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OPINIÃO ECONÔMICA
Ainda Mercosul
ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA
O Mercosul continua participando ativamente da
agenda política e econômica das
autoridades brasileiras e lideranças empresariais. Também continua sendo apaixonadamente discutido por economistas, cientistas
políticos e pelos que se interessam
pelas relações internacionais.
Nas últimas semanas ou meses,
independentemente das questões
sempre debatidas e não equacionadas das salvaguardas comercias que a Argentina quer impor a
alguns produtos brasileiros e que
se aproximam de uma solução
concessiva de nossa parte, entrou
na ordem do dia a questão referente à inclusão de Venezuela e
Bolívia.
As opiniões estão divididas,
muito embora a voz dos críticos
em relação à adesão da Venezuela
tenha feito se ouvir com maior intensidade, pois identificam nessa
associação apenas motivações
políticas do seu presidente. Não se
valorizam os benefícios de ter a
Venezuela como associada, e sim
a personalidade de Chávez, que
tem tomado atitudes bastante
questionáveis na gestão política e
econômica, usando petrodólares.
O mesmo se aplicaria ao convite
feito ao presidente da Bolívia, Evo
Morales, por ocasião da visita realizada ao nosso país antes de sua
posse, para adesão plena ao Mercosul. Como no caso da Venezuela, não são nada desprezíveis os
argumentos de tê-los no acordo,
tendo em vista sua importância
estratégica no setor energético.
Como exemplo, o projeto de
construção do gasoduto que ligará a Venezuela aos países do Cone
Sul passando pelo Brasil é um dos
temas que vem tratando nosso
presidente com Chávez e Kirchner. Os três países formaram, em
fevereiro de 2005, aliança estratégica voltada ao setor energético.
Convém não esquecer que Bolívia
e Venezuela competem para fornecer gás para Brasil e Argentina.
Novidade é a criação do Banco
do Sul, organismo regional de financiamento de projetos sociais e
econômicos, proposto por Chávez, que obteve o aval de Lula e de
Kirchner durante recente encontro em Brasília. Ainda está por ser
decidido se essa instituição será
uma evolução da CAF (Corporação Andina de Fomento) ou um
organismo novo. Chávez anunciou que poderia alocar parte das
suas reservas internacionais para
financiar programas de desenvolvimento econômico e social. Efetivamente, ele tem aplicado recursos vultosos para comprar alianças estratégicas na região. Estima-se, por exemplo, que tenha investido US$ 2 bilhões em títulos argentinos.
Não creio que o problema principal, no campo social e da sustentabilidade, esteja ligado à disponibilidade de recursos, e sim à
nossa competência de saber aplicá-los com eficiência. Assim, sou
cético quanto à criação de mais
uma instituição.
Nas últimas semanas, o Uruguai, expressando com maior
veemência sua insatisfação com a
atenção que lhe tem sido dispensada pelos parceiros fortes do
Mercosul, tem feito acenos de
buscar um acordo bilateral de livre comércio com os Estados
Unidos. Isso implicaria, se concretizado, em sua saída do Mercosul. Não está claro se está buscando maior atenção (há no momento uma disputa com a Argentina a
respeito de indústrias de celulose
na fronteira) ou se de fato existe
tal interesse. É difícil imaginar
uma genuína motivação norte-americana em um acordo comercial devido às discussões da economia uruguaia.
Quanto ao Paraguai, não ficou
ainda plenamente esclarecida a
questão da presença militar dos
EUA, motivo de nossa atenção,
mas esse país vizinho tem registrado sua insatisfação pelo abandono a que foi submetido, particularmente em relação a alguns
temas do contencioso bilateral.
De qualquer forma, é fundamental continuar olhando com
maior atenção os interesses dos
sócios menores do Mercosul.
Malgrado todas as dificuldades,
o Mercosul representa um importante instrumento político, econômico e financeiro para o Cone
Sul e seria inaceitável seu fracasso.
Apesar de todas as dificuldades, o
comércio do Brasil com a Argentina é da maior relevância, assim
como os investimentos recíprocos e o peso estratégico dessa
aliança. Concordo que nossa liderança é importante, não se exercendo somente por falatório, e
sim com medidas efetivas de políticas afirmativas.
Em vez de atirar pedras, creio
que faça mais sentido juntá-las
para fortalecer sua blindagem e
torná-lo cada vez mais efetivo.
Roberto Teixeira da Costa foi presidente do Ceal -Conselho de Empresários da América Latina- por oito anos e
faz parte do seu Comitê Estratégico Internacional. Foi um dos fundadores do
Cebri e é membro do Board do Interamerican Dialogue, de Washington.
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