São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NEGOCIAÇÕES

Medida evita embate

UE e Mercosul fixam cronograma até 2003

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Para resolver o impasse criado nas negociações do acordo comercial entre a UE (União Européia) e o Mercosul, foi achada uma solução diplomática: estabelecer um cronograma de negociações abrangente, que se estenderá até 2003.
Essa foi a única solução possível para evitar um embate. Isso porque nem os sul-americanos conseguiram colocar como prioridade a discussão sobre acesso a mercado (o agrícola) nem os europeus emplacaram a preferência pelas regras para a integração.
Os blocos optaram por discutir os dois temas simultaneamente nas próximas reuniões preparatórias para o acordo. Serão quatro até meados do próximo ano.
"Dada a complexidade das negociações, estabelecemos um calendário de trabalho para intensificar as discussões", disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer.
"A tarefa não foi fácil, pois cada lado tem suas visões de como devem ser as negociações. Temos ainda diversas regras e problemas com os quais temos de nos confrontar e que ainda não foram detalhados", afirmou o comissário da UE, Pascal Lamy.
Para Chris Patten, ministro de Relações Exteriores da União Européia, o calendário "vai colocar mais gasolina no tanque para chegarmos ao plano ideal do acordo."

Fim da proposta anterior
A aceitação de um cronograma sepultou a proposta anterior. Ela previa dividir em dois estágios as negociações: no primeiro, se estabeleceriam as regras (fitossanitárias, de padronização de produtos e defesa comercial), para só depois discutir o acesso a mercado.
Quando fala em acesso a mercado, o Mercosul quer, sobretudo, entrar com seus produtos agrícolas -subsidiados por muitas nações européias- sem barreiras na União Européia.
A UE, porém, quer minimizar a importância do tema. O próprio Lamy reconheceu que o açúcar (alvo de protecionismo na Europa), por exemplo, deve ficar fora do acordo.

Assimetria e eleições
Lamy afirmou que, mesmo depois de concluída a negociação e fechado o acordo, haverá uma assimetria entre União Européia e Mercosul. Ou seja, será impossível chegar a um equilíbrio perfeito e um deles sempre terá menos benefícios.
Na visão dele, sempre existirão produtos nos quais não haverá o mesmo grau de abertura em um dos lados.
A posição de Lamy se opõe à do Brasil e à do Mercosul, que querem reciprocidade em tudo o que estiver no acordo. O bloco quer tratamento isonômico: o que for aberto aqui tem de ser aberto lá. Pela declaração de Lamy, isso está descartado.
Para Patten, as eleições no Mercosul (Brasil e Argentina) e na UE (Alemanha) não afetam substancialmente as discussões para formação do pacto. Isso porque existem condições prévias que serão mantidas por quem quer que seja eleito. Lafer compartilha da opinião e não acredita numa mudança expressiva de rota por causa da sucessão brasileira.



Texto Anterior: Previsão sombria: Bird vê Argentina no sufoco até 2004
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.