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CRISE NO AR
Objetivo é evitar que haja explosão de liminares
STJ decide hoje se ações sobre fusão Varig/TAM vão ser centralizadas
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O vice-presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Edson
Vidigal, decide hoje uma ação de
conflito de competência sobre a
questão da fusão Varig/TAM. Vidigal, que ficou com o caso devido
ao recesso do Judiciário, vai decidir se a competência é da 2ª Vara
do Rio de Janeiro ou da Comarca
de Paripueira (AL).
O pedido foi feito pela diretoria
da Varig pró-fusão e assinado pelo escritório de advocacia Sérgio
Mazzillo. O objetivo do recurso ao
STJ, pedindo a centralização de
todas as questões jurídicas num
único foro, é evitar ações e liminares isoladas, como a do juiz Josenir Pereira de Souza, de Paripueira, suspendendo todo o processo.
A fusão, portanto, deixou de ser
uma questão econômico-financeira para se transformar numa
guerra judicial. As duas diretorias,
uma pró-fusão e outra contra, alternam-se no cargo e no poder da
Varig ao sabor das liminares.
A centralização do foro, que depende de votação do tribunal, foi
instrumento usado, por exemplo,
na época das privatizações do sistema de telefonia, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso,
e agora, na definição de tarifas para o setor de telefonia fixa, já no
governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O objetivo é escapar de uma chuva de liminares pelo país afora.
Enquanto isso, ninguém tem legitimidade para assinar um acordo de compromisso com a TAM,
apesar de a data para a solenidade
já ter sido até marcada e depois
desmarcada em razão de decisões
judiciais como a do juiz alagoano,
movida por ação de um sócio minoritário da companhia.
O governo federal se sente de
mãos atadas enquanto a questão
está no âmbito da Justiça, mas há
preocupação tanto na Casa Civil
da Presidência da República
quanto nos ministérios da Defesa
e do Desenvolvimento com a situação financeira da Varig, considerada "dramática".
Há duas formas de pressão do
governo sobre a Varig para forçar
a fusão o mais rapidamente possível. Uma delas é suspender o fornecimento de combustível pela
BR Distribuidora, subsidiária da
Petrobras, por falta de crédito.
Mas isso significaria parar de
voar, com danos tanto para o
usuário como para a imagem internacional da Varig -que o governo tem interesse em preservar.
Outra forma de pressão é a intervenção, mas essa não é a intenção do governo. Conforme a Folha apurou, o governo prefere falar e ameaçar com essa hipótese a
realmente adotá-la. Pelo simples
motivo de que seria assumir os
graves problemas sem solução da
atual Varig: as negociações com
os credores internos e internacionais, as questões trabalhistas e sobretudo as lutas internas.
O cronograma da fusão com a
TAM, portanto, é este: resolver a
questão legal, neutralizando as liminares; garantir a posse efetiva
da diretoria pró-fusão; assinatura
do termo de compromisso definitivo entre TAM e Varig e, finalmente, a implementação dos mecanismos financeiros que dêem
impulso à nova companhia que
será criada. Só aí vai entrar, se vier
a entrar, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Na avaliação do governo, é importante isolar a Varig, sua bandeira, sua história e seus quadros
da deterioração da Fundação Ruben Berta, responsável pela companhia.
A questão aérea é considerada
estratégica, além de economicamente importante: a Varig injeta
no país em torno de US$ 1,4 bilhão por ano em passagens internacionais. Se parar de voar, o prejuízo para as contas externas do
país será de US$ 2,8 bilhões (somando o que deixa de entrar com
o que vai passar a sair para companhias estrangeiras).
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