São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Analistas se dividem sobre efeitos da decisão do Copom

Economista diz que decisão deteriora expectativas sobre programa de crescimento

Especialistas dizem que queda maior poderia ajudar país a crescer com o PAC; para outros, no longo prazo, juros têm impacto reduzido


MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os juros começaram a cair com mais parcimônia, como diz o Banco Central. Para alguns economistas, a decisão atrapalha os objetivos do PAC, ao não alimentar expectativas positivas sobre o crescimento. Mas há quem diga que os juros pouco influenciarão no cenário de crescimento para este ano e que a decisão do BC não terá impacto nas medidas do PAC.
Por um lado, há quem avalie que uma redução mais acentuada dos juros, ou pelo menos a continuidade do ritmo de queda, seria um empurrãozinho extra para o PAC. Essa é, por exemplo, a posição do setor industrial, que há muito reclama das altas taxas reais de juros mantidas pelo Banco Central.
O raciocínio por trás da posição é o seguinte: juros menores hoje significam atividade mais aquecida no futuro. Antecipando o aumento no consumo, empresários tenderiam a fazer mais planos de investimentos, preparando-se para atender à procura extra que o crescimento mais acelerado geraria.
Quem advoga que seria bom uma forcinha da política monetária para acelerar o crescimento e ajudar o governo a atingir as metas do PAC, acha que o otimismo gerado pela queda é essencial para que o crescimento previsto no PAC, de 4,5% em 2007, se concretize.
João Sicsú, economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), está entre os que avaliam que era preciso que a política monetária se alinhasse aos objetivos do PAC. Sicsú classifica o PAC como um pacote essencialmente fiscal. Faltam ao plano, diz ele, medidas monetárias (queda dos juros) e cambiais.
Pacotes ou planos, diz Sicsú, "são instrumentos de coordenação de expectativas". Para o economista, queda menor do que 0,5%, como a de ontem, não ajuda em nada. O mínimo seria ter mantido os juros. Apenas uma aceleração da queda, algo como 0,75%, geraria "clima muito favorável de expectativas". Além disso, diz ele, juros menores também abrem espaço no orçamento para que o governo conduza com tranqüilidade o lado fiscal do pacote.
Já Octávio de Barros, economista do Bradesco, afirma que a política monetária tem muito pouco a fazer pelo PAC em particular ou pelo crescimento de maneira geral. "A política monetária só tem impacto no longo prazo", diz ele.
Reduções ou aumentos dos juros, argumenta Barros, podem vitaminar o que os economistas chamam de demanda agregada, ou a procura por bens e serviços na economia. Os juros caem, o crédito fica mais barato, consumidores vão às compras. Mas, diz ele, a queda dos juros não têm impactos sobre a oferta. Assim, reduções exageradas dos juros, argumentam os que estão com Barros, aquecem a procura, que, frente a uma oferta mais rígida, acaba causando apenas inflação.
"Os juros caíram de 26,5% em fevereiro de 2003 para 13,25% [até ontem] agora e a economia continuou crescendo pouco", ressalta.
A política monetária, lembram os economistas, também não tem impactos imediatos sobre a demanda. Pelo contrário, ela demora alguns meses -nove, arriscam os analistas-, para que todo o potencial de expansão da procura gerado pela queda de juros ocorra.
Assim, em boa parte deste ano, dizem os analistas, ainda que os juros caiam mais devagar ou menos do que em 2006, a economia ainda estará reagindo às quedas promovidas no ano passado. Mais alguns meses, lembram, e as decisões da política monetária deste ano passarão a ter impacto de verdade apenas em 2008.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Riso e ranger de dentes pós-PAC
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.