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RECEITA ORTODOXA
Superávit primário, de R$ 70 bi no ano, deve cair neste mês
Governo não crê em folga para atingir meta com FMI
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de o esforço fiscal do setor público ter gerado R$ 70,3 bilhões de janeiro a novembro para
pagamento de juros da dívida, o
setor público deverá cumprir sem
grande folga a meta de superávit
primário acertada com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
para este ano -R$ 65 bilhões ou
4,25% do PIB (soma das riquezas
produzidas pelo país no ano).
A maior parte da "gordura"
acumulada até novembro por
União, Estados, municípios e estatais, será anulada pelo esperado
déficit primário neste mês. "Com
certeza a meta vai ser cumprida.
Mas não existirá grande folga",
disse o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Luiz Sampaio Malan.
O superávit primário (receitas
menos despesas, excluindo o pagamento de juros) acumulado pelo setor público até novembro
equivale a 4,94% do PIB e supera
em R$ 5,3 bilhões a meta negociada com o FMI para o ano. Em dezembro de 2002, no entanto, as
contas públicas apresentaram déficit de R$ 4,7 bilhões. Se o mesmo
resultado se repetisse agora, o governo cumpriria a meta com folga
de R$ 600 milhões.
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse que todos os ano ocorre uma pequena
superação na meta de superávit.
Segundo ele, o déficit do governo
central (Tesouro Nacional, Banco
Central e Previdência Social) neste mês deverá ser superior a R$ 4
bilhões. Ele diz que as estatais não
deverão atingir os R$ 11 bilhões de
superávit esperados para 2003 devido ao alto nível de investimento
realizado pelas empresas -principalmente a Petrobras- no ano.
Malan explicou que dezembro é
um mês com déficit crônico devido as despesas com pagamento de
13º salário ao funcionalismo público, além dos gastos com adicional de férias para servidores que
tradicionalmente pedem licença
nesta época do ano. Some-se a isso, o aumento do déficit do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social) também devido ao pagamento do 13º dos aposentados.
Em novembro, o superávit primário do setor público chegou a
R$ 6,259 bilhões, um pouco abaixo do resultado de outubro (R$
6,958 bilhões). Segundo ele, contribuíram para isso um superávit
menor do governo central por
conta da antecipação de parte do
13º salário e um aumento do déficit da Previdência.
O desempenho das empresas
estatais no mês passado, porém,
ficou muito além do obtido em
outubro: R$ 2,279 bilhões contra
R$ 1,068 bilhão. Somente o superávit das estatais federais atingiu
R$ 1,915 bilhão, influenciado
principalmente pelo resultado da
Petrobras.
Dívida/PIB
Em novembro, a relação dívida
pública e PIB manteve-se praticamente estável na comparação
com outubro. De 57,22% variou
para 57,16%. Nas projeções do
BC, que consideram um câmbio
de R$ 2,93 e uma taxa média para
a Selic (taxa básica de juros da
economia) de 16,88% em dezembro, a dívida líquida do setor público deve fechar o ano em 57,3%.
Nesses cálculos, o BC ainda não
considera a revisão do PIB para
este trimestre. "Mantida a política
fiscal e a redução gradual da Selic,
a relação dívida/PIB vai cair", declarou Malan.
Pesou positivamente para a estabilidade da dívida em novembro o efeito do crescimento de
1,2% do PIB nos últimos 12 meses.
Por outro lado, o pagamento de
juros e o ajuste cambial ocorrido
em novembro impediram um
movimento mais acentuado na
redução da dívida líquida.
Questionado se o ajuste fiscal do
governo não teria um custo muito
alto para efeitos tão reduzidos na
relação dívida/PIB, Malan respondeu: "Sem dúvida existem
custos associados à política de
ajuste fiscal. Mas esse é um ajuste
necessário. Não há alternativas
para garantir a retomada do crescimento em base sólidas".
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