São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007

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Só Brasil pode ter álcool sem subsídios, afirma OCDE

Órgão vê queda de ajuda governamental de países ricos à agricultura em 2006

OCDE, no entanto, atribui recuo à alta dos preços agrícolas, e não a uma mudança na política das nações desenvolvidas

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O Brasil é o único país do mundo com capacidade para produzir biocombustíveis sem depender de subsídios governamentais. A avaliação é do diretor de Comércio e Agricultura da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), Stefan Tangermann, que apresentou ontem em Genebra estudo sobre as políticas agrícolas do clube dos países ricos.
Uma das conclusões do relatório, que indica queda pouco significativa nos subsídios agrícolas concedidos pelos membros da OCDE, é que as políticas de biocombustíveis adotadas pelas principais economias do planeta são um dos fatores que atualmente causam distorções no comércio mundial.
"Os biocombustíveis não poderiam ser produzidos em país nenhum do mundo, com exceção do Brasil, se não fossem os subsídios do governo", disse Tangermann. "O álcool brasileiro é o único caso em que a produção é viável sem a ajuda governamental."
Tangermann acrescentou que a OCDE está preparando um novo estudo sobre o impacto dos biocombustíveis no preço das commodities e no protecionismo adotado pelos países que os produzem, que deve ser divulgado em maio de 2008. O último estudo da OCDE sobre o tema, lançado em fevereiro, mostrou que o Brasil era o único país com capacidade econômica para produzir álcool de forma competitiva, caso o preço do barril de petróleo se mantivesse abaixo de US$ 145.
Mas, mesmo com os atuais preços do petróleo já acima de US$ 80 o barril, afirma a OCDE, os principais produtores de biocombustíveis entre os países industrializados, EUA, Canadá e UE, continuam dependendo de subsídios para que o combustível mantenha-se "economicamente viável".
O relatório da OCDE divulgado ontem indica que os subsídios agrícolas nos países do grupo corresponderam, em média, em 2006, a 27% do total da receita dos produtores, ou US$ 268 milhões, leve queda em relação aos 29% registrados no ano anterior.
A organização ressalvou, entretanto, que essa queda não foi resultado de mudança nas políticas econômicas dos países ricos, que continuam num nível de protecionismo indesejável e distorcivo, mas da alta nos preços das commodities agrícolas.
Os subsídios agrícolas estão no centro das divergências que impedem um desfecho para a Rodada Doha de liberalização comercial. Países em desenvolvimento como o Brasil exigem que os ricos reduzam a ajuda aos produtores agrícolas. Os países ricos, por sua vez, pedem a redução das tarifas industriais dos países mais pobres.


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