São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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Lula teme que inflação contamine eleições

KENNEDY ALENCAR
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado com a possibilidade de eventual descontrole inflacionário contaminar a sua sucessão em 2010. Teme especialmente uma espécie de troco do PSDB: discurso de que o governo petista poderá deixar uma "herança maldita" na economia, o que poderia afetar a chance do candidato ou candidatos do campo lulista à Presidência.
Ontem, o presidente disse que impedir que a inflação volte é "questão de honra" e que o governo tomará as medidas necessárias. "Se alguém imagina que a inflação vai voltar, como já aconteceu no Brasil, pode tirar o cavalo da chuva, porque não vai voltar. Nós tomaremos todas as medidas que forem necessárias para que a gente mantenha a inflação controlada."
Lula criticou empresários, que estariam se aproveitando do momento para reajustar preços. "Lamentavelmente, alguns setores aproveitam o momento em que o povo está consumindo para aumentar preço, e nós precisamos cuidar disso com muito carinho", afirmou.
Em conversas reservadas no mês de maio, Lula chegou a dizer que já podia ver o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizendo nas eleições de 2010 que o PT desorganizara a economia, legando inflação em alta, crescimento econômico em queda e risco de crise cambial devido a um real valorizado na comparação com o dólar.
Essas avaliações levaram o presidente a elevar o superávit primário (economia do setor público para pagar a dívida) e a suspender a troca do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Em abril, quando Meirelles procurou Lula dizendo que pensava em deixar o banco em 2009 para disputar o governo de Goiás, o presidente disse que talvez fosse melhor antecipar a mudança. O presidente do BC ficou surpreso e começou a dizer a pessoas próximas que deixaria o cargo.
No entanto, Meirelles foi salvo por uma crise econômica: a disparada da inflação naquele momento levou Lula a desistir da mudança. O presidente avaliou que a troca poderia contaminar as expectativas de inflação e que poderia indicar algum relaxamento na intenção de combater a alta dos preços.
A Folha apurou que havia duas opções na cabeça de Lula: indicar o diretor de Normas do Banco Central, Alexandre Tombini, que tem se dado melhor com a Fazenda nas discussões econômicas, ou tentar convencer o relutante economista Luiz Gonzaga Belluzzo a assumir o posto.
Na hipótese Belluzzo, a Folha apurou que o superávit primário seria elevado para, ao menos, 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto), como forma de evitar reação negativa do mercado a um economista visto como desenvolvimentista e descrito por ele próprio como "keynesiano". Belluzzo defende aperto fiscal até maior nas reuniões internas do governo, das quais participa na condição de conselheiro. Lula já o convidou a assumir postos na área econômica, mas ele recusou.
Na alternativa Tombini, o governo avalia que o mercado receberia bem. A quase saída de Meirelles foi muito influenciada pela péssima relação dele com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os dois sempre se estranharam, mas na virada de abril para maio, quando o Brasil recebeu o grau de investimento, os dois viveram seu pior momento, segundo apurou a Folha.


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