São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Para elevar superávit primário no ano, governo manterá bloqueada verba para áreas como estradas e saneamento

Novo aperto exclui R$ 3 bi em investimentos

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Conseqüência imediata do aperto fiscal extra anunciado anteontem, por meio da nova meta de superávit primário, o governo decidiu manter bloqueados cerca de R$ 3 bilhões de investimentos públicos já autorizados pela lei orçamentária para 2004, o que corresponde a 25% do total. O ajuste prejudica sobretudo obras em estradas, de infra-estrutura hídrica e na área de saneamento.
Nenhum centavo extra será liberado na Esplanada, revela o relatório com a última revisão das projeções fiscais, encaminhado ao Congresso Nacional ontem à noite. As principais vítimas do ajuste fiscal são os ministérios dos Transportes, da Integração Nacional e das Cidades, pastas que haviam sido alvo dos principais cortes de verbas até aqui.
O relatório informa a expectativa do governo de arrecadar R$ 4 bilhões a mais até o final do ano em tributos e concessões para a exploração de petróleo. Parte desse dinheiro (R$ 1,580 bilhão) vai reforçar o superávit primário, a economia de gastos destinada ao pagamento de juros da dívida. O restante cobrirá despesas obrigatórias que também cresceram, como o pagamento de pessoal.
Segundo o relatório, as empresas estatais não participarão do aumento do aperto fiscal. Sua parcela de contribuição para o superávit será mantida em R$ 11,7 bilhões, o equivalente a 0,70% do PIB (Produto Interno Bruto).
A meta de superávit do setor público (União, Estados, municípios e estatais) subiu de 4,25% para R$ 4,5% do PIB. A diferença equivale a R$ 4,189 bilhões extras, suficientes para toda a obra de transposição das águas do rio São Francisco, prioridade do governo.
A decisão de não desbloquear mais uma fatia das verbas para investimentos que haviam sido congeladas por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro aparece em menos de três linhas do relatório divulgado ontem, de forma quase cifrada: "No caso do Poder Executivo, decidiu-se pela manutenção dos limites constantes no decreto nš 5.178, de agosto de 2004".
A frase contraria a expectativa de ministros de receber mais verbas no final do ano. Essa expectativa foi reforçada há menos de um mês pelo ministro Guido Mantega (Planejamento), na divulgação do projeto de lei do Orçamento para 2005, quando anunciou que o governo liberaria gastos diante do crescimento da arrecadação.
O relatório de ontem confirma o aumento da arrecadação. Descontadas as transferências para Estados e municípios, foram recolhidos R$ 4 bilhões além da mais recente expectativa do governo. Contribuíram para esse resultado a cobrança de Imposto de Renda de setores da economia que apresentaram crescimento, como montadoras de veículos, empresas de telecomunicações e metalurgia básica, e um aumento da arrecadação da Cofins.
Também foi contabilizado o resultado do leilão de concessões para exploração e produção de petróleo, realizado no mês passado. Além disso, a Cide (tributo sobre o consumo de gasolina) rendeu mais do que o esperado.
A arrecadação superou a expectativa, mas parte dela será consumida pelo aumento de gastos obrigatórios, sobretudo com pessoal (R$ 1,6 bilhão a mais). O relatório com a quarta e última revisão das projeções fiscais do ano informa que o Legislativo, o Judiciário e o Ministério Público, beneficiados com desbloqueio de verbas, poderão gastar R$ 19,3 milhões a mais até dezembro.


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