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A FAVOR
Base para crescimento sustentável está sendo formada
JOSÉ ARTHUR ASSUNÇÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O ano de 2004 vai marcar a
retomada do crescimento
econômico. Grande parte dos
analistas afirma categoricamente
que o Produto Interno Bruto nacional crescerá, no mínimo 3,5%.
Os mais otimistas crêem que a
elevação do PIB poderá chegar
aos 5%.
Minha intenção não é colocar
"água no chope" de tanto otimismo. Muito pelo contrário. Eu
acredito também no crescimento
econômico. E mais. Acredito que
está sendo formada a base para
que o crescimento seja sustentável. E o crescimento, desta vez,
precisa realmente ser sustentável,
diferentemente dos tempos passados quando o esquema era:
cresce um pouquinho, pára um
pouquinho.
E, quando afirmo que a base está sendo construída, quero dizer
que a política monetária adotada
pelo Banco Central, pelo menos
até o momento, é impecável. Nos
primeiros cinco meses de 2003,
mesmo sofrendo pressões das
centrais sindicais e de todo o setor
produtivo, a autoridade monetária manteve uma política ainda
mais restritiva que a dos tempos
de Fernando Henrique Cardoso.
Poderíamos hoje, em vez de estarmos discutindo se os juros deveriam ou não ter caído na última
reunião do Copom, estarmos falando de quais instrumentos o BC
deveria lançar mão para conter a
inflação, que já estaria galopando
como no passado.
O mesmo Banco Central que
golpeou a inflação em 2003 foi o
que cortou dez pontos percentuais dos juros nos últimos sete
meses. E é o mesmo que, na última quarta-feira, manteve a taxa
em 16,5%, sofrendo todo o tipo de
crítica. Mas, pergunto: Henrique
Meirelles e equipe não merecem
uma dose de confiança? Na minha opinião, sim. O Banco Central é o defensor da moeda e é para
isso que ele existe.
A luta contra a inflação continua sendo fundamental para que
todos os avanços conquistados
até o momento sejam preservados, mantendo a chama do crescimento viva e real.
A manutenção da Selic em
16,5% só ratificou o que fora divulgado há um mês, na ata do Copom de dezembro, em que se afirmou que, daquele momento em
diante, as quedas na taxa básica
de juros seguiriam um ritmo bem
mais gradual do que o verificado
no segundo semestre de 2003.
Apenas como lembrete, de junho até dezembro de 2003, os juros básicos da economia caíram
dez pontos percentuais, o que definitivamente não é pouco.
Leva algum tempo para que a
redução dos juros surta efeitos
práticos na economia. Isso quer
dizer que neste início de ano é que
começaremos a sentir um maior
aquecimento da atividade econômica.
A taxa Selic ainda é alta? Certamente, se levarmos em conta a
projeção de inflação para o ano,
inferior a 6%. Os juros reais, taxa
básica descontada a inflação, ainda permanecem no patamar médio de 10%, bem maior do que os
praticados nos países emergentes.
Mas, até o final do ano, todas as
projeções indicam que os juros
cairão para algo próximo a 13%.
Isso nos leva a crer em quedas
bastante gradativas daqui em
diante, amortecendo possíveis
pressões inflacionárias.
Um outro fator terá que ser considerado daqui a algum tempo: a
possível elevação da taxas de juros
norte-americana e da União Européia. Os juros nos países desenvolvidos foram reduzidos drasticamente, após a crise econômica
que se abateu sobre a economia
mundial, agravada pelos atentados de 11 de setembro de 2001.
Mas, em algum momento, talvez ainda neste ano, as taxas desses países terão que ser elevadas.
Nos Estados Unidos, o déficit público está em níveis preocupantes.
O resultado de uma recomposição de taxas nos Estados Unidos e
União Européia, aliado às quedas
dos juros no Brasil, poderá provocar uma fuga de dólares do mercado nacional, trazendo possivelmente problemas de liquidez.
Mas não faz muito sentido se estender tanto nas projeções, porque a economia é extremamente
complexa e dinâmica. Hoje mesmo, uma crise econômica lá do
outro lado do mundo poderá
obrigar nosso Comitê de Política
Monetária a elevar a Selic para
50%, o que já aconteceu várias vezes no nosso passado recente.
Pois é, antes de terminar, vou
bater aqui na madeira e pediria
que você fizesse o mesmo onde
estiver.
José Arthur Assunção é presidente da
Federação Nacional das Instituições de
Crédito, Financiamento e Investimento
(Fenacrefi) e diretor da ASB Financeira.
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