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CONTRA
Conservadorismo do Copom vai retardar o crescimento
ALEX AGOSTINI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em sua 92ª reunião, o Copom
(Comitê de Política Monetária) foi extremamente conservador e contrariou todas as expectativas do mercado financeiro ao
decidir por manter a taxa básica
de juros (Selic) em 16,5% ao ano.
O que convém neste momento é
discutir a alteração de atitude do
Copom em relação à condução da
política monetária.
Antes da reunião da semana
passada, havia no cenário para
2004 a possibilidade de o Copom
promover em algum momento,
talvez em março ou abril, uma parada estratégica na redução dos
juros para fazer um prognóstico
de como reagiu a economia brasileira diante das últimas reduções
da taxa básica.
No entanto, acredito que foi extremamente prematura a decisão
do Copom em manter os juros
paralisados. Sabe-se que o setor
industrial, tradicionalmente, sofre redução no seu nível de produção entre os meses de novembro e
fevereiro. Portanto, só seria possível fazer um balanço exato da reação da economia diante das reduções dos juros por volta de março
ou abril, como citado anteriormente.
No que diz respeito à inflação, o
processo de aceleração estabelecido entre o final de 2002 e início de
2003 foi um momento em que a
decisão de subir a taxa de juros foi
acertada por parte do Copom. No
entanto, a partir de maio de 2003 a
taxa de inflação acumulada em 12
meses entrou em trajetória descendente, passando de 17,2% para
atuais 9,3% (IPCA), com expectativa de manter essa trajetória até
meados de 2004.
Portanto, não faz sentido justificar que é necessário "preservar as
conquistas recentes no combate à
inflação", pois essa conquista
ocorreu há algum tempo.
A adoção de extremo conservadorismo por parte do Copom
causa outros efeitos colaterais à
economia que vão além da sua jurisdição.
Uma delas é o fato do país ainda
ser o primeiro no ranking das
maiores taxas de juros reais
(9,95% contra 8,6% da Hungria,
em segundo lugar) e isso faz com
que uma parte do capital que está
investido no mercado financeiro
e poderia ser direcionado ao setor
produtivo em 2004, permaneça
por mais algum tempo no mercado financeiro rendendo o melhor
retorno em todo o mundo.
Outro efeito sobre a economia é
a postergação do início do processo de reabilitação do mercado de
trabalho, ou seja, recuperação da
renda do trabalhador e geração de
novos postos de trabalho, fato que
estava previsto para ocorrer entre
o final do primeiro semestre deste
ano e que agora poderá ocorrer
somente no segundo semestre.
Ademais, há ainda a questão de
um desencaixe desnecessário por
parte do governo federal para pagar a rentabilidade de seus títulos
que estão no mercado financeiro.
A manutenção da taxa deverá
custar aos cofres do governo R$
2,2 bilhões nos próximos 12 meses. Portanto, a dívida pública interna, que tem 61,5% de seus títulos indexados à taxa de juros
(50,5% Selic e 11% prefixados),
continuará elevada.
Por fim, o Copom perdeu uma
janela de oportunidade para testar novos níveis de taxas de juros
nunca vistos na história recente
da economia brasileira e, dessa
forma, tentar sair da situação
"stop and go" do crescimento
econômico brasileiro ocorrido
nos últimos anos.
A última vez que o país viveu juros abaixo do patamar de 15% ao
ano foi em março de 1975 (13,6%).
Na medida em que se retarda uma
queda mais consistente dos juros,
ampliam-se os riscos de novamente ocorrer uma crise interna
e, mais uma vez, abortar o processo de retomada do crescimento.
A manutenção dos juros no
mercado externo em níveis historicamente baixos é muito favorável ao Brasil, pois isso direciona
capitais de investimentos para o
país e produz efeitos positivos nas
contas externas, como tem ocorrido nos últimos meses.
Outro ponto crítico é a manutenção da meta de inflação de forma rígida. Ou seja, num país como o Brasil, a taxa de câmbio flutuante, os problemas no fechamento das contas externas ainda
não equacionados por completo e
as tarifas públicas indexadas são
fatores que comprometem a queda dos juros no médio prazo, por
causa do cumprimento da meta
de inflação, que não tem refresco
mesmo estando no gargalo.
Espera-se que o Copom seja
muito menos conservador daqui
por diante em prol da economia
brasileira.
Alexsandro Agostini Barbosa é economista da consultoria Global Invest.
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