São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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GANÂNCIA INFECCIOSA

Senado expõe papel do Citi e JP Morgan em mais fraude; Bolsas desabam; outro secretário de Bush é acusado

Bancos dos EUA fraudavam com a Enron

DA REDAÇÃO

Os bancos norte-americanos que emprestaram bilhões de dólares para a Enron tinham conhecimento de que a empresa de energia utilizava práticas contábeis duvidosas. A conclusão, revelada ontem, é da subcomissão de investigações do Senado dos EUA.
Com os escândalos atingindo a imagem das principais instituições financeiras do país e a divulgação de uma série de maus resultados, as Bolsas norte-americanas bateram novos recordes negativos. O índice S&P 500 caiu 2,7% e fechou abaixo de 800 pontos pela primeira vez desde abril de 97. A Nasdaq encolheu 4,18%. O Dow Jones, que vive seus piores dias desde a crise russa (em 1998), recuou mais 1,06%.
Depois da quebra da Enron, em dezembro passado, o Congresso dos EUA abriu uma investigação para apurar os responsáveis pelo fraudulento esquema que levou a companhia, até então a maior do setor de energia no planeta, à bancarrota. Desde então, foram analisados milhões de páginas de documentos e ouvidas dezenas de testemunhas.
Segundo Robert Roach, investigador-chefe indicado pelo Senado para o caso, há indicações objetivas de que o Citigroup e o JP Morgan Chase, os dois maiores bancos dos EUA, ajudaram a Enron a maquiar seus balanços em troca de grandes compensações financeiras e favores em outros negócios. As instituições também teriam oferecido para outras companhias acordos semelhantes aos fechados com a companhia de energia.
As ações de ambos os bancos, que já haviam caído bastante na segunda-feira com a eclosão das denúncias, perderam ainda mais valor ontem. Os papéis do Citi desabaram 16%, e os do JP, 18%. Em dois dias, as instituições perderam aproximadamente um quarto de seu valor de mercado.

Relações perigosas
Entre 1992 e 2001, os dois bancos emprestaram US$ 8,5 bilhões à Enron. Outros bancos emprestaram outro US$ 1 bilhão. Mas a companhia usou um intricado esquema, envolvendo empresas de fachada situadas em paraísos fiscais, para que os empréstimos aparecessem em seus balanços como sendo a receita obtida com pagamentos antecipados de contratos de venda de energia.
Com o esquema, a empresa aparecia nos relatórios financeiros mais saudável do que realmente era, exibindo endividamento menor e faturamento maior. Assim, os preços de suas ações mantinham-se artificialmente elevados.
"As provas indicam que a Enron não seria capaz de fraudar sua contabilidade naquela magnitude, em bilhões de dólares, se não houvesse a participação ativa de grandes instituições financeiras, interessadas em levar adiante, e mesmo ampliar, as práticas da Enron", disse Roach ontem, durante audiência da subcomissão de investigações.
Também segundo as informações recolhidas pelos investigadores do Senado, o JP Morgan teria feito transações parecidas com as mantidas com a Enron com outras sete empresas do setor de energia. Na lista aparece a Tom Brown, companhia que era presidida por Donald Evans, hoje secretário de Comércio dos EUA.
As revelações não param aí. Dizem os investigadores que o Citigroup ofereceu para 14 empresas acordos financeiros do mesmo tipo dos feitos com a Enron. Pelos menos três teriam aceitado.

Investidores lesados
Roach afirmou que existem sinais de que os bancos fizeram os investidores confiar nos balanços da Enron mesmo sabendo que a contabilidade da empresa era maquiada. Depois da concordata, os preços das ações viraram pó, e os fundos de investimentos que ouviram os conselhos dos analistas daqueles bancos e compraram títulos da companhia amargaram perdas gigantescas.
Se não fossem as transações suspeitas feitas com os bancos, a dívida da Enron em 2000 seria de US$ 14 bilhões, e não US$ 10 bilhões, como relatado. O faturamento, de US$ 3,2 bilhões, cairia pela metade. Com tais revisões, a empresa teria sido rebaixada antes pelas agências de classificação de risco, que acabaram pegas de surpresa pela quebra da gigante de energia.
Entre as provas exibidas pelos investigadores há um e-mail, de 1998, em que um executivo do JP Morgan afirma que a "Enron adora esses acordos". Na mensagem, o alto funcionário do banco diz ainda que os diretores da empresa sabiam como "esconder débitos" dos analistas de Wall Street.
Os bancos afirmaram que não fizeram nada de errado e que não sabiam das fraudes da companhia de energia. Para as instituições, as transações eram práticas corriqueiras em Wall Street. Robert Bennett, advogado da Enron, disse que não tinha conhecimento de nenhum acordo informal entre as empresas.


Com agências internacionais


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