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OPINIÃO ECONÔMICA
O capitão e suas batalhas
BENJAMIN STEINBRUCH
Todos os que lutam pela redução dos juros para impulsionar os investimentos e o crescimento econômico no país perderam algumas batalhas neste ano,
mas ainda não perderam a guerra. O Banco Central vem mantendo a taxa Selic em 16% desde
abril, uma aberração inexplicável, que segura os juros reais básicos na casa dos 10% ao ano.
A guerra contra os juros altos
continua. Em setembro, o Banco
Central vai reavaliar a Selic e, diz
o mercado, dá indicações de que
poderá elevá-la (inacreditável!).
Também em setembro haverá outra batalha, esta no Conselho Monetário Nacional, tão importante
quanto a do BC, porque no CMN
será decidida a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) para o quarto trimestre do ano.
A TJLP tem fundamental importância na política de apoio ao
desenvolvimento das empresas de
capital nacional por uma razão
simples: ela é aplicada nos quase
450 mil financiamentos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e
Social), principal agente financeiro para créditos de longo prazo no
país.
Em junho, a despeito da pressão
em favor de uma redução da
TJLP no terceiro trimestre, o Conselho Monetário Nacional a manteve em 9,75% ao ano. Para que
as entidades empresariais se manifestassem a favor da redução,
foi preciso entrar em campo o capitão Carlos Lessa, presidente do
BNDES, que publicamente reclamou da indiferença de lideranças
das federações das indústrias de
São Paulo, do Rio e de Minas Gerais em relação ao assunto.
Lessa defendia e continua a defender uma redução da TJLP para 8% ao ano. Não se justifica essa taxa de 9,75%, porque a TJLP é
fixada com base na inflação futura. Como a meta de inflação para
2005 está fixada em 4,5%, conclui-se que a taxa de juros de longo prazo representa mais que o
dobro da inflação prevista.
A batalha por juros menores
não pertence só a Carlos Lessa, a
Darc Costa e às entidades empresariais de classe. Ela deve ser de
todos, empresários ou não, que
acreditam no capital nacional como fator de desenvolvimento.
Não se pode arrefecer a luta só
porque a economia entrou em
crescimento. Ao contrário, a manutenção do crescimento exige
investimentos e decisões de tocar
projetos há anos engavetados pelo setor privado. Com uma taxa
de juros mais favorável, embora
nunca subsidiada, haverá maior
estímulo para que as empresas tomem essas decisões.
Não é segredo para ninguém
que o aumento da demanda já
traz problemas de abastecimento
de bens intermediários na área
industrial. Gargalos existem em
muitos setores, como os de papel e
celulose, siderurgia e borracha.
No seu conjunto, a indústria já
usa quase 85% de sua capacidade
instalada, numa demonstração
evidente de que o país precisa de
investimentos.
Todos devem, portanto, aceitar
e apoiar a liderança desenvolvimentista e nacionalista da direção do BNDES nessa batalha pela
redução da TJLP. No fundo, trata-se de uma ação que contraria o
sistema bancário, ao qual não interessa a redução da taxa de juros
para investimentos.
Empresários nacionais que resistiram e mantiveram o controle
de suas empresas durante o longo
período de vacas magras podem
ser considerados heróis. Agora
que a economia retoma a expansão e surge a urgente demanda de
investimentos, é justo que tenham
o apoio financeiro para tocar seus
projetos e recuperar posições perdidas para o capital estrangeiro.
Isso não é privilégio nenhum.
Cabe ao Conselho Monetário
Nacional decidir sobre a TJLP. Infelizmente, a representatividade
do CMN está longe de ser a ideal,
porque seus membros são todos
do governo: os ministros do Planejamento e da Fazenda e o presidente do Banco Central. Por ironia, em momentos menos democráticos da vida brasileira, o
CMN já teve melhor representatividade, com membros do setor
privado. De qualquer forma, espera-se que tome em setembro
uma decisão menos voltada para
os umbigos do conservadorismo
monetário.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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