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EM TRANSE
Matrizes temem perder mais; empresas adiantam pagamento de dívida
Remessa antecipada de lucro para o exterior piora crise
ÉRICA FRAGA
ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Remessas antecipadas de lucros e dividendos para o exterior e adiantamento de pagamentos de dívidas externas têm sido dois fatores importantes de pressão sobre a cotação do dólar.
Mesmo com o valor da moeda norte-americana nas alturas, algumas empresas multinacionais estão preferindo remeter logo os
recursos que podem para suas
matrizes, com receio de que o dólar suba ainda mais.
Normalmente, o envio de lucros
e dividendos ocorre no último trimestre do ano. Mas, com o temor
de que o candidato do PT à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva,
ganhe a eleição ainda no primeiro
turno, a ordem das matrizes tem
sido a de antecipar todas as remessas possíveis.
"As empresas estão antecipando as remessas com medo de que
o dólar suba mais e, com isso, acabam causando ainda mais pressão sobre a moeda", diz Flávio Farah, diretor de tesouraria do
WestLB Banco Europeu.
Bancos e empresas que têm empréstimos externos vencendo no
último trimestre do ano, como
eurobônus, continuam adiantando a compra de dólares. Muitos
deles estão, inclusive, preferindo
quitar de uma só vez suas dívidas
futuras.
"O raciocínio é que é melhor
comprar agora pagando caro do
que correr o risco de o mercado ficar ainda pior depois das eleições", observa Marcos Souza Barros, presidente da comissão de
câmbio da Ancor (Associação
Nacional das Corretoras de Valores, Câmbio e Mercadorias).
Em períodos de tranquilidade,
essas dívidas seriam renegociadas
e jogadas para frente. Como o cenário é nebuloso e o crédito para o
Brasil praticamente secou, a
maior parte deverá ser liquidada
antes ou, no máximo, na data do
vencimento.
Segundo Clive Botelho, diretor
de tesouraria do Banco Santos, os
vencimentos somam, em outubro, US$ 2,1 bilhões, em novembro, US$ 1,1 bilhão e, em dezembro, US$ 3 bilhões.
Barros cita ainda que alguns investidores estão remetendo dinheiro para fora para cobrir prejuízos nos mercados externos.
CC-5
Embora menor que no mês anterior, também continua o movimento de fuga de recursos de investidores por meio da chamada conta CC-5. O principal temor
desses investidores, segundo analistas, é que um eventual governo
de oposição decida adotar mecanismos de controle de capital,
proibindo o fluxo livre de entrada e saída de dólares do país.
Operações feitas no chamado mercado de balcão em Nova York
também vêm contribuindo para a disparada do dólar no Brasil. Segundo operadores, há investidores, principalmente estrangeiros, que querem proteger ativos que
possuem em reais ou apenas especular. Por isso, estão partindo
para a compra de dólares no mercado futuro norte-americano de
balcão, no qual os negócios são fechados pelo telefone sem a coordenação de uma Bolsa de Valores.
Para atender à demanda desses investidores, instituições financeiras que atuam no Brasil vêm comprando dólares à vista aqui e vendendo a moeda norte-americana no mercado futuro lá fora.
Segundo operadores, o forte aumento dessas operações lá fora tem sido provocado pelo temor de insolvência no mercado de capitais brasileiro.
Conforme o diretor de um banco estrangeiro, mesmo somadas, todas essas fontes de saídas de recursos não formam um valor expressivo. Mas, como há poucos negócios ocorrendo no mercado agora, qualquer movimentação acaba pressionando o dólar.
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