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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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"Ainda não vimos o fundo do poço", afirma Piva, presidente da Fiesp; para Iedi, trimestre será perdido

Indústria queria corte maior e fica frustrada

Paulo Whitaker/Reuters
Operadores de Bolsa de Mercadorias & Futuros, em São Paulo


DA REPORTAGEM LOCAL

O setor industrial chamou de "frustrante" a decisão do Banco Central de reduzir os juros em "apenas" 1,5 ponto percentual. Para as principais entidades empresariais do setor, o Brasil permanecerá à beira da recessão.
""A decisão do BC fará a economia se desacelerar por mais tempo. Esse excesso de zelo ameaça agravar o quadro atual de desemprego e deteriorar ainda mais a saúde financeira das empresas. Ainda não vimos o fundo do poço", disse Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), em nota divulgada ontem.
Não menos críticos foram os comentários de Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
"Foi frustrante. O que era necessário não veio. Foi uma decisão conservadora demais para o objetivo propalado pelo governo de crescimento no segundo semestre", disse Almeida.
Na avaliação do diretor do Iedi, o terceiro trimestre deste ano ""está perdido e há grandes chances de o quarto também se perder, talvez com alguma oscilação [positiva] no nível de atividade". Segundo Almeida, o BC não comprometeria as metas de inflação (de 5,5% para 2004) se decidisse por um corte de 4 a 5 pontos.
De sua parte, Piva disse que, ao reduzir os juros, o BC ""finalmente" sinalizou que passou a dar maior peso para a meta de inflação de 2004 -parte dos empresários defende que a política monetária tenha como objetivo a meta do próximo ano, e não a de 8,5% de 2003, que julga impossível de ser cumprida.
""Esse ajuste de horizonte veio tardiamente. O desemprego está em nível altíssimo [passou de 12,8% em maio para 13% em junho, segundo o IBGE], os empresários se vêem forçados a puxar o freio e desovar estoques indesejados, enquanto a demanda desaponta a cada mês", disse Piva.
Para o presidente Fiesp, a ""tênue esperança que resta" de recuperação da economia depende de aumento do consumo via crédito. Por isso, cobrou uma redução das alíquotas de compulsório (dinheiro que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central). Com maior quantidade de recursos os bancos, em tese, poderiam emprestar mais e a juros menores.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), disse que esperava uma atitude ""mais ousada" do BC na redução dos juros.
Ele lamentou que o governo não tenha aproveitado a ocasião para flexibilizar as regras dos depósitos compulsórios. "Nós vamos continuar a ter condições ruins de financiamento da economia. Ou seja, não há oferta, nem liquidez ou recursos para financiar o setor privado", disse.
Apesar das críticas, Monteiro Neto classificou de positiva a redução dos juros. "Não se pode deixar de reconhecer que foi um movimento positivo de redução."
Segundo o presidente da CNI, como o nível de atividade do setor produtivo caiu fortemente, esperava-se que o BC fosse mais agressivo na redução da taxa Selic. "Há espaço para uma decisão mais ousada sem implicar menor responsabilidade no controle da inflação", afirmou a direção da CNI em nota oficial.
"Os últimos dados mostram que a economia encontra-se no limiar de uma recessão. É necessário impedir sua concretização".
(JOSÉ ALAN DIAS E MAELI PRADO)

Colaborou a Sucursal de Brasília


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