São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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Para Mantega, governo evitará "torrar dinheiro"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministério do Planejamento, Guido Mantega, disse que, para "não torrar dinheiro", o governo decidiu aumentar a meta de superávit primário deste ano. A medida elevará em R$ 4 bilhões a economia de recursos destinada ao pagamento de juros da dívida.
"Se você teve uma receita que extrapolou, que não era prevista, você corre o risco de "torrar o dinheiro", gastar de forma inadequada, não fazer o dinheiro render. Então, ao invés de gastar, você guarda", afirmou pela manhã, durante entrevista.
Mantega também afirmou que o novo superávit primário não cria um novo piso para o ajuste fiscal. "Esse novo superávit não cria piso nenhum. É a partir de uma situação específica que estamos vivendo neste ano que então resolvemos fazer isso", disse.
"Se a gente alocar de forma precipitada esse acréscimo de receita, você vai gastar mal porque você não fez um planejamento e [ia] jogar dinheiro pelo ralo, e o governo não quer fazer isso. Então vamos guardar este dinheiro, esses R$ 4 bilhões, porque estamos satisfeitos com o programa de investimentos", afirmou ele.
Segundo ele, o gasto tem de ser planejado. "A gente podia gastar tudo? Podia porque gastar dinheiro no setor público é fácil, mas o resultado não seria bom para a população. A gente não estaria gastando bem o dinheiro público", afirmou.
Com a decisão, afirmou o ministro, o governo começa a colocar em prática o princípio do superávit anticíclico: guardar mais recursos para pagamento de juros quando a economia está crescendo mais para gastar mais nos momentos de fraco desempenho econômico.
"É quase como se fosse o anticíclico. Porque é isso que é o anticíclico. Você tem uma receita excepcional que não tinha planejado e, em vez de gastar precipitadamente, você guarda. Então, você tem um cacife, você está guardando um trunfo. Este é o espírito do anticíclico", disse ele.
Mantega evitou relacionar a decisão de aumentar o superávit primário à alta dos juros. "Não tem nada a ver. Nós não estamos pensando em juros. É claro que você vai criar um cenário melhor para o país um ambiente mais favorável para todas as políticas."
A Folha apurou, porém, que o ministro Antonio Palocci (Fazenda) defendeu a medida como uma forma de atenuar eventuais novas altas na taxa de juros. Mantega afirmou ainda que o aumento na meta de superávit não irá reduzir o volume de gastos e investimentos previstos para este ano.

FMI
A decisão do governo foi elogiada ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
"As autoridades brasileiras têm se demonstrado dispostas a tomar medidas preventivamente quando necessário e sempre de forma apropriada e oportuna", disse o porta-voz do Fundo, Thomas Dawson, em Washington.
Ele afirmou ainda que "os resultados do Brasil seguem excepcionais e superam as expectativas de todo mundo, exceto, talvez, as de suas próprias autoridades".


Com agências internacionais

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