São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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Brasil lidera em aperto contra a inflação

Para analistas, o BC brasileiro aparece como o mais agressivo no combate à alta de preços entre os países emergentes

Memória inflacionária e reforço na credibilidade forçam BC brasileiro a ser mais conservador com juros, dizem economistas

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central brasileiro desponta como um dos mais agressivos do mundo em sua política de combate à inflação, segundo analistas. Conservador, o BC de Henrique Meirelles foi um dos primeiros a elevar os juros, ainda em dezembro, quando havia dúvidas se a inflação mundial era só um soluço ou uma ameaça duradoura. Criticada à época, a receita foi depois seguida em todo o mundo, com exceção hoje só do Federal Reserve [o BC dos EUA], que ainda está mais preocupado com a crise.
Para analistas ouvidos pela Folha, o BC brasileiro teve o mérito de acertar primeiro no diagnóstico da doença e de tomar mais cedo ações preventivas. O dividendo é que a expectativa de inflação brasileira ainda está baixa, em 6,53%.
Entre os países emergentes, só o Chile e o Peru tiveram uma ação considerada também agressiva no controle à inflação. Na Ásia, só recentemente os BCs acordaram para a necessidade de elevar suas taxas. Entre os Brics, Rússia, Índia e China não têm uma taxa básica de juros, que são definidos na rolagem da dívida pública, que começa a ter taxas mais altas.
O Chile iniciou o aumento nas taxas em janeiro -de 6% até 7,25% em julho-, mas a inflação deu uma guinada para 9,5% em 12 meses. O Peru, que fez quatro elevações de 0,25 ponto, conseguiu segurar a inflação em 5,7%. Na região, perderam o controle a Argentina e a Venezuela, que não subiram os juros, e convivem com inflação em 12 meses de 9,3% e de 21%, respectivamente.
"México, Peru, Colômbia e Chile falavam que o Brasil estava errado e era muito conservador. O que aconteceu é que todos eles perderam a meta de inflação. O Brasil pagou um preço em dezembro por ser conservador e agora está arrecadando, enquanto esses países estão aumentando os juros e o impacto na inflação vai ser sentido só no ano que vem", disse Vitoria Saddi, analista da consultoria americana RGE Monitor.
Para Ricardo Amorim, economista da área de países emergentes do West LB, o BC brasileiro tem de ser mais conservador porque sua credibilidade ainda é menor do que a do chileno, por exemplo. Amorim lembra que, apesar de a inflação no Chile estar em quase 10%, a expectativa para 12 meses está em 4,5% -a meta é de 3%. Já no Brasil, a meta é de 4,5%, mas a previsão é de 6,53%. "Num regime em que as expectativas de inflação estão bem ancoradas, os formadores de preço acreditam que a inflação futura vá ser igual à meta. Uma das razões pelas quais o BC brasileiro tem de ser mais conservador é que, no Brasil, a inflação subindo um pouco já cria uma paúra generalizada. Não é só memória indexadora. É uma credibilidade menor", disse.
Para Jason Vieira, economista da UpTrend, o BC brasileiro é mais conservador para descer as taxas do que para subir. Ele afirma que, enquanto os cortes nos juros foram de 0,25 ponto, as altas foram de 0,75 e de 0,5 ponto. "Agora, o BC pode ser ainda conservador, mas queimando menos cartucho [com aumento de juro]. Inflação de alimentos não se resolve com política monetária. O mundo precisa se acostumar com taxas de inflação um pouco mais altas porque o crescimento é maior. A capacidade produtiva global mudou. As metas de inflação são muito baixas. É um paradigma que precisa ser reavaliado", disse Vieira.
"A diferença é que o Brasil começou de um nível um pouco mais alto de juros e vem sendo um pouco mais agressivo. De fato, é quem está lidando um pouco melhor com a questão. No caso brasileiro, a inflação demorou mais para se acelerar. E, nos últimos três meses, tem se acelerado mais do que a média mundial", disse Amorim.
O economista Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset, discorda da tese de que o BC brasileiro foi mais ágil e conservador. "Não foi o BC que foi mais rápido, foi a crise que chegou aqui depois. O nosso BC estava atrás da curva no ciclo de corte de juros. Quando a curva se inverteu, parece que ele estava na frente dos outros BCs."


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