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ABRAM SZAJMAN
Metrópole solidária
As elites dirigentes de SP têm de entender que o futuro só
pode ser forjado a partir de
valores da solidariedade
A CIDADE de São Paulo chega
aos 454 anos de vida exibindo
números, títulos e performances que impressionam. Responsável por 12% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, o seu próprio
PIB é maior que o de todos os Estados brasileiros, à exceção do Estado
de São Paulo. Seu Orçamento é o
terceiro maior do Brasil. Em comparação com a economia gigante do
planeta, a dos Estados Unidos, o PIB
paulistano supera o de 23 Estados
norte-americanos. Se fosse um país,
estaria entre as 50 maiores economias do mundo, à frente das Filipinas e da Romênia. Na América do
Sul, com um PIB cinco vezes maior
que o do Uruguai, estaria disputando a quinta colocação com o Chile.
Após seus primeiros 300 anos, período em que não passou de um arraial de sertanistas, São Paulo evoluiu vertiginosamente. Tornou-se
uma metrópole na virada do século
19 para o 20. Recebeu imigrantes,
industrializou-se e chegou ao século
21 como a terceira cidade do mundo,
a maior das Américas e do hemisfério Sul, com 11 milhões de habitantes. É a maior cidade japonesa, portuguesa ou espanhola fora dos respectivos países e a terceira maior cidade italiana, fora da Itália.
Nas últimas décadas do século
passado, deixou de ser industrial e
seu perfil adquiriu as feições atuais:
pólo de referência e excelência
mundial no comércio e nos serviços.
É o principal centro financeiro da
América Latina, tem a segunda
maior frota de helicópteros do mundo (perde só para Nova York), e sua
Bolsa de Valores, a Bovespa, movimenta um volume de negócios de
R$ 6 bilhões diários. Destaca-se tanto pelo consumo de massa, que tem
na rua 25 de Março seu maior símbolo, como pelo comércio de luxo, já
que a rua Oscar Freire é considerada
uma das oito mais luxuosas do globo. Capital mundial da gastronomia
desde 1997, produz cerca de 1 milhão de pizzas por dia. Com museus
como o Masp, teatros, cinemas e salas de concerto, oferece uma atividade cultural permanente e de qualidade, com espetáculos gratuitos ou a
preços acessíveis.
Apesar de êxitos de dimensões tão
retumbantes, seus problemas não
ficam atrás. Os contrastes sociais
saltam à vista e os serviços públicos
de educação e saúde nos bairros da
periferia, onde vive a maioria da população, estão longe de um nível satisfatório. Isso ocorre em parte porque os paulistanos pagam quase R$
100 bilhões de impostos, mas o Orçamento de sua prefeitura é de R$ 15
bilhões, ou seja, menos de 6% do
próprio PIB da cidade, que deve
atingir mais de R$ 300 bilhões em
2007. O que talvez explique por que
o nosso sistema de transporte público é precário, por que a rede de metrô é tão reduzida quando comparada a outras capitais mundiais e por
que nossos aeroportos atingiram a
situação de saturação atual.
A falta de investimentos em infra-estrutura urbana pode transformar
o sucesso em problema. O maior faturamento do comércio em 2007
deveu-se, por exemplo, à venda financiada de veículos, que, ao se incorporarem à frota da cidade, vão
gerar poluição e engarrafamento,
exigindo providências das autoridades.
Para que São Paulo possa se igualar em termos de desenvolvimento
humano àquelas muitas cidades e
países que já supera em pujança econômica, é preciso que suas elites dirigentes compreendam que o futuro
somente pode ser forjado a partir
dos valores da solidariedade. É tempo de termos consciência de que fora da responsabilidade social e ambiental não há alternativas, a não ser
o retrocesso e a barbárie.
ABRAM SZAJMAN é presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP) e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac
Excepcionalmente, hoje, a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não é publicada.
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