São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2001

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SIDERURGIA

Coréia do Sul, Brasil e Argentina também seriam afetados com decisão americana de restringir importações

UE pode ir à OMC contra proteção ao aço

DA REDAÇÃO

A decisão dos EUA de ampliar o protecionismo à indústria do aço local provocou a ira de países exportadores do produto. A União Européia (UE) e a Coréia do Sul anunciaram que irão recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) caso o governo norte-americano aumente as restrições aos produtos estrangeiros.
Na segunda-feira, a Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (ITC, na sigla em inglês) decidiu que a indústria do país sofre concorrência desleal em 12 de 33 produtos analisados. O governo ainda não decidiu qual será a retaliação, mas podem ser adotadas medidas como a imposição de cotas de importação e tarifas mais elevadas.
No entanto os Estados Unidos disseram que só lançarão mão de medidas protecionistas se o setor se comprometer a executar um plano de reestruturação. "Na minha opinião pessoal, não levarei isso [a proteção" adiante sem que eles se reestruturem", disse Robert Zoellick, representante comercial dos Estados Unidos.
A siderurgia norte-americana afirma que perdeu competitividade com a supervalorização do dólar em relação a outras moedas (especialmente asiáticas) e que os países produtores subsidiam a exportação do aço.
Mas alguns analistas discordam. Para eles, a indústria norte-americana é ineficiente e por isso perdeu competitividade.
Além dos europeus e da Coréia do Sul, uma eventual restrição norte-americana afetaria Brasil, Japão, Turquia, Argentina e China, entre outros.
"Discordamos da conclusão da ITC", afirmou ontem Pascal Lamy, comissário de Comércio da Comissão Européia. "Se os Estados Unidos decidirem fechar o seu mercado, não há dúvidas de que levaremos a questão à OMC."
Os EUA importam US$ 17 bilhões em aço por ano. Um quarto disso sai da UE. No ano passado, o Brasil exportou US$ 825 milhões.

Decepção
"A decisão dos EUA nos decepcionou bastante. Esperamos um impacto negativo no livre comércio", disse o ministro do Comércio da Coréia do Sul, Chang Che-shik.
O Canadá também reagiu de maneira negativa à ameaça norte-americana. Pierre Pettigrew, ministro do Comércio do país, afirmou que espera que os Estados Unidos excluam produtos canadenses de uma eventual retaliação comercial.
"Sempre argumentei, e mantenho isso, que nossas exportações de aço não deveriam fazer parte da investigação, porque somos membros do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, na sigla em inglês)", afirmou Pettigrew.

Lobby "geriátrico"
O Brasil comunicou ontem aos EUA que as novas restrições comerciais a derivados de aço "constrangem o governo brasileiro", "prejudicam a formação da Alca" e resultam de um lobby "geriátrico" da indústria dos EUA.
Esse é o resumo da resposta formal entregue ontem pelo secretário-executivo de Comércio, Roberto Gianetti, ao subsecretário de Comércio Internacional dos EUA, Grant Aldonas.
"Disse a ele que, se os EUA se interessam de verdade pela Alca (Área de Livre Comércio das Américas), não deveriam colocar o governo brasileiro numa situação de constrangimento", afirmou Gianetti.


Colaborou MARCIO AITH, de Washington



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