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OPINIÃO ECONÔMICA
A política industrial que não houve
ANTONIO BARROS DE CASTRO
José r oberto Mendonça de
Barros e Lídia Goldenstein
apresentaram em 1997 uma visão
otimista do que se passaria com
as empresas industriais brasileiras, em decorrência da abertura e
da estabilização.
Numa primeira fase elas testariam o mercado doméstico com
novos produtos (importados). Na
medida em que a resposta se revelasse favorável, elas passariam
para uma segunda fase, de investimentos. O passo seguinte, presumivelmente, seria o avanço das
exportações.
A mensagem principal era que
estavam sendo montados círculos
virtuosos do crescimento; o recado menos importante, mas politicamente muito oportuno para o
governo, era que o êxito requeria
algum tempo -o que os críticos
do processo não percebiam.
O texto (que estou citando de
memória) era sem dúvida estimulante e provocativo, e sua evocação hoje pode ser em mais de
um sentido útil. Primeiramente,
por fornecer um roteiro para indagações sobre o que, afinal, não
deu certo. Além disso, para dar
moldura a uma importante (nova) questão: a indústria parece estar finalmente ingressando numa
fase em que as exportações tendem a se expandir. É bem verdade que, dada a prostração da economia mundial, a ampliação do
volume exportado requer preços
predatórios e não poderá se traduzir, a curto prazo, num elevado
ritmo de crescimento dos valores
exportados. Ainda assim, por caminhos bastante imprevistos (e
nada amenos), estamos chegando
à terceira etapa. Faço no que segue algumas observações a esse
respeito.
Na forma em que foi enunciado, o modelo só se aplicaria, na
melhor das hipóteses, a multinacionais -que possuíam em carteira numerosos produtos ainda
não testados no mercado brasileiro. Ainda nesse caso, contudo, a
transição para fase exportadora
era uma hipótese altamente duvidosa. Lembro-me de que se dizia
à época, a esse respeito, que tornar-se competitivo no mercado
doméstico levava, naturalmente
(numa economia aberta), a exportar. A presunção era enganosa.
Ignorava o fato de que os novos
produtos a ser lançados no Brasil
defrontavam-se, nos centros desenvolvidos, com mercados saturados. Em tais condições, exportar significativamente exigiria a
concessão de cotas de mercado à
filial brasileira. Em outras palavras, supor que a mera conquista
de competitividade no mercado
local abre as portas do mercado
internacional é um equívoco.
Aliás, convém lembrar, o mercado doméstico continuava relativamente protegido e, digamos,
particularmente apetitoso. Quando mais não seja, pela voracidade
da demanda comprovada a cada
movimento de retomada. Numa
palavra, as multinacionais tinham que ser, de alguma maneira, induzidas a exportar...
E quanto às empresas nacionais, o que dizer?
O seu problema maior consistia
em renovar produtos e processos
para reafirmar-se no ambiente
transformado. Muitas conseguiram, penosamente, fazê-lo. No
caminho, porém, ficaram empresas promissoras, essencialmente,
por não ter acesso a fontes de financiamento capazes de alavancar as mudanças necessárias, em
tempo hábil. É bem verdade que
esse não era o único problema.
Como disse o empresário Sérgio
Prosdócimo, em recente entrevista, as empresas estavam, também, "cansadas de levar sustos".
Para praticamente todas as empresas domésticas, contudo, as
deficiências do mercado brasileiro de capitais eram um sério obstáculo. E é face a "falhas de mercado" desse tipo que as políticas
industriais costumam ser eficazes...
Parte da aversão que este país
cultivou às políticas industriais
-e das quais resultaram prejuízos e improvisações- nutriu-se,
na prática, da sobrevalorização
do real no período de 1994 a 1998.
De fato, num contexto de moeda
fortemente apreciada, quem se
solidarizaria com indústrias que
(até muito recentemente) produziam "carroças" a elevados custos? Felizmente um bom número
de empresas sobreviveu e parece
haver se qualificado para conviver no ambiente de uma economia (razoavelmente) aberta.
Muitas, porém, desapareceram.
Governos de outros países não teriam agido assim. Isso é típico da
América Latina e de sua tendência para a auto-incriminação e a
autoflagelação.
Antonio Barros de Castro, 58, professor titular da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro) e ex-presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), escreve às
quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
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