São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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MERCOSUL
Estimativa oficial para 99 passa de 1,5% para 3% de queda do PIB; governo culpa mercado mundial
Recessão argentina é mais profunda

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

O governo argentino admitiu que a recessão do país será o dobro da anunciada anteriormente. Depois de rever as estatísticas, o Ministério da Economia anunciou que o PIB (total de riquezas produzidas por um país) deverá cair 3% este ano. A previsão anterior era de uma queda de 1,5%.
A decisão de rever o tamanho da recessão foi tomada pelo ministro da Economia, Roque Fernández, depois que a recuperação econômica esperada para o segundo trimestre do ano não aconteceu. O governo Menem contava com uma melhora dos indicadores de produção ao longo do segundo trimestre, e uma reversão completa da crise no segundo semestre.
Segundo dados do Indec (instituto de estatísticas oficial), a queda da produção industrial foi maior no segundo trimestre que no primeiro. As quedas foram, respectivamente, de 11,4% e 8,4%. Apenas no mês de junho a produção industrial caiu 12,4%, com relação ao mesmo mês do ano passado, segundo o Indec.
Para o próximo semestre, "os indicadores de produção seguem mostrando uma situação de estancamento", disse Rogelio Frigerio, secretário de Planejamento Econômico.
De acordo com o documento, a diminuição do ritmo de crescimento do mundo e a queda dos preços internacionais dos produtos de exportação argentinos são as principais causas do piora da recessão.
Segundo os dados apresentados, este ano, o mundo deverá pagar 10% a menos pelos produtos exportados pela Argentina.

Risco
Mas o secretário de Programação Econômica admitiu que o crescimento do risco-país, por questões internas, também influenciou o comportamento econômico.
Segundo ele, a taxa de juros paga pela Argentina cresceu mais que proporcionalmente à taxa de juros paga pelos demais países emergentes.
O aumento das taxas de juros, relacionado com uma crescente incerteza sobre o futuro econômico da Argentina, fez com que os fluxos de capitais, investimentos e consumo diminuíssem no país.
Haverá eleição presidencial em novembro, e os candidatos mais fortes, incluindo o do partido do presidente Menem, fazem críticas à política econômica atual.
Com a atual estimativa de recessão, os números oficiais se aproximam das expectativas de consultorias privadas. Os principais analistas argentinos estimam uma queda do PIB entre 2,5% e 4% para este ano.
Hoje, o PIB argentino está próximo do nível de meados de 1997 e deverá continuar assim até o final do ano, já que o ministério espera crescimento zero no segundo semestre. Com relação ao início da década, houve um crescimento de cerca de 50%.

FMI
Segundo Frigerio, mesmo com uma queda mais acentuada do PIB, o mercado não precisa se preocupar com um aumento do déficit público. O secretário argentino afirma que não será necessário rever as metas estabelecidas com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
A queda da arrecadação, que reflete sobre o déficit público, será compensada pela entrada de recursos das vendas de concessões a operadoras de celular, disse ele.
A meta de déficit público acertado com o Fundo é de US$ 5,1 bilhões. As principais consultorias do país apostam que a Argentina terá que negociar com o Fundo um nova meta. As estimativas privadas variam de US$ 5,45 bilhões a US$ 6,8 bilhões de déficit.


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