São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2001

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TROCA DE COMANDO

Quarto ministro do Desenvolvimento de FHC repete antecessores e diz que venda externa é o que interessa

País pede choque de exportação, diz Amaral

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O quarto ministro do Desenvolvimento do governo Fernando Henrique Cardoso, embaixador Sergio Amaral, 57, assumiu ontem o cargo com o mesmo discurso de seus antecessores: dar ênfase total às exportações, eliminar barreiras, abrir caminho para a reforma tributária e adotar uma política industrial ativa.
Amaral encerrou seu discurso de posse afirmando que "o Brasil precisa de um choque de exportação".
A frase de efeito substituiu a declaração de impacto do ex-ministro Alcides Tápias, feita em setembro de 1999, durante sua posse, de que seria o guerrilheiro da reforma tributária. Tápias não compareceu à posse de Amaral, mas enviou a FHC carta de "apoio e felicitações" ao novo ministro.
As ambições do novo ministro contam, porém, na opinião de analistas do governo e empresários, com a vantagem de Amaral ser um articulador político e ter bom relacionamento em todas as áreas do governo, inclusive no Ministério da Fazenda.
A promessa de que, desta vez, o governo estará bem articulado para levar a cabo os projetos de desenvolvimento industrial e aumento das exportações esteve implícita no discurso de Amaral.
"Teremos pequena credibilidade perante os empresários se lhes dissermos que assumam novos riscos e se lancem em mercados cada vez mais competitivos, se não conseguirmos nos entender sobre questões fundamentais, legítimas e ao nosso alcance, como é o caso da desoneração das exportações."

Falta de consenso
A falta de consenso do governo com relação à política industrial e sobre os impostos de comércio tem sido o principal empecilho para a adoção de políticas de desenvolvimento econômico. O ex-ministro Tápias, que deixou o cargo no dia 31, teve vários atritos com o Ministério da Fazenda, principalmente com o secretário da Receita, Everardo Maciel.
O projeto de provocar um choque de exportação também foi perseguido pelos antecessores de Amaral. Em 1998, durante a campanha eleitoral, o então candidato Fernando Henrique Cardoso incluiu no programa a meta de dobrar as exportações de US$ 50 milhões para US$ 100 bilhões até o fim de 2002. Hoje é consenso no governo que a meta não será alcançada.
Amaral prometeu também apoiar indústrias com alto potencial exportador e a substituição de importações de setores deficitários como petróleo, químico e farmacêutico, eletro-eletrônicos e de bens de capital. Segundo ele, juntos, esses quatro setores respondem por um déficit comercial de US$ 20 bilhões por ano.
O Ministério do Desenvolvimento foi criada no início do segundo mandato de FHC para o então presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros, que não chegou a assumir por causa do escândalo do grampo no BNDES. O objetivo era dar equilíbrio à sua administração reforçando a ala desenvolvimentista do governo
O atual ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, acabou assumindo a pasta, mas permaneceu no cargo por apenas seis meses. O chanceler foi substituído pelo então ministro da Casa Civil Clóvis Carvalho, que teve de deixar o cargo depois de classificar a política do ministro da Fazenda, Pedro Malan, de "covarde", durante uma entrevista.
Amaral é diplomata de carreira e era o atual embaixador do Brasil no Reino Unido, cargo que assumiu após deixar a Secretaria de Comunicação Social do governo FHC. Ele também foi negociador da dívida externa brasileira.



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