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Há suspeita de que transações com jogadores brasileiros tenham servido para desviar recursos a contas pessoais
Futebol pode ter enriquecido controladores
DA REPORTAGEM LOCAL
Para especialistas ouvidos pela
Folha, as relações da Parmalat
com clubes de futebol brasileiros
viraram alvo de investigação da
Justiça porque há suspeita de que
os controladores da multinacional desviavam recursos da holding na Itália para subsidiárias
em países com legislação e fiscalização menos rígidas -como o
Uruguai- e, desses, para seus patrimônios pessoais.
Apesar de nesse tipo de operação a origem dos recursos não ser
ilegal, acionistas minoritários da
empresa, ou associados dos clubes que tinham co-gestão com
ela, podem ter sido prejudicados
pelo uso de "offshores", como o
Uruguai, nas transações.
Os dirigentes dos clubes e os
controladores da empresa têm,
para com eles, a responsabilidade
de maximizar os lucros. Na medida em que os recursos passavam
pelo Uruguai, os ganhos da empresa diminuíam.
Esse tipo de operação na transferência de jogadores foi usado
pela Portuguesa nos anos 90.
Quando vendeu o lateral Zé Roberto para a Espanha, a equipe
paulista declarou ter recebido
US$ 4,6 milhões. O time espanhol,
no entanto, pagou US$ 9,98 milhões pela transação.
A Lusa teve que explicar ao Ministério Público e à Receita Federal como US$ 5,38 milhões sumiram na transação.
É que Zé Roberto foi transferido
para o Central Español, do Uruguai, em 28 de fevereiro de 1997,
por US$ 4,6 milhões e, no mesmo
dia, repassado para o Real por
US$ 9,98 milhões.
Para explicar a diferença, o então presidente da Lusa, Manuel
Pacheco, disse que as partes de Zé
Roberto e do empresário Juan Figer no negócio foram pagas por
fora do contrato, o que serviu para burlar o fisco brasileiro e desviar recursos ao exterior.
Na Europa
Na Itália, a promotoria resolveu
investigar as operações da Parmalat no futebol por suspeita, entre
outras, de lavagem de dinheiro.
Começou há duas semanas a fazer uma devassa nas contas do
Parma e encontrou uma série de
irregularidades no balanço do time, que tem 98,7% de suas ações
em mãos da Parmalat.
No caso da contratação do brasileiro Alex, por exemplo, que
aconteceu em 2000, o clube contabilizou o pagamento de US$ 15
milhões para contratá-lo, mas o
dinheiro efetivamente não saiu
dos cofres do clube.
Na época, ele era presidido por
Stefano Tanzi, filho de Calisto
Tanzi, fundador e ex-controlador
da multinacional de laticínios,
que foi preso em Milão.
O artifício conhecido como lavagem de dinheiro é criar origem
legítima para recursos obtidos de
forma irregular.
Lavar dinheiro com jogador é
um negócio atrativo porque a valorização dos passes pode ser
grande em um curto espaço de
tempo, sem levantar suspeita.
Se o proprietário dos direitos federativos de um atleta quiser lavar
US$ 5 milhões, pode achar um
comprador que está disposto a
comprá-lo por US$ 2 milhões e fazer o seguinte negócio. Transfere
US$ 5 milhões ""offshore" para o
comprador e, em vez de este comprar o atleta por US$ 2 milhões,
ele compra por US$ 6,5 milhões,
usando US$ 4,5 milhões recebidos no paraíso fiscal e ficando
com US$ 500 mil de prêmio.
Assim, os US$ 6,5 milhões podem entrar ""quentes" no país, e o
dono do jogador lava US$ 4,5 milhões a um custo de US$ 500 mil.
(JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO E LUÍSFERRARI)
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