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SDE investigará se setor de brinquedos praticou cartel
Suspeita é de combinação de preços; presidente da entidade será investigado
Indício da apuração é a gravação de Synésio Batista da Costa durante reunião para discutir os preços dos brinquedos vindos da China
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A SDE (Secretaria de Direito
Econômico) abriu ontem uma
investigação contra a Abrinq
(Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos) e seu
presidente, Synésio Batista da
Costa, por suspeita de prática
de cartel na combinação de
preços e cotas de importação de
produtos da China.
O principal indício da apuração é a gravação de Costa durante uma reunião convocada
pela Abrinq em setembro para
discutir com outras empresas
um piso mínimo dos preços dos
brinquedos que deveriam ser
importados da China e a criação de barreiras para que outras empresas disputassem esse mercado. A fita foi gravada
por representantes da empresa
Mattel e entregue à SDE.
"A degravação dos trechos
mostra que a Abrinq estaria se
portando como um ente regulador privado", disse Mariana
Tavares de Araújo, diretora de
Proteção e Defesa Econômica
da secretaria.
De acordo com a gravação
apresentada pela Mattel, o presidente da Abrinq disse na reunião que toda a combinação seria "chancelada" pela Camex
(Câmara de Comércio Exterior), ligada ao Ministério do
Desenvolvimento. As cotas de
importação de cada empresa
estipuladas pela Abrinq também seriam respeitadas pelas
"autoridades alfandegárias".
A SDE descartou a participação da Camex na combinação e
informou ontem que a câmara
não será investigada no procedimento administrativo.
Multa
Se for comprovada a conduta
da Abrinq e de seu presidente, o
caso será encaminhado ao Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica), que poderá condená-los ao pagamento de multa.
A Folha procurou a assessoria de imprensa da Abrinq no
final da manhã e no início da
noite de ontem, mas foi informada de que Costa não estava
localizável.
De acordo com a assessoria,
apenas ele poderia se manifestar em nome da associação a
respeito da investigação.
A invasão de brinquedos chineses no mercado brasileiro, a
exemplo do que ocorre em praticamente todos os países, vem
provocando perdas ao setor
por conta do preço mais baixo
dos produtos asiáticos.
A alta produção, os baixos salários dos trabalhadores chineses e o câmbio controlado artificialmente por Pequim permitem maior competitividade
chinesa no cenário global.
Reclamações
O tema foi abordado nas eleições presidenciais deste ano.
Outros setores, como o de móveis, sapatos e vestuário, reclamam publicamente há meses
sobre o mesmo problema.
O suposto acordo da Abrinq,
porém, seria a primeira combinação entre brasileiros e chineses para minimizar perdas nacionais.
De acordo com a nota técnica
de abertura da investigação, o
presidente da Abrinq disse, durante a reunião em setembro,
que tinha ido à China em agosto deste ano para encontros.
Teria se reunido com a associação de brinquedos e a câmara
de comércio de produtos leves
e artísticos com as quais assinou um acordo de cooperação.
De volta ao Brasil, da Costa
disse, na reunião com as empresas em setembro, que o governo o autorizou a negociar o
acordo, segundo a denúncia. A
SDE diz que essa autorização
não existe.
Dados da própria Abrinq indicam que a China concentra
70% da produção mundial de
brinquedos; os produtos importados ocupam 45% do mercado nacional do setor; e 70%
das importações de brinquedos
do Brasil vêm da China.
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