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LUÍS NASSIF
Lafer e o teste de Arapongas
Antes de indicar Celso Lafer para ministro do Desenvolvimento,
FHC deveria tê-lo submetido ao
"teste de Arapongas" -duas horas de palestra aos empresários do
setor moveleiro da cidade, considerada a capital nacional dos móveis. Um iria sair da reunião
achando que o outro é um ET
-tão distantes são os universos
de ambos.
No entanto, esse é o público sobre o qual teoricamente Lafer deverá atuar nos próximos anos, na
condição de ministro da Produção.
Na verdade, sua indicação obedece à secular atração brasileira
por intelectuais para o desempenho de funções públicas. Não se
aprendeu nada com as últimas
décadas. Função de intelectual é
ser assessor, membro de conselhos
de notáveis e por aí afora, não um
executivo de quem se cobram resultados.
Celso Lafer é intelectual respeitado, estudioso do período JK, especialista em comércio internacional, como membro brasileiro
na Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas está longe do
perfil operacional que o cargo exige.
O primeiro problema da escolha, aliás, é a própria formação
intelectual do novo ministro.
Existe a percepção de que os modernos processos de desenvolvimento devem se fundar na organização das pequenas e microempresas em nível regional, trabalhando de maneira articulada
com prefeituras, associações de
classe, institutos de pesquisa, universidades e Sebraes regionais.
Há boas iniciativas sendo conduzidas em várias regiões, existem experiências internacionais
relevantes, como é o caso da Itália, e há pouca literatura sistematizando o tema. Não consta que,
nas últimas décadas, esse processo
tenha merecido a atenção do intelectual Celso Lafer. Ele conhece
-como historiador, não como
quem botou a mão na massa- a
maneira como JK articulou a burguesia industrial brasileira nos
anos 50. O desafio de hoje é articular a base das pequenas e microempresas e as cadeias produtivas.
A revolução das câmaras setoriais, no início dos anos 90, foi
conduzida por engenheiros especializados em produção, não por
historiadores da economia.
²
Pique operacional
O segundo problema é a própria
falta de pique operacional de Lafer. O ministério deveria ser
atuante no dia-a-dia da economia, entrando de corpo inteiro
nas grandes batalhas que se travam mundialmente em torno das
exportações, articulando temas
como sistemas de financiamento,
barreiras não-tarifárias e acordos
bilaterais para cada grande pendência comercial. Definitivamente não é o perfil de Lafer, homem
mais afeito ao trabalho intelectual.
Espírito essencialmente prático,
sempre que um intelectual o procurava com propostas de política
industrial, o ex-presidente Fernando Collor pedia que transformassem as idéias em portarias e
decretos. Quem não conseguisse
não entrava.
O terceiro problema é que o novo ministro deveria ser um propagandista diuturno do desenvolvimento, alguém que conseguisse
entender a psicologia do pequeno
empresário brasileiro e sensibilizá-lo para uma meta -algo que
JK fez com grande maestria. Lafer
é dotado da sofisticação das grandes metrópoles e da falta de emoção que caracteriza os grandes diplomatas -não os grandes políticos.
Em suas conversas prévias sobre
o ministério, FHC elogiou diversas vezes o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, por "fazer acontecer" -isto é, preocupar-se menos com conceitos e
mais com resultados. Se é esse o
perfil indicado, por que nomear
um intelectual para um cargo que
exige um executivo?
²
E-mail: lnassif@uol.com.br
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