São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2001

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LUÍS NASSIF

Estratégias para Alca e OMC

Na atual discussão sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), uma das melhores visões foi apresentada pelo professor Marcos Sawaya Jank -da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e do Banco Mundial- , no seminário promovido pelo "Fórum das Américas".
Jank vê duas negociações paralelas em andamento: a nova rodada comercial da OMC (Organização Mundial do Comércio) e as rodadas regionais, com a Alca e com a União Européia.
Em sua opinião, há que ter uma divisão dos temas a ser tratados. Negociações regionais visariam abrir mercados e reduzir barreiras tarifárias e não-tarifárias de acesso de produtos. Mas não permitirão atacar questões essenciais, como os subsídios agrícolas. Hoje em dia, o maior fator de depressão dos preços das commodities são os subsídios dados pelos EUA e Europa a seus agricultores, que induzem a uma superprodução que deprime os preços internacionais. E não se resolve isso no âmbito de negociações regionais.
Há quatro temas a ser tratados em rodadas multilaterais, como a da OMC: subsídios agrícolas, medidas antidumping, questões ambientais e regras trabalhistas.
Em sua opinião, os atentados de 11 de setembro trouxeram novo alento à próxima rodada da OMC. Em 1999 houve um rotundo fracasso na rodada de Seattle. Um novo fracasso agora produziria uma corrida rumo a acordos regionais que implodiriam qualquer tentativa de integração mundial.
A estratégia brasileira -na sua opinião- deveria ser apostar todas as fichas na próxima rodada da OMC, ao mesmo tempo em que caminhem as negociações com a Alca e a União Européia em relação à abertura do mercado.
Mesmo sem a OMC é possível obter avanços efetivos nas negociações regionais. Nos últimos dez anos, o Canadá aumentou de US$ 3 bilhões para US$ 8 bilhões a venda de agroprodutos para os EUA, enquanto o México passou de US$ 2,5 bilhões para US$ 5 bilhões. Nesse período, as exportações agrícolas brasileiras para os EUA caíram de US$ 1,4 bilhão para US$ 1,1 bilhão.
O problema é que o Brasil exporta basicamente seis commodities, todas bastante visadas pelo protecionismo americano. Daí a importância de diversificar a pauta.
O cenário ideal para os próximos anos -diz Jank- seria uma rodada da OMC bem-sucedida nos próximos 12 meses, permitindo tratar dos temas sistêmicos, jogando para as negociações regionais só a questão do acesso aos mercados. Se não se avançar nessa frente, uma segunda alternativa é aprofundar as negociações regionais, negociando alianças e produtos, setor a setor. Um plano C, importante, seria construir alianças com outras regiões, como Índia, China e Rússia.
O problema maior do país -segundo Jank- é a falta de uma equipe que consiga pensar o médio e o longo prazo. O setor privado só sabe pensar o curto prazo, diz ele. E o Itamaraty não tem condição de conduzir sozinho três negociações.

Encontros
Nos anos 60, na condição de presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da PUC-SP, o então estudante Mário Garnero se notabilizou por organizar seminários para discutir problemas nacionais, especialmente de integração. Foi em seminário de 1961, com a presença de todos os governadores nordestinos, que saíram as idéias básicas que levaram à constituição da Sudene. Em 1974, organizou o Seminário de Salzburgo, que deu enorme visibilidade à economia brasileira para investidores internacionais. Com o "Fórum das Américas" o tema da integração passa a ser o continente.
O que se comprova é que, mesmo com toda virtualidade da nova economia, não há nada que substitua a mais velha e eficiente forma de relacionamento: o contato pessoal entre as partes.


Internet: www.dinheirovivo.com.br

E-mail - lnassif@uol.com.br




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