São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Brasil terá site de download de filmes, afirmam estúdios

Para vice de entidade que representa setor em Hollywood, país tem público para serviço

Representante dos maiores estúdios dos EUA diz que a pirataria pode crescer com a TV digital se não houver codificação do conteúdo

PAULA LEITE
DA REDAÇÃO

O Brasil tem público suficiente para um site legal de download de filmes e deve contar com um serviço em pouco tempo, diz Steve Solot, vice-presidente da MPA (Motion Picture Association, que representa os seis maiores estúdios dos EUA) para América Latina. Solot diz que a TV digital brasileira terá que ter codificação, senão será fácil piratear programas direto da "caixinha", ou "set-top box". Leia entrevista.  

FOLHA - Qual é a expectativa dos estúdios com a entrada de grandes "players" como Apple e Amazon na venda de downloads de filmes?
STEVE SOLOT
- É muito bom, é um passo importante para atender a uma demanda dos consumidores. Esse oferecimento do iTunes, da Amazon e de outros é uma tendência que ainda está no início, mas que está desorganizada. Está desorganizada por fora, nos sites, e está desorganizada também pelos provedores de conteúdo. Por exemplo, um problema que é óbvio é que os estúdios não estão completamente juntos e coordenados para oferecer todo o conteúdo em determinado site.

FOLHA - Por quê? É medo da pirataria ou estratégia de marketing?
SOLOT
- Era inicialmente o medo da pirataria e o medo da canibalização de outros mercados. Até este ano, o faturamento do setor de DVD nos Estados Unidos era muito, muito forte. E começou a nivelar. Então muitos executivos, não só de estúdios grandes mas de toda a cadeia de comercialização de vídeo, começaram a se preocupar. Aí começaram a olhar para novos formatos de DVD. Mas, até agora, esses novos formatos não foram tão bem recebidos pelo público. Então isso fez com que os estúdios e os outros players começassem a olhar para o "video on demand". Isso iniciou só com o download para computador, não podia "queimar" o filme, fazer um DVD e levar para a sua sala e assistir a isso no seu aparelho de televisão ou home theater. Agora se está começando, de forma incipiente, a permitir a transição do computador para a sala de estar.

FOLHA - Na América Latina e no Brasil, praticamente ainda não existe "video on demand", não é?
SOLOT
- Não, ainda não. Na verdade, fora dos Estados Unidos quase não tem. Mas isso não vai demorar, porque, já que se usa a plataforma de internet, não tem como você prender. Na verdade, o que nós não sabemos é como isso vai ser trabalhado. Pode ter que estabelecer uma versão do Movielink [site de venda de filmes dos EUA] brasileira.

FOLHA - Então o sr. acha que o que falta é a organização do setor? Ou existem outros problemas, como não haver público suficiente?
SOLOT
- Não, não, o Brasil tem público suficiente, sem dúvida. O número de usuários de internet no Brasil é suficiente para justificar isso, e em vários outros países da América Latina. O problema é a organização, e também o modelo de negócios. Porque esse modelo de negócios é baseado em DRM [Digital Rights Management, mecanismos de proteção dos arquivos] e um preço adequado. E o preço depende de muitos fatores da população, da renda per capita, de fatores locais.

FOLHA - O sr. falou no DRM. Que avanços já houve nessa área e o que falta para melhorar o mecanismo?
SOLOT
- Bom, o DRM é um dos dois componentes do modelo de negócios. A Microsoft oferece, por exemplo, uma tecnologia de DRM que permite controlar e dar instruções de quantas vezes pode tocar, se pode queimar. O problema é que outro componente é o preço. O DRM é inútil se o preço do produto não permite ao consumidor comprar.
O que ninguém está falando e que é importante é a possibilidade de piratear conteúdo da TV digital. Esse conteúdo, na TV digital, tem que ser codificado, porque existe o risco de alguém que recebe um sinal digital, por meio de uma saída digital do "set-top box" [caixa decodificadora] ou da televisão... É fácil conectar isso no computador, pôr na internet e, aí, "tchau". Aí não tem mais proteção, tanto para um filme quanto para uma novela. Então a Globo está começando a ficar preocupada com isso, e todos os canais também.


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