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POLÊMICA
Agricultores querem ação mais rápida do governo, que afirma já ter feito sua parte, ao enviar projeto ao Congresso
Produtor pede MP para algodão transgênico
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A produção de algodão, que sofreu forte baque a partir do final
da década de 80 no Brasil, voltou
com força nos últimos anos. Neste ano, a safra deverá superar em
310% o baixo volume de apenas
306 mil toneladas de pluma em
1997, quando o país teve a pior colheita das últimas décadas.
Dois problemas, no entanto,
preocupam os produtores para a
próxima safra: um externo, outro
interno. O externo é a previsão de
queda nos preços internacionais
devido à alta da safra mundial.
Já no mercado interno a nova
instabilidade vem da descoberta
de algodão transgênico em algumas fazendas de Mato Grosso. O
plantio é proibido, e o governo
promete agir contra esse cultivo.
Para os produtores, são necessárias definições mais rápidas do
governo nesse setor. Já o governo
diz que fez sua parte, enviando o
projeto da Lei de Biossegurança
para o Congresso e que agora é
com os deputados e senadores.
Hélio Tollini, diretor-executivo
da Abrapa (Associação Brasileira
dos Produtores de Algodão), diz
que falta lógica no procedimento
público, que não aceita o resultado de pesquisas de outros países
mas também não faz pesquisas
internas.
A verdade é que os produtores
de algodão caminham pela mesma trilha dos de soja: o plantio de
transgênico sem uma regulamentação específica. Diante dessas indefinições, os produtores querem
uma medida provisória permitindo o plantio para a safra 2004/5.
Maçao Tadano, secretário da
Defesa Agropecuária, diz, no entanto, que "não é intenção do governo editar novas medidas provisórias". Segundo ele, "até o final
de setembro o Senado deverá votar o projeto, que será sancionado
imediatamente pelo governo Lula, ainda em tempo de o produtor
efetuar o plantio."
O setor agrícola não conta, no
entanto, como certa essa votação
devido ao apertado calendário do
Congresso neste ano eleitoral.
Essa indefinição preocupa o
produtor e presidente da Ampa
(Associação Mato-grossense dos
Produtores de Algodão), João
Luiz Ribas Pessa. Os produtores
estão indo às compras de sementes e outros insumos e não podem
entrar no plantio com o perigo de
ter a lavoura interditada, diz ele.
Sem uma regulamentação nesse
setor, Pessa diz que o Brasil pode
perder a auto-suficiência na produção novamente. E o que é pior,
vai importar algodão transgênico.
Redução de custos
Três fatores recolocaram o Brasil no cenário mundial do algodão: queda nos custos de produção, qualidade do produto e mudança de região de plantio. No final da década de 80, o bicudo,
praga que atacou os algodoais
brasileiros, elevou tanto o custo
que inviabilizou o plantio.
Nesse período, a participação
do governo foi desastrosa, na opinião de Tollini, ao liberar as importações. Essa liberação provocou forte redução na área plantada. A recuperação veio na metade
da década passada, com a mudança de plantio do Sul e do Sudeste para o Centro-Oeste.
A produção se profissionalizou,
os investimentos aumentaram e a
atividade passou a ser exercida
por grandes produtores. Com essa mudança, foi possível elevar a
qualidade do produto, que hoje
tem completa rastreabilidade.
Para manter competitividade
no mercado externo, o país tem
de continuar a trabalhar com custos baixos, e o transgênico é o caminho a ser seguido, diz Tollini.
"Ou o país adota o transgênico ou
está fora do mercado no caso do
algodão. Foi o caminho seguido
pelos nossos concorrentes."
Mas os produtores têm outro
desafio pela frente: safra mundial
recorde, recomposição dos estoques e queda nos preços. Djalma
Fernandes de Aquino, analista da
Conab, diz que o produtor deve
ficar bem atento a esses dados internacionais, principalmente porque quando for semear a safra
2004/5, as lavouras no Hemisfério
Norte já estarão definidas.
Um dos sinais da desaceleração
no setor são os contratos de vendas externas, que ainda somam
165 mil toneladas. Nesse ritmo, o
país deve exportar o mesmo volume (440 mil toneladas) deste ano.
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