São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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LUÍS NASSIF

A CSN e a política de dividendos

Há muitos pontos a serem analisados na venda da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) à Corus. Segundo o comunicado distribuído pela CSN, será criada uma holding com 37,6% do capital da Corus, dado em pagamento pela aquisição da CSN. A CSN terá direito de indicar três pessoas para o conselho da Corus e duas em diretoria executiva. Para tanto, não poderá reduzir sua participação para menos de 29,9%.
A Corus é resultado da fusão da British Steel e da Hoogovens. A BS foi privatizada pelo governo Thatcher, à vista e com pulverização das ações em venda popular, segundo me informa o leitor André Araújo. Ela é por sua vez o resultado da nacionalização da indústria siderúrgica inglesa no imediato pós-guerra, com a estatização de 12 usinas, a maior das quais era a centenária Stewarts & Lloyds.
Até agora, a política de dividendos da CSN estava totalmente amarrada às debêntures emitidas pela Vicunha Siderúrgica para pagar a sua parte na compra da CSN. As debêntures foram emitidas para o aumento da participação da Vicunha na CSN e ficaram atreladas à distribuição de dividendos da companhia. Se a debênture exigia mais pagamento, distribuíam-se mais dividendos.
Em 2001 os dividendos chegaram a superar o lucro operacional, entrando em parte dos resultados advindos da venda da participação da CSN na Vale do Rio Doce.
Durante o período Steinbruch, a CSN tomou US$ 1,25 bilhão em financiamentos para adquirir participações na Vale e na Light. Para poder atender às necessidades dos acionistas, vendeu ativos e pagou dividendos próximos ao valor financiado. A dívida ficou no passivo da companhia.
Para fazer frente ao endividamento, a Corus manterá uma política de distribuição de dividendos da ordem de 40% dos lucros, respeitando uma alavancagem média (dívida líquida sobre patrimônio) de 35%, com máximo de 50%.
Segundo o comunicado do grupo, os ganhos para a CSN serão a possibilidade de investimentos na ampliação da sua capacidade de produção e o acesso a novos mercados consumidores. Para a Corus será o acesso a minério de ferro de baixo custo, através da expansão da mina da Casa de Pedra.
Causou estranheza no mercado a venda para a CSN da Metalic -empresa da Vicunha Siderúrgica- poucos dias antes do anúncio da operação com a Corus. Os analistas não tiveram condição de avaliar a operação, porque a Metalic era empresa de capital fechado. O valor envolvido foi de R$ 215 milhões, de uma empresa que fabrica um produto no mínimo de futuro incerto, tal o domínio das latas de alumínio no mercado de bebidas e refrigerantes.
Para a operação ser concluída, terá de ter a aprovação dos debenturistas da Vicunha (BNDES), do Cade (Conselho Administrativo de Direito Econômico) e dos demais acionistas que fazem parte do bloco de controle.

Marqueteiros
Minha empregada adorava o "dr. Serra", porque ele era carrancudo e "brigava pela gente". Lula sempre foi enaltecido pela autenticidade, pela capacidade de ser candidato a presidente sem perder as raízes. Nas mãos do marketing, Serra virou um simpático forçado e Lula um yuppie do colarinho torto.
Aparentemente a ausência de marqueteiros na campanha de Ciro Gomes ajudou a preencher uma lacuna.



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