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São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

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LUÍS NASSIF

FX a e Embraer

Na coluna de ontem apresentei os argumentos dos representantes do russo Sukhoi na licitação FX da FAB. Vamos aos contraargumentos da Embraer.
Segundo ela, a casa Sukhoi é projetista de avião. Conforme explicado na coluna de ontem, o setor na Rússia é composto por uma infinidade de escritórios de projetos e de fábricas atuando isoladamente. A indústria russa está em processo inicial de consolidação apenas.
As ressalvas nunca foram contra os projetos russos, mas contra a indústria russa. Prova foram os sucessivos desastres ocorridos com sua aviação comercial.
Essa dispersão cria problemas da seguinte ordem. O projeto é de uma empresa, a fabricação é de outra, quem vende e dá assistência é outra, a holding Rosoboronexport. Mais ainda. A Sukhoi tem vários modelos de avião, o 27 e o 30, com produção seriada. Como projeto, o Sukhoi-35 representa um avanço em relação ao 30, que tem eletrônica analógica. Só que ainda é um protótipo, com apenas cinco unidades operando no mundo. Se nenhum país ainda o adquiriu, se não existe uma frota, mas apenas as 12 encomendas da FAB, não há nenhuma garantia de que haveria processo industrial contínuo, o que criaria risco de logística e de transferência de tecnologia.
Por exemplo, quem garante que a mesma peça, o mesmo parafuso, o mesmo processo será mantido no futuro, se não existe a produção seriada? O produto seriado tem visão de assistência ao longo da vida, a continuidade das peças. O Gripen tem 160 aviões produzidos, o Mirage 2000, quase 700.
Outro ponto levantado é que, até por causa da Guerra Fria, os russos projetavam produtos com tempo de vida curto porque, mais cedo ou mais tarde, seriam destruídos. O motor do Sukhoi-35 exige manutenção a cada 300 horas, contra mais de 2.000 horas do Mirage 2000 BR, diz a Embraer. A diferença significa um custo de manutenção expressivamente maior.
O terceiro ponto é em relação ao nível tecnológico do Mirage 2000 BR, que é de categoria inferior às do Rafale e do F-16, por exemplo. Na verdade, as modificações tecnológicas não ocorrem nas máquinas em si, mas nos sistemas eletrônicos, explica a Embraer. O Rafale é uma máquina maior, com duas turbinas, mas não significa que seja tecnologicamente mais avançada.
Embora a Índia não tenha cancelado as compras do Sukhoi-30, conforme andou sendo noticiado, existe um relatório da Auditoria Geral da Índia (que faz a auditoria do Executivo e do Legislativo) apontando diversos problemas no contrato com os russos. O Su-30 só servia para defesa, enquanto o acordo com o ministério previa uma adaptação para se tornar multifuncional. A promessa era que essa adaptação seria feita por desenvolvedores indianos. Mas depois da compra, descobriram-se incompatibilidades tecnológicas. Uma parte do sistema eletrônico era incompatível com as normas indianas de ambiente e a performance do radar ficou muito abaixo das expectativas. O sistema de navegação não tinha precisão, a capacidade para carregar armas era muito limitada e os sistemas de controle de armas eram muito pouco integrados.
O relatório está no endereço: www.cagindia.org/reports/defence/2000-book1/index.htm

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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