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INVESTIGAÇÃO
Punição foi por incluir brasileiros em fundo sediado em Cayman
CVM aplica multa ao Opportunity
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Chegou ao fim ontem um dos
mais rumorosos processos administrativos conduzidos pela CVM
(Comissão de Valores Mobiliários): a investigação contra o grupo Opportunity, acusado de burlar regras do Banco Central ao admitir brasileiros no fundo de investimento estrangeiro Opportunity Fund, sediado nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe.
Três instituições e dois executivos do Opportunity receberam
um total de R$ 480 mil em multas.
O banco ABN Amro (custodiante
do fundo) e seu executivo Carmine Rago foram multados individualmente em R$ 20 mil.
O advogado Francisco Müssnich, que defendeu o Opportunity, qualificou as multas de "educativas" e disse que vai entrar com
recurso no Conselho de Recursos
do Sistema Financeiro Nacional.
As punições foram aprovadas
por unanimidade pelo presidente
da CVM, Marcelo Trindade, e pelos diretores Eli Lória e Wladimir
Castelo Branco, que formaram o
júri. Os diretores Norma Parente
e Luiz Antonio Campos se declararam impedidos de votar por terem advogado em causas de interesse do Opportunity antes de assumirem seus cargos na CVM.
O julgamento atraiu advogados
e estudantes de direito que lotaram o auditório duas horas antes
do início da sessão. Trindade disse que estava triste por ver a sala
cheia e que o caso era "irrelevante" para o mercado de capitais.
Estavam na platéia os ex-presidentes da CVM Luiz Carlos Piva e
Luiz Octávio da Motta Veiga e o
advogado José Luiz Bulhões Pedreira, autor da lei que criou a
CVM e da primeira lei das sociedades anônimas, que defendem o
Opportunity em outros processos. A CVM e os advogados dos
acusados reclamaram de pressão
da mídia.
Embora tenha votado pela punição, Trindade minimizou a acusação contra o grupo Opportunity e sugeriu que outros bancos
fazem ou fizeram o mesmo.
"Duvido, com toda a intensidade de minha mínima inteligência,
que o Opportunity tenha sido o
único administrador a receber recursos de brasileiros em um fundo "offshore" [registrado no exterior]", disse Trindade.
A acusação
O processo contra o Opportunity nasceu a partir de informações prestadas, quatro anos atrás,
pelo empresário Luiz Roberto Demarco, ex-sócio do fundador do
Opportunity, Daniel Dantas, com
quem trava uma batalha judicial
em Cayman.
Demarco informou à CVM que
havia investido US$ 500 mil em
vários subfundos do Opportunity
Fund, de Cayman, em 1997, e que
o banco admitia brasileiros em
aplicações criadas para residentes
no exterior, com isenção de Imposto de Renda. Ele entregou à
CVM cópias de faxes, e-mails e as
planilhas das aplicações.
Em 2001, foi instaurado o inquérito. Mais de 50 pessoas foram
ouvidas. O Ministério Público Federal encaminhou à CVM uma
lista de 35 pessoas que, supostamente, haviam aplicado nos fundos exclusivos para estrangeiros.
Todos negaram a acusação.
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