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VINICIUS TORRES FREIRE
Riso e ranger de dentes pós-PAC
Blocos no Congresso, plano econômico, Estado ativo e vagas promessas de reforma insinuam nova coalizão lulista
BONS ECONOMISTAS de grandes
bancos esculhambavam ontem o plano de Lula 2, na
inauguração da nova casa do sindicato patronal dos bancos, a Febraban. Mas Márcio Cypriano, patrão
de alguns deles, presidente do Bradesco e da Febraban, fazia elogios ao
PAC. Louvor algo vaporoso, decerto,
mas além da mera praxe banqueira,
otimista sobre o aumento do crédito
imobiliário e da atividade dos bancos de investimento no pós-PAC.
Em Brasília, o Banco Central se
aprontava para fazer girar o mundo
real e paralelo ao universo risonho
do PAC. Lula, a premiê Dilma Rousseff e Estado-Maior recebiam a cúpula da siderurgia, à frente Jorge
Gerdau, também o mais influente líder de empresa do país, embora a
política empresarial tenha se tornado algo murcha no período democrático, descontado o lobby direto e
propriamente dito. Para a semana,
Lula volta a receber a cúpula da indústria de base, a Abdib, representante de interesses de empresas de
construção, energia, teles e indústria pesada.
Trata-se dos setores empresariais
eleitos pelo PAC. Não, não se trata
aqui de picuinhas sobre lobby. Mesmo que se desgoste do pacote de Lula 2, seu plano vai muito além disso.
Interessa é que Lula pediu aos empresários que fizessem lobby político e social pelo PAC. Pode haver alguma novidade aí, "light" como o
PAC, pois, afora as privatizantes, a
grande empresa andava mais longe
do Planalto nos anos FHC.
A política de aprovação do PAC vai
ser dificultosa. Ao riso dos eleitos, já
começa a se contrapor o ranger de
dentes de opositores. Pelo plano Lula 2, os servidores federais não terão
mais aumento algum pela próxima
década. Como a CUT apelegada no
governo Lula, repleta de servidores,
lidará com o caso? Já há beiços, ainda secretos, também no Judiciário.
Os governadores estreantes ou
reestreantes vão querer lascas grossas do dinheiro federal a fim de facilitar a tramitação do pacote. Querem dinheiro da CPMF, não querem
perder dinheiro para os municípios
no Fundeb (o fundo de redistribuição do dinheiro nacional para a educação básica e média). Querem pagar menos dívida para a União.
O empresariado que ficou fora do
PAC organiza discretas cruzadas em
direção à Jerusalém neodesenvolvimentista de Lula. Há o rolo do investimento bancado pelo FGTS, nesga
das centrais oposicionistas, mas isso
é pouca coisa.
Grande coisa é o que analistas políticos vêm observando desde o início da campanha para a eleição do
sindicato dos deputados, vulgo eleição na Câmara: a ressurgência pré-carnavalesca dos blocões do baixo
clero. O lulismo-petismo ressuscita
a deputação de alta rotatividade, a
migração de deputados para o calor
do governismo. Engorda o PR (o ex-PL mensaleiro), inventa o blocão do
PSB, PDT, PC do B e agregados; terá
muitos restos a pagar pela adesão do
PMDB. A "governança corporativa"
da corporação estatal deve piorar
bem com o custo da coalizão.
O governismo diz que o presidente da República tomou alguma lição
da crise mensaleira; que se rendeu
ao menos à necessidade de apresentar "reformas" e que isso demandará
grande base no Congresso. Mas parece mesmo é haver indícios claros
de que Lula que reproduzir e ampliar sua coalizão social e política.
vinit@uol.com.br
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