São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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A FAVOR

Base para crescimento sustentável está sendo formada

JOSÉ ARTHUR ASSUNÇÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O ano de 2004 vai marcar a retomada do crescimento econômico. Grande parte dos analistas afirma categoricamente que o Produto Interno Bruto nacional crescerá, no mínimo 3,5%. Os mais otimistas crêem que a elevação do PIB poderá chegar aos 5%.
Minha intenção não é colocar "água no chope" de tanto otimismo. Muito pelo contrário. Eu acredito também no crescimento econômico. E mais. Acredito que está sendo formada a base para que o crescimento seja sustentável. E o crescimento, desta vez, precisa realmente ser sustentável, diferentemente dos tempos passados quando o esquema era: cresce um pouquinho, pára um pouquinho.
E, quando afirmo que a base está sendo construída, quero dizer que a política monetária adotada pelo Banco Central, pelo menos até o momento, é impecável. Nos primeiros cinco meses de 2003, mesmo sofrendo pressões das centrais sindicais e de todo o setor produtivo, a autoridade monetária manteve uma política ainda mais restritiva que a dos tempos de Fernando Henrique Cardoso.
Poderíamos hoje, em vez de estarmos discutindo se os juros deveriam ou não ter caído na última reunião do Copom, estarmos falando de quais instrumentos o BC deveria lançar mão para conter a inflação, que já estaria galopando como no passado.
O mesmo Banco Central que golpeou a inflação em 2003 foi o que cortou dez pontos percentuais dos juros nos últimos sete meses. E é o mesmo que, na última quarta-feira, manteve a taxa em 16,5%, sofrendo todo o tipo de crítica. Mas, pergunto: Henrique Meirelles e equipe não merecem uma dose de confiança? Na minha opinião, sim. O Banco Central é o defensor da moeda e é para isso que ele existe.
A luta contra a inflação continua sendo fundamental para que todos os avanços conquistados até o momento sejam preservados, mantendo a chama do crescimento viva e real.
A manutenção da Selic em 16,5% só ratificou o que fora divulgado há um mês, na ata do Copom de dezembro, em que se afirmou que, daquele momento em diante, as quedas na taxa básica de juros seguiriam um ritmo bem mais gradual do que o verificado no segundo semestre de 2003.
Apenas como lembrete, de junho até dezembro de 2003, os juros básicos da economia caíram dez pontos percentuais, o que definitivamente não é pouco.
Leva algum tempo para que a redução dos juros surta efeitos práticos na economia. Isso quer dizer que neste início de ano é que começaremos a sentir um maior aquecimento da atividade econômica.
A taxa Selic ainda é alta? Certamente, se levarmos em conta a projeção de inflação para o ano, inferior a 6%. Os juros reais, taxa básica descontada a inflação, ainda permanecem no patamar médio de 10%, bem maior do que os praticados nos países emergentes.
Mas, até o final do ano, todas as projeções indicam que os juros cairão para algo próximo a 13%. Isso nos leva a crer em quedas bastante gradativas daqui em diante, amortecendo possíveis pressões inflacionárias.
Um outro fator terá que ser considerado daqui a algum tempo: a possível elevação da taxas de juros norte-americana e da União Européia. Os juros nos países desenvolvidos foram reduzidos drasticamente, após a crise econômica que se abateu sobre a economia mundial, agravada pelos atentados de 11 de setembro de 2001.
Mas, em algum momento, talvez ainda neste ano, as taxas desses países terão que ser elevadas. Nos Estados Unidos, o déficit público está em níveis preocupantes.
O resultado de uma recomposição de taxas nos Estados Unidos e União Européia, aliado às quedas dos juros no Brasil, poderá provocar uma fuga de dólares do mercado nacional, trazendo possivelmente problemas de liquidez.
Mas não faz muito sentido se estender tanto nas projeções, porque a economia é extremamente complexa e dinâmica. Hoje mesmo, uma crise econômica lá do outro lado do mundo poderá obrigar nosso Comitê de Política Monetária a elevar a Selic para 50%, o que já aconteceu várias vezes no nosso passado recente.
Pois é, antes de terminar, vou bater aqui na madeira e pediria que você fizesse o mesmo onde estiver.


José Arthur Assunção é presidente da Federação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi) e diretor da ASB Financeira.


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