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São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 2003

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ARTIGO

Conflito põe mais incertezas em ano já ameaçado

ED CROOKS
DO "FINANCIAL TIMES"

Nas palavras vívidas de Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), as economias de seu país e a mundial estão em "terreno desfavorável".
Tentando empurrar o crescimento para uma área mais firme, Greenspan vem pressionando ao máximo. Mas as demais autoridades financeiras nas principais economias do mundo não se vêm mostrando tão prestativas.
O governo Bush fez grandes esforços, mas está perdendo a força. O Banco Central Europeu foi mais lento e mais fraco que o Fed.
Os governos da zona do euro, tendo passado o ano de 2002 fazendo nada, estão planejando agora, por incrível que pareça, pressionar na direção errada, com seus planos de gastos e impostos. E no Japão, tanto o banco central quanto o governo estão debilitados demais por uma década de batalha contra a deflação para fazer algo de muito significativo.
O período fraco, para o qual Greenspan atraiu atenção pela primeira vez em junho, provavelmente vai se prolongar por algum tempo. O desequilíbrio do crescimento mundial e as prováveis consequências de um ataque norte-americano ao Iraque talvez venham a representar areia movediça no caminho das economias.
Um ano atrás, na reunião do Fórum Econômico Mundial em Nova York, havia um contraste notável entre o pensamento positivo dos políticos e a cautela dos empresários. A realidade terminou por se colocar em um ponto intermediário entre os dois extremos.
A previsão dos Estados Unidos quanto ao retorno de uma taxa respeitável de crescimento foi confirmada. Paul O'Neill, então secretário do Tesouro norte-americano, foi demitido pelo presidente Bush no final do ano passado, mas não desiste de dizer que suas opiniões se confirmaram. No entanto, no começo de 2003, não existem sinais até agora de uma virada positiva no emprego ou no investimento empresarial.
A previsão de consenso é que o crescimento vai aumentar à medida que o ano avança, mas há também consenso no sentido de que os riscos dessa previsão são no geral de que ela não se realize.
"Todo mundo incluiu uma aceleração do crescimento durante o segundo semestre de 2003 em suas perspectivas", disse Eric Chaney, co-diretor de economia européia no Morgan Stanley. "E faz sentido que esperemos melhores notícias na entrada de 2004. Mas no ano passado todo mundo tinha as mesmas expectativas para o começo deste ano."
O que separou os líderes dos retardatários em 2002 foi o consumo. O investimento empresarial caiu em praticamente todo mundo desenvolvido e o comércio internacional anda fraco. Mas os consumidores nos países de língua inglesa continuaram gastando: acima de tudo nos EUA, graças a uma combinação de estímulos fiscais e monetários.
O custo inicial dos cortes de impostos anunciados pelo presidente Bush não será enorme: talvez 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas o relaxamento fiscal dos dois últimos anos já é o segundo maior desde a Segunda Guerra Mundial, excedido apenas pelo que se seguiu à crise do petróleo de 1973.
Alguns dos desequilíbrios que a economia dos EUA acumulou na segunda metade dos anos 90 começam agora a se ajustar.
Os empréstimos das empresas, que atingiram um pico de 6% do faturamento das empresas não financeiras no primeiro trimestre de 2000, agora estão em menos de 2%. A relação preço/lucro prospectiva do índice S&P 500 baseada no consenso das previsões sobre lucros empresariais, que atingiu um pico de 24 em 2000, está agora de volta aos 16.
O ajuste do setor domiciliar, no entanto, não parece encerrado. O índice de poupança, que caiu a zero no quarto trimestre de 2001, vem atingindo os 4% ou mais já há diversos meses, mas, como Greenspan observou recentemente, os pagamentos de juros domiciliares como porcentagem da renda familiar estão perto de seu pico histórico.
"Os índices de poupança caíram bem abaixo do que encararíamos como prudente em termos de provisões de aposentadoria", disse George Magnus, economista-chefe do UBS Warburg.
Na zona do euro, o estímulo monetário foi muito mais fraco: as taxas de juros reais continuam positivas, ao contrário dos EUA.
E nem houve estímulo fiscal digno de menção; o cumprimento do pacto de estabilidade e o crescimento da União Européia exigirão, neste ano, um aperto fiscal da ordem de pelo menos 0,5% do PIB -e mais que isso na economia mais fraca da União Européia, a da Alemanha.
No Japão, enquanto isso, as taxas de juros de curto prazo já são zero, na prática, e a fraqueza crônica das finanças públicas continua a tornar impossível novas medidas de estímulo. A consequência é que os Estados Unidos continuam a ser o propulsor do crescimento mundial e o imenso déficit norte-americano em conta corrente, que equivalia a 5% do PIB em 2002, segue aumentando.
Enquanto o déficit em conta corrente dos EUA exigir US$ 2 bilhões em capital a cada dia útil para seu financiamento, a pressão de baixa sobre o dólar persistirá.
Uma queda no dólar, que poderia prejudicar os mercados financeiros norte-americanos e produzir um choque deflacionário para o resto do mundo, foi evitada até agora, mas a ameaça de uma guerra com o Iraque agrava o risco. Em momentos de incerteza, o capital tende a ficar em casa, e os influxos de que os EUA precisam podem ser difíceis de atrair.
Se a guerra vier, os efeitos econômicos dependerão do sucesso da campanha. No modelo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, desenvolvido pela Oxford Economic Forecasting, o cálculo é que o cenário menos favorável, em que haveria significativas baixas militares norte-americanas e civis iraquianas, levaria o preço do petróleo a uma média de US$ 40 por barril em 2004 e causaria nova recessão nos EUA.
Mesmo que a guerra seja favorável, o problema econômico fundamental, a ressaca dos excessos econômicos dos anos 90, segue.


Tradução de Paulo Migliacci


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