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Governo brasileiro deve pagar mais ao Paraguai por energia de Itaipu
Valor ainda não foi definido; Amorim diz que há "uma certa justiça" no pedido
BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
O Paraguai exige do Brasil
um aumento de US$ 100 milhões no pagamento anual para
compensar a parte paraguaia
da energia gerada na hidrelétrica binacional de Itaipu que é
consumida no território brasileiro. Segundo a Folha apurou,
o governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva já concordou em pagar mais -ainda não
bateu o martelo sobre a cifra,
mas a tendência é aceitar, de
forma gradual, o valor pedido.
A conta, mesmo diluída e
com impacto considerado pequeno nas tarifas, deve ser paga
pelo consumidor brasileiro, já
que os reajustes costumam ser
repassados pela Eletrobrás. O
último aumento, de US$ 21 milhões, foi acordado em dezembro e está sendo concedido ao
longo deste ano. Em 2006, o
valor pago pelo Brasil pela cessão da energia paraguaia será
de US$ 201 milhões.
A contrapartida do novo reajuste, que precisa ser negociada
politicamente, seria que o Paraguai não mais se queixasse
do que considera "dupla indexação" da dívida da Itaipu com
o Tesouro Nacional e a Eletrobrás, que se refere à construção
da própria hidrelétrica.
O assunto foi discutido ontem na visita do ministro das
Relações Exteriores, Celso
Amorim, a Assunção, sob forte
pressão da imprensa local. O
chanceler brasileiro se reuniu
com o colega paraguaio Rubén
Ramírez e com o presidente
Nicanor Duarte, mas não houve grandes avanços.
"O governo do Brasil avalia
que há uma certa justiça no anseio paraguaio de obter melhor
remuneração [pela energia]",
afirmou Amorim. "O que não
queremos nem vamos fazer é
mexer no tratado [de Itaipu, de
1973]. Não importa se foi feito
na ditadura militar, no Império, o que seja. Mas podemos
compensar de outra maneira."
O mais forte motivo para que
o governo não aceite renegociar o tratado está no fato de
que as parcelas da dívida representaram 5% do superávit primário das contas públicas brasileiras no ano passado.
O montante da dívida da binacional -hoje em cerca de
US$ 19 bilhões- é corrigido
por taxa fixa de 7,5% anuais
mais a taxa de inflação norte-americana. Em 1997, o débito
foi dolarizado (para fugir das
flutuações da moeda brasileira) e renegociado. A correção
foi acertada justamente para
atender a pedido paraguaio.
Mas a inflação dos EUA, que
era baixa, foi à ordem dos 4%
anuais. O governo brasileiro
não reconhece a existência de
"dupla indexação".
O governo paraguaio argumenta que, com a revisão do
tratado, sobraria mais verba de
Itaipu para projetos sociais no
Paraguai. Na prática, o dinheiro já disponível é usado nos
"currais" eleitorais de Duarte.
O tratado prevê atualmente
que qualquer redução da dívida
deve ter impacto direto na tarifa da energia, o que deveria baratear a conta de luz no Brasil.
O jornalista BRUNO LIMA viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores.
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