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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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O VÔO DA ÁGUIA

Para ex-diretor do FMI, desaceleração iniciada em setembro põe em xeque crescimento sustentado

EUA dão sinais "perigosos", diz Mussa

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Depois de atingir um crescimento anualizado de 7,2% no terceiro trimestre -julho a setembro-, a economia dos EUA mostra novos sinais de desaceleração neste final de ano.
Segundo Michael Mussa, ex-diretor de pesquisas do FMI (Fundo Monetário Internacional) e economista do IIE (Institute for International Economics), há ""sinais perigosos" que voltam a ""colocar em dúvida" uma recuperação sustentada e de maior fôlego da economia dos Estados Unidos.
Leia entrevista de Mussa à Folha concedida em Washington:

Folha - Os EUA registraram em setembro a maior queda em cinco anos na entrada de capital estrangeiro, e o dólar vem caindo de forma consistente frente ao euro. Os dados do terceiro trimestre indicavam, no entanto, um forte crescimento. O que mudou?
Michael Mussa -
De fato, os dados do terceiro trimestre foram muito bons, particularmente no início do período, em julho. Mas, em setembro, a economia já não mostrava tanta força.
Outras informações mais recentes têm indicado um novo enfraquecimento da atividade. As vendas no varejo, principalmente, mostraram uma diminuição de ritmo, assim como outros dois ou três indicadores sensíveis.
A oferta de dinheiro no mercado também teve uma queda repentina em todas as medições, levando em conta a base monetária e todos os outros agregados monetários. Isso tem ocorrido nos últimos dois meses, o que é muito pouco usual.
Para quem se preocupa com indicadores monetários, esse tem sido um sinal muito perigoso.
Em relação ao dólar, já vimos uma substancial correção em relação a várias moedas. A queda geral do dólar não reflete um fortalecimento do euro, do iene ou do dólar canadense, mas um enfraquecimento do próprio dólar frente às moedas de todos os outros países industrializados.
Eu relacionaria isso às preocupações atuais e ao reconhecimento de que o ritmo da recuperação americana tenha diminuído novamente em novembro.

Folha - Isso quer dizer que os Estados Unidos ainda não saíram da chamada zona de risco?
Mussa -
Creio que a economia já virou a esquina. Não é razoável esperar que o quarto trimestre do ano tenha uma taxa igual à do terceiro trimestre [7,2%], mas, de fato, há hoje uma preocupação bem maior em saber se essa recuperação será sustentável ou não daqui em diante. Esse tipo de apreensão não existia há dez dias ou a duas semanas atrás.
De qualquer modo, podemos contar com um crescimento no quarto e último trimestre de 2003 na faixa de 3% a 4%.
A economia americana continua se beneficiando dos estímulos monetários [a taxa de juros básica está em 1% ano] e fiscais. Começamos a ver uma recuperação dos investimentos empresariais e finalmente começamos a ver uma recuperação na taxa de emprego. Mas precisamos saber se isso será suficiente para sustentar uma retomada moderada.
Há alguns meses eu dizia que o emprego aumentaria nos próximos seis meses em um ritmo de 250 mil novas vagas por mês. Agora, tenho de reconhecer que isso é um pouco demais tendo em conta os sinais que estamos vendo. Diria que o ritmo ficará a menos da metade disso.

Folha - No caso do dólar, há uma atitude deliberada de ignorar a desvalorização?
Mussa -
Não creio que o Fed [o Banco Central dos Estados Unidos] tenha uma política específica para manter o dólar fraco. Certamente há um reconhecimento de que um dólar mais barato tende, no curto prazo, a ter um efeito estimulante na demanda por produtos norte-americanos. Mas o dólar talvez esteja perdendo sua força porque a economia também parece ter essa mesma tendência.

Folha - O que pode explicar a abrupta queda de investimentos externos nos Estados Unidos em setembro?
Mussa -
Ninguém sabe [risos]. Esses dados são tipicamente voláteis. Incluem aquisições e fusões de empresas que podem estar ou não concentradas em um determinado mês. Não creio que o número de um único mês tenha um significado muito especial.


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