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LUÍS NASSIF
A FAB e os jatos russos
Na próxima licitação para
a compra de caças pela
FAB (Força Aérea Brasileira) é
curiosa a questão do MIG-29.
Praticamente todos os competidores o tratam como um dos
projetos mais avançados e mais
apropriados ao Brasil. Segundo
essas avaliações, possui mísseis
de uma geração à frente dos demais.
Além disso -segundo informa o leitor Doug Venan-, tem
também uma versão naval, com
peso operacional compatível
com o porta-aviões São Paulo, o
que permitiria o uso em situações de contingência.
Os concorrentes criticam outros aspectos do modelo. Haveria dificuldades de manutenção,
falta de estrutura de peças de reposição e dificuldades com financiamentos. O leitor, por seu
lado, identifica nessas fragilidades pontos que poderão ser vantajosos em negociações.
Dada a situação atual da Rússia, pode-se investir na possibilidade de produzir o avião internamente sob licença e sem nenhuma restrição de transferência de tecnologia. Bem negociado, se poderia até conseguir a
tecnologia de motores, melhorando internamente o projeto,
graças ao conhecimento adquirido pela Embraer no período.
Segundo o leitor, alguns anos
atrás os russos chegaram a propor trocas comerciais, aceitando
o pagamento de material militar com commodities ou produtos industriais, dada a flagrante
escassez de divisas do país. Conclui o leitor que, politicamente,
uma negociação desse tipo daria ao país real soberania na
área, além de ampliar as relações diplomáticas e comerciais
com um país importante.
Trata-se de mais uma visão
relevante que divulgo, como
contribuição a esse debate.
Lobbies
É malicioso, mas pouco eficaz,
o lobby dos grandes fabricantes
internacionais de aviões, candidatos ao programa F-X da FAB,
de compra de jatos. Há um movimento crescente de opinião
pública de substituir a licitação
por compras diretas da Embraer, com base em um conjunto de argumentos relevantes. É
empresa nacional, a fabricação
seria aqui, haveria a geração interna de empregos, a absorção
de tecnologia pelo país e tudo o
mais.
Para compras dessa magnitude, qualquer país do mundo dá
prioridade para a própria indústria local, porque é a indústria local que contrata trabalhadores locais, encomendas locais
e paga impostos localmente. Esse movimento é suprapartidário
e supra-ideológico e tem a adesão de políticos como Paulo Delgado (PT-MG), Roberto Freire
(PPS-PE) e Luiz Antônio Fleury
Filho (PTB-SP).
Para o lobby das multinacionais, no entanto, a Embraer não
é empresa nacional, por ter sócios minoritários estrangeiros.
Por esse prisma, a Usiminas dos
anos 80 não o era, como não o é
a Sadia, a Gerdau ou qualquer
empresa com ADRs em Nova
York.
Nem se pretenda discutir conceitos de política industrial mais
complexos, como o fato de que a
absorção de tecnologia internamente irá beneficiar o país como
um todo. Nem se peça que entendam conceitos industrialistas correntes, como os de que o
desenvolvimento de produtos e
tecnologia internamente, ainda
que por parte de multinacionais, agrega muito mais valor
ao país do que o mesmo produto
desenvolvido na matriz. Há toda uma rede de fornecedores
que é beneficiada, há conhecimento sofisticado que é transferido para a cadeia de produção,
há a contratação de institutos
de pesquisa nacionais, criando
a massa crítica para a atração
de novas empresas.
O papel de uma licitação deve
ser apenas o de balizar os preços, para evitar abusos.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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