São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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Há suspeita de que transações com jogadores brasileiros tenham servido para desviar recursos a contas pessoais

Futebol pode ter enriquecido controladores

DA REPORTAGEM LOCAL

Para especialistas ouvidos pela Folha, as relações da Parmalat com clubes de futebol brasileiros viraram alvo de investigação da Justiça porque há suspeita de que os controladores da multinacional desviavam recursos da holding na Itália para subsidiárias em países com legislação e fiscalização menos rígidas -como o Uruguai- e, desses, para seus patrimônios pessoais.
Apesar de nesse tipo de operação a origem dos recursos não ser ilegal, acionistas minoritários da empresa, ou associados dos clubes que tinham co-gestão com ela, podem ter sido prejudicados pelo uso de "offshores", como o Uruguai, nas transações.
Os dirigentes dos clubes e os controladores da empresa têm, para com eles, a responsabilidade de maximizar os lucros. Na medida em que os recursos passavam pelo Uruguai, os ganhos da empresa diminuíam.
Esse tipo de operação na transferência de jogadores foi usado pela Portuguesa nos anos 90.
Quando vendeu o lateral Zé Roberto para a Espanha, a equipe paulista declarou ter recebido US$ 4,6 milhões. O time espanhol, no entanto, pagou US$ 9,98 milhões pela transação.
A Lusa teve que explicar ao Ministério Público e à Receita Federal como US$ 5,38 milhões sumiram na transação.
É que Zé Roberto foi transferido para o Central Español, do Uruguai, em 28 de fevereiro de 1997, por US$ 4,6 milhões e, no mesmo dia, repassado para o Real por US$ 9,98 milhões.
Para explicar a diferença, o então presidente da Lusa, Manuel Pacheco, disse que as partes de Zé Roberto e do empresário Juan Figer no negócio foram pagas por fora do contrato, o que serviu para burlar o fisco brasileiro e desviar recursos ao exterior.

Na Europa
Na Itália, a promotoria resolveu investigar as operações da Parmalat no futebol por suspeita, entre outras, de lavagem de dinheiro.
Começou há duas semanas a fazer uma devassa nas contas do Parma e encontrou uma série de irregularidades no balanço do time, que tem 98,7% de suas ações em mãos da Parmalat.
No caso da contratação do brasileiro Alex, por exemplo, que aconteceu em 2000, o clube contabilizou o pagamento de US$ 15 milhões para contratá-lo, mas o dinheiro efetivamente não saiu dos cofres do clube.
Na época, ele era presidido por Stefano Tanzi, filho de Calisto Tanzi, fundador e ex-controlador da multinacional de laticínios, que foi preso em Milão.
O artifício conhecido como lavagem de dinheiro é criar origem legítima para recursos obtidos de forma irregular.
Lavar dinheiro com jogador é um negócio atrativo porque a valorização dos passes pode ser grande em um curto espaço de tempo, sem levantar suspeita.
Se o proprietário dos direitos federativos de um atleta quiser lavar US$ 5 milhões, pode achar um comprador que está disposto a comprá-lo por US$ 2 milhões e fazer o seguinte negócio. Transfere US$ 5 milhões ""offshore" para o comprador e, em vez de este comprar o atleta por US$ 2 milhões, ele compra por US$ 6,5 milhões, usando US$ 4,5 milhões recebidos no paraíso fiscal e ficando com US$ 500 mil de prêmio.
Assim, os US$ 6,5 milhões podem entrar ""quentes" no país, e o dono do jogador lava US$ 4,5 milhões a um custo de US$ 500 mil. (JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO E LUÍSFERRARI)


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