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ARTIGO
Conflito põe mais incertezas em ano já ameaçado
ED CROOKS
DO "FINANCIAL TIMES"
Nas palavras vívidas de
Alan Greenspan, presidente
do Federal Reserve (Fed, o banco
central dos EUA), as economias
de seu país e a mundial estão em
"terreno desfavorável".
Tentando empurrar o crescimento para uma área mais firme,
Greenspan vem pressionando ao
máximo. Mas as demais autoridades financeiras nas principais
economias do mundo não se vêm
mostrando tão prestativas.
O governo Bush fez grandes esforços, mas está perdendo a força.
O Banco Central Europeu foi mais
lento e mais fraco que o Fed.
Os governos da zona do euro,
tendo passado o ano de 2002 fazendo nada, estão planejando
agora, por incrível que pareça,
pressionar na direção errada, com
seus planos de gastos e impostos.
E no Japão, tanto o banco central
quanto o governo estão debilitados demais por uma década de
batalha contra a deflação para fazer algo de muito significativo.
O período fraco, para o qual
Greenspan atraiu atenção pela
primeira vez em junho, provavelmente vai se prolongar por algum
tempo. O desequilíbrio do crescimento mundial e as prováveis
consequências de um ataque norte-americano ao Iraque talvez venham a representar areia movediça no caminho das economias.
Um ano atrás, na reunião do Fórum Econômico Mundial em Nova York, havia um contraste notável entre o pensamento positivo
dos políticos e a cautela dos empresários. A realidade terminou
por se colocar em um ponto intermediário entre os dois extremos.
A previsão dos Estados Unidos
quanto ao retorno de uma taxa
respeitável de crescimento foi
confirmada. Paul O'Neill, então
secretário do Tesouro norte-americano, foi demitido pelo presidente Bush no final do ano passado, mas não desiste de dizer que
suas opiniões se confirmaram. No
entanto, no começo de 2003, não
existem sinais até agora de uma
virada positiva no emprego ou no
investimento empresarial.
A previsão de consenso é que o
crescimento vai aumentar à medida que o ano avança, mas há
também consenso no sentido de
que os riscos dessa previsão são
no geral de que ela não se realize.
"Todo mundo incluiu uma aceleração do crescimento durante o
segundo semestre de 2003 em
suas perspectivas", disse Eric
Chaney, co-diretor de economia
européia no Morgan Stanley. "E
faz sentido que esperemos melhores notícias na entrada de 2004.
Mas no ano passado todo mundo
tinha as mesmas expectativas para o começo deste ano."
O que separou os líderes dos retardatários em 2002 foi o consumo. O investimento empresarial
caiu em praticamente todo mundo desenvolvido e o comércio internacional anda fraco. Mas os
consumidores nos países de língua inglesa continuaram gastando: acima de tudo nos EUA, graças a uma combinação de estímulos fiscais e monetários.
O custo inicial dos cortes de impostos anunciados pelo presidente Bush não será enorme: talvez
0,4% do Produto Interno Bruto
(PIB). Mas o relaxamento fiscal
dos dois últimos anos já é o segundo maior desde a Segunda
Guerra Mundial, excedido apenas
pelo que se seguiu à crise do petróleo de 1973.
Alguns dos desequilíbrios que a
economia dos EUA acumulou na
segunda metade dos anos 90 começam agora a se ajustar.
Os empréstimos das empresas,
que atingiram um pico de 6% do
faturamento das empresas não financeiras no primeiro trimestre
de 2000, agora estão em menos de
2%. A relação preço/lucro prospectiva do índice S&P 500 baseada no consenso das previsões sobre lucros empresariais, que atingiu um pico de 24 em 2000, está
agora de volta aos 16.
O ajuste do setor domiciliar, no
entanto, não parece encerrado. O
índice de poupança, que caiu a zero no quarto trimestre de 2001,
vem atingindo os 4% ou mais já
há diversos meses, mas, como
Greenspan observou recentemente, os pagamentos de juros
domiciliares como porcentagem
da renda familiar estão perto de
seu pico histórico.
"Os índices de poupança caíram
bem abaixo do que encararíamos
como prudente em termos de
provisões de aposentadoria", disse George Magnus, economista-chefe do UBS Warburg.
Na zona do euro, o estímulo
monetário foi muito mais fraco:
as taxas de juros reais continuam
positivas, ao contrário dos EUA.
E nem houve estímulo fiscal
digno de menção; o cumprimento do pacto de estabilidade e o
crescimento da União Européia
exigirão, neste ano, um aperto fiscal da ordem de pelo menos 0,5%
do PIB -e mais que isso na economia mais fraca da União Européia, a da Alemanha.
No Japão, enquanto isso, as taxas de juros de curto prazo já são
zero, na prática, e a fraqueza crônica das finanças públicas continua a tornar impossível novas
medidas de estímulo. A consequência é que os Estados Unidos
continuam a ser o propulsor do
crescimento mundial e o imenso
déficit norte-americano em conta
corrente, que equivalia a 5% do
PIB em 2002, segue aumentando.
Enquanto o déficit em conta
corrente dos EUA exigir US$ 2 bilhões em capital a cada dia útil para seu financiamento, a pressão
de baixa sobre o dólar persistirá.
Uma queda no dólar, que poderia prejudicar os mercados financeiros norte-americanos e produzir um choque deflacionário para
o resto do mundo, foi evitada até
agora, mas a ameaça de uma
guerra com o Iraque agrava o risco. Em momentos de incerteza, o
capital tende a ficar em casa, e os
influxos de que os EUA precisam
podem ser difíceis de atrair.
Se a guerra vier, os efeitos econômicos dependerão do sucesso
da campanha. No modelo do
Centro de Estudos Estratégicos e
Internacionais, desenvolvido pela
Oxford Economic Forecasting, o
cálculo é que o cenário menos favorável, em que haveria significativas baixas militares norte-americanas e civis iraquianas, levaria
o preço do petróleo a uma média
de US$ 40 por barril em 2004 e
causaria nova recessão nos EUA.
Mesmo que a guerra seja favorável, o problema econômico fundamental, a ressaca dos excessos
econômicos dos anos 90, segue.
Tradução de Paulo Migliacci
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