São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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ABRAM SZAJMAN

Metrópole solidária

As elites dirigentes de SP têm de entender que o futuro só pode ser forjado a partir de valores da solidariedade

A CIDADE de São Paulo chega aos 454 anos de vida exibindo números, títulos e performances que impressionam. Responsável por 12% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, o seu próprio PIB é maior que o de todos os Estados brasileiros, à exceção do Estado de São Paulo. Seu Orçamento é o terceiro maior do Brasil. Em comparação com a economia gigante do planeta, a dos Estados Unidos, o PIB paulistano supera o de 23 Estados norte-americanos. Se fosse um país, estaria entre as 50 maiores economias do mundo, à frente das Filipinas e da Romênia. Na América do Sul, com um PIB cinco vezes maior que o do Uruguai, estaria disputando a quinta colocação com o Chile.
Após seus primeiros 300 anos, período em que não passou de um arraial de sertanistas, São Paulo evoluiu vertiginosamente. Tornou-se uma metrópole na virada do século 19 para o 20. Recebeu imigrantes, industrializou-se e chegou ao século 21 como a terceira cidade do mundo, a maior das Américas e do hemisfério Sul, com 11 milhões de habitantes. É a maior cidade japonesa, portuguesa ou espanhola fora dos respectivos países e a terceira maior cidade italiana, fora da Itália.
Nas últimas décadas do século passado, deixou de ser industrial e seu perfil adquiriu as feições atuais: pólo de referência e excelência mundial no comércio e nos serviços.
É o principal centro financeiro da América Latina, tem a segunda maior frota de helicópteros do mundo (perde só para Nova York), e sua Bolsa de Valores, a Bovespa, movimenta um volume de negócios de R$ 6 bilhões diários. Destaca-se tanto pelo consumo de massa, que tem na rua 25 de Março seu maior símbolo, como pelo comércio de luxo, já que a rua Oscar Freire é considerada uma das oito mais luxuosas do globo. Capital mundial da gastronomia desde 1997, produz cerca de 1 milhão de pizzas por dia. Com museus como o Masp, teatros, cinemas e salas de concerto, oferece uma atividade cultural permanente e de qualidade, com espetáculos gratuitos ou a preços acessíveis.
Apesar de êxitos de dimensões tão retumbantes, seus problemas não ficam atrás. Os contrastes sociais saltam à vista e os serviços públicos de educação e saúde nos bairros da periferia, onde vive a maioria da população, estão longe de um nível satisfatório. Isso ocorre em parte porque os paulistanos pagam quase R$ 100 bilhões de impostos, mas o Orçamento de sua prefeitura é de R$ 15 bilhões, ou seja, menos de 6% do próprio PIB da cidade, que deve atingir mais de R$ 300 bilhões em 2007. O que talvez explique por que o nosso sistema de transporte público é precário, por que a rede de metrô é tão reduzida quando comparada a outras capitais mundiais e por que nossos aeroportos atingiram a situação de saturação atual.
A falta de investimentos em infra-estrutura urbana pode transformar o sucesso em problema. O maior faturamento do comércio em 2007 deveu-se, por exemplo, à venda financiada de veículos, que, ao se incorporarem à frota da cidade, vão gerar poluição e engarrafamento, exigindo providências das autoridades.
Para que São Paulo possa se igualar em termos de desenvolvimento humano àquelas muitas cidades e países que já supera em pujança econômica, é preciso que suas elites dirigentes compreendam que o futuro somente pode ser forjado a partir dos valores da solidariedade. É tempo de termos consciência de que fora da responsabilidade social e ambiental não há alternativas, a não ser o retrocesso e a barbárie.


ABRAM SZAJMAN é presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP) e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac

Excepcionalmente, hoje, a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não é publicada.


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