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LUÍS NASSIF
Uma visão
sobre Vargas
O desenvolvimento de
um país é composto por
etapas que se sucedem e se superam permanentemente. Cada etapa traz um conjunto de
novas forças que se estabelecem, se consolidam e, depois de
completado o ciclo, tornam-se
os maiores fatores de resistência para a passagem para a
etapa seguinte. Cabe ao estadista identificar o novo e criar
as condições políticas para a
superação do velho e o início
da nova etapa.
O estadista não é o pensador,
é o que faz. Vale-se muito mais
da intuição do que da teoria,
das idéias existentes do que
das suas próprias idéias. A
construção do seu projeto é o
resultado da intuição para o
novo e das saídas políticas que
encontra para os impasses do
dia-a-dia.
Foi o que Getúlio Vargas fez
permanentemente. O Vargas
dos anos 30 se valeu do início
da criação da nacionalidade, a
partir dos tenentistas, da Semana de 22 e dos pensadores
que, nos anos 30, escreveriam
as obras clássicas sobre o país.
Estava preocupado em criar
uma burocracia profissional,
formas de regulação da ação
do Estado e substituição incipiente das importações.
Com o Estado montado, o
Vargas dos anos 50 se via em
condições de criar a grande
empresa nacional para investir em infra-estrutura. Foi estatal por absoluta falta de capitais privados, não por opção
ideológica. O estadista não é
um ideólogo, é um animal político com faro especial para
analisar a realidade e encontrar novos caminhos. Quem
pensou as formas de financiamento da Petrobras foram Horacio Lafer, o patriarca dos
Klabin, Roberto Campos e
Glycon de Paiva, justamente a
ala internacionalista de Vargas.
Ao lado dela, havia uma ala
nacionalista, de uma assessoria econômica composta por
nomes que ele foi buscar com
Roberto Simonsen, o maior dos
industrialistas brasileiros
-composta por Rômulo de Almeida, Cleantho de Paiva Leite e Jesus Soares Pereira, esse filho direto da profissionalização do serviço público. O projeto de Petrobras, pensado por
Rômulo, previa a estatal, mas
não o monopólio -que foi instituído pela UDN liberal de Bilac Pinto.
Isso posto, não se pode entender o varguismo como um conjunto de conceitos estáticos e/
ou ideológicos. A sua ideologia
era a do desenvolvimento. As
ferramentas, as que tivesse à
mão.
Com a infra-estrutura encaminhada, seu herdeiro político, Juscelino Kubitschek, promoveu a atração de capitais
produtivos internacionais. Assim como Vargas, JK se valia
da intuição e do pragmatismo
para escolher as grandes idéias
de seu tempo e montar o pacto
político capaz de transformá-las em ação.
Não dá nem para desqualificar nem qualificar sua obra
econômica pelo fato de ter sido
um ditador. Hitler foi um inovador fantástico e um ditador
sanguinário.
Vargas foi o maior estadista
brasileiro do século e foi um ditador sanguinário, filho da
cultura violenta, dos gaúchos
da fronteira, que aprenderam
a lavar a honra com sangue.
Ainda adolescentes, ele e os irmãos participaram do assassinato de um colega em Ouro
Preto, quando lá estudavam.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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