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BENJAMIN STEINBRUCH
Conciliação econômica
O novo presidente tem
a obrigação de fazer um corajoso enxugamento nas contas públicas
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É NATURAL que, passadas as
eleições, as forças moderadas
passem a clamar e trabalhar
por conciliação política. O país não
pode conviver eternamente no acirrado clima de campanha eleitoral,
sob pena de prejudicar a atividade
econômica. Isso não quer dizer, entretanto, que falcatruas do passado e
possíveis crimes eleitorais devam
ser jogados para debaixo do tapete.
A apuração desses ilícitos precisa
continuar, para esclarecer responsabilidades e punir culpados.
Seja qual for o resultado da eleição
de domingo, a partir de segunda-feira o país vai precisar, além do entendimento político, de conciliação
econômica. Ainda que o debate de
programas não tenha sido muito
produtivo durante a campanha presidencial, alguns consensos emergiram.
Unanimidades nacionais não poderão mais ser desprezadas pelo novo governante, seja Lula, seja Alckmin. A primeira delas refere-se ao
crescimento da economia. Nenhum
país emergente se sustenta, política
ou economicamente, sem expansão
contínua de atividade produtiva.
Crescer é fundamental para melhorar o bem-estar da população, e isso
não deve ser apenas uma ambição
de governantes. Deve ser obstinação.
Em nome da conciliação econômica, algumas medidas podem e devem ser tomadas com urgência, independentemente de reformas estruturais, para que o país não fique
marcando passo enquanto promove
o debate necessário para mudanças
na Previdência e nas áreas tributária
e trabalhista, que terão de vir a médio prazo.
O novo presidente tem a obrigação de fazer um corajoso enxugamento nas contas públicas, para expurgar com um só golpe ineficiências e gastos não essenciais. Apesar das blindagens constitucionais, que
criam despesas compulsórias, os resultados desses expurgos não são
desprezíveis para marcar o início de
uma administração austera. O objetivo é concentrar recursos naquilo
que é essencial, os investimentos.
A falta de investimento público
está na origem da semi-estagnação
que dominou a economia do país
nos últimos três governos. Para
2007, o Orçamento prevê investimentos pífios, de R$ 16 bilhões, repetindo a dose homeopática ministrada nos anos recentes.
Isso não pode continuar. Além do
corte de gastos, há que reduzir o absurdo dispêndio da União com juros
da dívida pública. Nessa área, existe
larga margem para economias. Por
um capricho injustificável do Banco
Central, o país deve gastar neste ano
cerca de R$ 160 bilhões com juros da
dívida pública. Ficou evidente que a
dose de juros aplicada em 2006 foi
muito além da necessária para a estabilidade, porque a inflação deve ficar quase dois pontos percentuais
abaixo da meta de 4,5%. Ou seja,
houve um erro que tirou do setor
público a possibilidade de investir
algumas dezenas de bilhões de reais
em obras essenciais, educação, saúde, habitação e infra-estrutura.
O economista Luciano Coutinho calcula que uma redução substancial
na taxa de juros, que ainda está em
nível elevadíssimo (9% em termos
reais), possa resultar em economia
de R$ 85 bilhões nos próximos dois
anos.
A conciliação econômica, portanto, exige que se ponha fim à arrogância ortodoxa do Banco Central. E isso só depende da escolha correta e
equilibrada de pessoas que vão comandar essa instituição.
A ação imediata do novo governo,
portanto, tem de ser no sentido de
desatar rapidamente os nós que impedem o país de crescer a taxas entre 5% e 6% ao ano, um ritmo aceitável enquanto não são atacados os
problemas estruturais -o Brasil,
outra vez, vai superar apenas o Haiti,
na América Latina, em matéria de
expansão do PIB.
Feito isso, a tarefa política precisará se concentrar na negociação
das reformas básicas para garantir a
sustentabilidade do crescimento: a
tributária, para reduzir a carga de
impostos, que alcança 37% do PIB e
desfalca o setor produtivo; a previdenciária, para atenuar um déficit
que atingirá mais de R$ 40 bilhões
neste ano; e a trabalhista, para colocar o país em nível de competitividade mundial.
Ao votar domingo, portanto, o
eleitor terá de levar em conta também essas questões e, no seu íntimo,
decidir qual dos dois candidatos tem
condições e quadros para enfrentá-las com mais garra e competência.
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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