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GANÂNCIA INFECCIOSA
Senado expõe papel do Citi e JP Morgan em mais fraude; Bolsas desabam; outro secretário de Bush é acusado
Bancos dos EUA fraudavam com a Enron
DA REDAÇÃO
Os bancos norte-americanos que emprestaram bilhões de dólares para a Enron tinham conhecimento de que a empresa de energia utilizava práticas contábeis
duvidosas. A conclusão, revelada ontem, é da subcomissão de investigações do Senado dos EUA.
Com os escândalos atingindo a imagem das principais instituições financeiras do país e a divulgação de uma série de maus resultados, as Bolsas norte-americanas
bateram novos recordes negativos. O índice S&P 500 caiu 2,7% e fechou abaixo de 800 pontos pela primeira vez desde abril de 97. A Nasdaq encolheu 4,18%. O Dow
Jones, que vive seus piores dias
desde a crise russa (em 1998), recuou mais 1,06%.
Depois da quebra da Enron, em
dezembro passado, o Congresso
dos EUA abriu uma investigação
para apurar os responsáveis pelo
fraudulento esquema que levou a
companhia, até então a maior do
setor de energia no planeta, à bancarrota. Desde então, foram analisados milhões de páginas de documentos e ouvidas dezenas de
testemunhas.
Segundo Robert Roach, investigador-chefe indicado pelo Senado para o caso, há indicações objetivas de que o Citigroup e o JP
Morgan Chase, os dois maiores
bancos dos EUA, ajudaram a
Enron a maquiar seus balanços
em troca de grandes compensações financeiras e favores em outros negócios. As instituições
também teriam oferecido para
outras companhias acordos semelhantes aos fechados com a
companhia de energia.
As ações de ambos os bancos,
que já haviam caído bastante na
segunda-feira com a eclosão das
denúncias, perderam ainda mais
valor ontem. Os papéis do Citi desabaram 16%, e os do JP, 18%. Em
dois dias, as instituições perderam aproximadamente um quarto de seu valor de mercado.
Relações perigosas
Entre 1992 e 2001, os dois bancos emprestaram US$ 8,5 bilhões
à Enron. Outros bancos emprestaram outro US$ 1 bilhão. Mas a
companhia usou um intricado esquema, envolvendo empresas de
fachada situadas em paraísos fiscais, para que os empréstimos
aparecessem em seus balanços
como sendo a receita obtida com
pagamentos antecipados de contratos de venda de energia.
Com o esquema, a empresa
aparecia nos relatórios financeiros mais saudável do que realmente era, exibindo endividamento menor e faturamento
maior. Assim, os preços de suas
ações mantinham-se artificialmente elevados.
"As provas indicam que a
Enron não seria capaz de fraudar
sua contabilidade naquela magnitude, em bilhões de dólares, se
não houvesse a participação ativa
de grandes instituições financeiras, interessadas em levar adiante,
e mesmo ampliar, as práticas da
Enron", disse Roach ontem, durante audiência da subcomissão
de investigações.
Também segundo as informações recolhidas pelos investigadores do Senado, o JP Morgan teria
feito transações parecidas com as
mantidas com a Enron com outras sete empresas do setor de
energia. Na lista aparece a Tom
Brown, companhia que era presidida por Donald Evans, hoje secretário de Comércio dos EUA.
As revelações não param aí. Dizem os investigadores que o Citigroup ofereceu para 14 empresas acordos financeiros do mesmo tipo dos feitos com a Enron. Pelos
menos três teriam aceitado.
Investidores lesados
Roach afirmou que existem sinais de que os bancos fizeram os
investidores confiar nos balanços
da Enron mesmo sabendo que a
contabilidade da empresa era maquiada. Depois da concordata, os
preços das ações viraram pó, e os
fundos de investimentos que ouviram os conselhos dos analistas
daqueles bancos e compraram títulos da companhia amargaram
perdas gigantescas.
Se não fossem as transações suspeitas feitas com os bancos, a dívida da Enron em 2000 seria de US$
14 bilhões, e não US$ 10 bilhões,
como relatado. O faturamento, de
US$ 3,2 bilhões, cairia pela metade. Com tais revisões, a empresa
teria sido rebaixada antes pelas
agências de classificação de risco,
que acabaram pegas de surpresa
pela quebra da gigante de energia.
Entre as provas exibidas pelos
investigadores há um e-mail, de
1998, em que um executivo do JP
Morgan afirma que a "Enron adora esses acordos". Na mensagem,
o alto funcionário do banco diz
ainda que os diretores da empresa
sabiam como "esconder débitos"
dos analistas de Wall Street.
Os bancos afirmaram que não
fizeram nada de errado e que não
sabiam das fraudes da companhia
de energia. Para as instituições, as
transações eram práticas corriqueiras em Wall Street. Robert
Bennett, advogado da Enron, disse que não tinha conhecimento de
nenhum acordo informal entre as
empresas.
Com agências internacionais
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