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O VÔO DA ÁGUIA
Para ex-diretor do FMI, desaceleração iniciada em setembro põe em xeque crescimento sustentado
EUA dão sinais "perigosos", diz Mussa
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Depois de atingir um crescimento anualizado de 7,2% no terceiro trimestre -julho a setembro-, a economia dos EUA mostra novos sinais de desaceleração
neste final de ano.
Segundo Michael Mussa, ex-diretor de pesquisas do FMI (Fundo
Monetário Internacional) e economista do IIE (Institute for International Economics), há ""sinais perigosos" que voltam a ""colocar em dúvida" uma recuperação sustentada e de maior fôlego
da economia dos Estados Unidos.
Leia entrevista de Mussa à Folha concedida em Washington:
Folha - Os EUA registraram em setembro a maior queda em cinco
anos na entrada de capital estrangeiro, e o dólar vem caindo de forma consistente frente ao euro. Os
dados do terceiro trimestre indicavam, no entanto, um forte crescimento. O que mudou?
Michael Mussa - De fato, os dados do terceiro trimestre foram
muito bons, particularmente no
início do período, em julho. Mas,
em setembro, a economia já não
mostrava tanta força.
Outras informações mais recentes têm indicado um novo enfraquecimento da atividade. As vendas no varejo, principalmente,
mostraram uma diminuição de
ritmo, assim como outros dois ou
três indicadores sensíveis.
A oferta de dinheiro no mercado também teve uma queda repentina em todas as medições, levando em conta a base monetária
e todos os outros agregados monetários. Isso tem ocorrido nos
últimos dois meses, o que é muito
pouco usual.
Para quem se preocupa com indicadores monetários, esse tem
sido um sinal muito perigoso.
Em relação ao dólar, já vimos
uma substancial correção em relação a várias moedas. A queda
geral do dólar não reflete um fortalecimento do euro, do iene ou
do dólar canadense, mas um enfraquecimento do próprio dólar
frente às moedas de todos os outros países industrializados.
Eu relacionaria isso às preocupações atuais e ao reconhecimento de que o ritmo da recuperação
americana tenha diminuído novamente em novembro.
Folha - Isso quer dizer que os Estados Unidos ainda não saíram da
chamada zona de risco?
Mussa - Creio que a economia já
virou a esquina. Não é razoável
esperar que o quarto trimestre do
ano tenha uma taxa igual à do terceiro trimestre [7,2%], mas, de fato, há hoje uma preocupação bem
maior em saber se essa recuperação será sustentável ou não daqui
em diante. Esse tipo de apreensão
não existia há dez dias ou a duas
semanas atrás.
De qualquer modo, podemos
contar com um crescimento no
quarto e último trimestre de 2003
na faixa de 3% a 4%.
A economia americana continua se beneficiando dos estímulos monetários [a taxa de juros
básica está em 1% ano] e fiscais.
Começamos a ver uma recuperação dos investimentos empresariais e finalmente começamos a
ver uma recuperação na taxa de
emprego. Mas precisamos saber
se isso será suficiente para sustentar uma retomada moderada.
Há alguns meses eu dizia que o
emprego aumentaria nos próximos seis meses em um ritmo de
250 mil novas vagas por mês.
Agora, tenho de reconhecer que
isso é um pouco demais tendo em
conta os sinais que estamos vendo. Diria que o ritmo ficará a menos da metade disso.
Folha - No caso do dólar, há uma
atitude deliberada de ignorar a
desvalorização?
Mussa - Não creio que o Fed [o
Banco Central dos Estados Unidos] tenha uma política específica
para manter o dólar fraco. Certamente há um reconhecimento de
que um dólar mais barato tende,
no curto prazo, a ter um efeito estimulante na demanda por produtos norte-americanos. Mas o
dólar talvez esteja perdendo sua
força porque a economia também
parece ter essa mesma tendência.
Folha - O que pode explicar a
abrupta queda de investimentos
externos nos Estados Unidos em setembro?
Mussa - Ninguém sabe [risos].
Esses dados são tipicamente voláteis. Incluem aquisições e fusões
de empresas que podem estar ou
não concentradas em um determinado mês. Não creio que o número de um único mês tenha um
significado muito especial.
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