiro recebido pelo Brasil registra queda neste mês. De acordo com dados do Banco Central, até ontem haviam ingressado no país US$ 500 milhões em investimentos. O valor está longe da média mensal de US$ 1,5 bilhão esperada pelo governo para este ano.
No ano, porém, a entrada de recursos está quase estável, em relação aos números do ano passado. Entre janeiro e junho, o Brasil recebeu US$ 9,6 bilhões em investimentos, contra US$ 9,9 bilhões observados no mesmo período de 2001.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a queda nos investimentos neste mês é consequência da instabilidade do mercado internacional, reflexo da descoberta de fraudes contábeis cometidas por empresas norte-americanas.
"O cenário externo conturbado afeta os investimentos", afirma Lopes. Para ele, porém, o mau resultado esperado para este mês não altera as projeções do governo, que espera receber US$ 18 bilhões em investimentos estrangeiros neste ano.
"Num primeiro momento, os investidores fazem uma parada para reflexão. Depois, eles retomam os projetos", diz.
Dos US$ 9,6 bilhões em investimentos estrangeiros que o país recebeu entre janeiro e junho, nem tudo se refere a dinheiro novo que entrou no Brasil. Quase metade se refere a operações que o BC chama de "conversões".
Essas conversões somaram US$ 4 bilhões no primeiro semestre e se referem a operações em que as empresas transformam suas dívidas em investimento. Assim, aquele que antes era um credor se transforma em sócio das companhias brasileiras.
Entre janeiro e junho de 2001, as conversões de empréstimos em investimento somaram US$ 846 milhões -menos de 10% do total de investimento estrangeiro recebido pelo país naquele período.
Quando ocorrem as conversões, não entram dólares novos no país. O que acontece é que o dinheiro que antes era classificado como dívida passa a ser chamado de investimento.
"Mas não deixa de ser investimento", diz Lopes. Para ele, as conversões devem ser vistas como um número positivo, pois significam reduções na dívida externa, já que aquilo que antes era dívida passa a ser chamado de investimento.
Integrantes da equipe econômica avaliam que o agravamento da crise financeira verificado ontem foi mais um sinal da crescente aversão ao risco por parte dos investidores.
Na análise da equipe econômica, o cenário político interno também pode ter contribuído para elevar o grau de nervosismo do mercado.
A possibilidade de um segundo turno nas eleições presidenciais entre os candidatos do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT), Ciro Gomes, seria o motivo para o aumento da instabilidade.
Para assessores do ministro Pedro Malan (Fazenda), a desconfiança dos investidores em relação aos principais mercados de ações do mundo refletem na situação brasileira.


Colaborou a Redação


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