São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2001

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ANÁLISE

Concessão a indústria frágil é armadilha para Bush

DO "FINANCIAL TIMES"

O governo do presidente George W. Bush está em perigo de cair em um imenso buraco com relação à debilitada indústria siderúrgica norte-americana. Todos pagarão: os usuários de aço nos Estados Unidos, as economias de outros países e o sistema mundial de comércio.
Nesta semana, uma investigação da Comissão Internacional de Comércio dos Estados Unidos, aberta por instrução do governo, concluiu que a concorrência de produtores estrangeiros estava prejudicando a indústria siderúrgica norte-americana.
As restrições elevariam os custos industriais e da construção civil nos Estados Unidos e desviariam as importações de aço para outros destinos, especialmente a Europa, que passaria a sofrer pesada pressão para seguir o exemplo norte-americano. Além de distorcer o problemático mercado mundial do metal, novas barreiras perturbariam severamente as relações de comércio internacional norte-americanas em um momento bastante sensível.
Ainda que as regras da Organização Mundial do Comércio tecnicamente permitam ações de salvaguarda de emergência do tipo que Washington pretende adotar, elas causariam uma torrente de contestações judiciais na OMC.
Bush entrou nessa confusão ao ceder aos pedidos de proteção da indústria siderúrgica, na ilusória esperança de comprar votos no Congresso para os projetos de lei necessários a concluir acordos de liberalização do comércio.
A competitividade dos produtores norte-americanos de aço bruto vem caindo há anos. Mas em lugar de fechar as portas ou consolidar suas atividades, eles cada vez mais têm optado por continuar operando sob a proteção das leis de concordata e canalizar suas energias para uma campanha pela adoção de barreiras comerciais.
Eles devem sua influência política não à sua importância econômica trivial, mas a persistentes esforços de lobby de parte de algumas centenas de milhares de operários siderúrgicos aposentados que vivem em distritos eleitorais disputados. Porque seus planos de saúde são financiados por seus antigos empregadores, esses cidadãos da terceira idade têm forte incentivo para manter as empresas em operação.
Se Bush for incapaz de resistir aos pedidos deles, Washington deveria comprar-lhes a adesão financiando seus planos de saúde. O custo chegaria a bilhões de dólares. Mas isso não deveria preocupar um governo que acaba de dar às linhas aéreas US$ 5 bilhões dos contribuintes. Liberar a política comercial dos Estados Unidos do peso morto do lobby do aço bem que valeria o custo.


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