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INVESTIGAÇÃO
Decisão foi tomada após Folha revelar que pedido de liberação era falso
Receita anula norma que
dava brecha a caça-níqueis
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal anulou a norma que permitiu classificar as máquinas de jogos de azar -caça-níqueis, videobingos e videopôquer- sob a mesma classificação
de computadores comuns. A decisão foi publicada ontem no
"Diário Oficial" da União.
A anulação ocorreu dez dias
após a Folha ter publicado reportagem revelando que era falso o
pedido que levou a Receita a criar,
em dezembro de 2002, a solução
de consulta nš 9 (SC-9), a norma
que permitiu essa classificação.
A Corregedoria da Receita e o
Ministério Público Federal (DF)
investigam desde janeiro deste
ano suposto esquema de corrupção para facilitar a importação de
equipamentos para jogos de azar.
A reportagem mostrou que era
falso o pedido da Febralot (Federação Brasileira das Empresas Lotéricas) para classificar as máquinas de jogos de azar -descritas
como terminais de captação de
apostas- no mesmo código usado para os computadores.
Nas investigações, Ministério
Público e Corregedoria descobriram que a assinatura do presidente da Febralot, Paulo Leonel Michielon, havia sido falsificada. A
Folha publicou os documentos
que mostravam a falsificação. Michielon confirmou que não havia
sido o autor do pedido e informou
que a falsificação de sua assinatura chegava a ser "ridícula".
A anulação da SC-9 foi decidida
na semana passada pelo secretário
da Receita Federal, Jorge Rachid,
segundo informa Ronaldo Lázaro
Medina, coordenador-geral da
Coana, que assinou a criação e a
anulação da norma. "Após a reportagem, o secretário pediu informações à Corregedoria da Receita. Com a confirmação de que a
assinatura era falsa, a decisão foi
considerar todo o processo nulo."
De acordo com Medina, ao anular a norma, a Receita impede que
qualquer empresa justifique a importação dessas máquinas usando
a classificação dos computadores.
"Tecnicamente, essa solução não
pode ser mais citada em nenhum
processo de importação."
As investigações do Ministério
Público e da Corregedoria indicam que a norma beneficiou exploradores de jogos de azar no
país e que a mudança na classificação fazia parte de um plano para trazer, 200 mil máquinas por
esse novo código ao custo de US$
1,2 bilhão -US$ 6.000 por unidade. Os depoimentos são mantidos
sob sigilo pelos procuradores.
O plano foi descoberto quando
auditores da Receita no Rio barraram a entrada de dez máquinas de
jogos da IGT (fabricante norte-americana de equipamentos para
cassinos e bingos) no aeroporto
Tom Jobim do Rio de Janeiro, em
fevereiro de 2003. Essas máquinas
estavam sendo importadas pela
Recomex, de Santa Catarina.
O assunto foi à Justiça. Os auditores conseguiram no Tribunal
Regional Federal do Rio de Janeiro a apreensão das máquinas para
que fossem destruídas.
"A Recomex fez a importação
porque a IGT, que é a fabricante
das máquinas apreendidas, não tinha inscrição no Siscomex [sistema que registra e aprova automaticamente exportações e importações]", diz Marcos Pinheiro de Lemos, um dos advogados da Recomex no escritório Daudt, Andrade e Castro Advogados.
Ao ser informado que a SC-9 havia sido anulada, o advogado disse
que o "ideal, nesse caso, é que essas máquinas voltem ao seu país
de origem [os Estados Unidos]".
"Burros n'água"
"Se existia um plano mirabolante com a SC-9 para importar máquinas caça-níqueis, ele [o plano]
deu com os burros "n'água". É como uma pessoa que deve para a
Receita querer trocar de nome para escapar do pagamento do Imposto de Renda", diz Medina.
Para o ex-secretário da Receita
Everardo Maciel, a anulação da
SC-9 não deve encerrar as investigações. "Por trás do pedido falsificado, estão atitudes suspeitas."
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