São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAUL DE GRAUWE

Agências de risco podem fazer mal


Assim como os maços de cigarro alertam sobre o fumo, as agências de risco deveriam alertar sobre suas avaliações


A STANDARD & POOR'S rebaixou a classificação de Espanha, Grécia e Portugal e alertou que a Irlanda pode sofrer destino semelhante. Será que estou ouvindo direito?
A S&P continua no negócio de produzir análises de risco? Será que as agências de classificação de crédito não deveriam ter fechado as portas, depois de passarem anos dizendo que os riscos associados às dívidas cada vez maiores dos bancos e das grandes companhias não eram causa de preocupação? Como essas agências, que se provaram sistematicamente incorretas em suas passadas previsões, podem ser consideradas confiáveis em novas análises?
Mas, surpreendentemente, elas sobreviveram e parecem bem, e sua credibilidade, ao que parece, foi restaurada. As agências vêm sendo ouvidas pelos mercados quando nos alertam sobre os riscos associados às dívidas de governos da zona do euro. Como resultado, os juros que esses governos precisam pagar sobre sua captação aumentam.
No passado recente, o mercado acreditou nessas mesmas agências de crédito quando elas deram seu carimbo de aprovação à explosão do endividamento de empresas privadas. Como resultado, essas companhias passaram a poder financiar suas operações recorrendo ao mercado, e a juros cada vez mais baixos. Isso resultou em desastre.
Na estatística, há uma distinção entre erros de tipo 1 e de tipo 2. Um erro de tipo 1 acontece quando uma hipótese (por exemplo, a de que tal companhia é arriscada) é rejeitada quando deveria ter sido acatada. Um de tipo 2 acontece quando uma hipótese (tal companhia é arriscada) termina aceita quando deveria ter sido rejeitada.
As agências produziam erros de tipo 1 sistematicamente no passado recente. Acreditavam demais na solidez das empresas privadas que estavam classificando e deixavam de identificar os imensos riscos que essas empresas estavam assumindo, até que a crise irrompesse. Não há motivo para acreditar que agências que se provaram tão capazes de cometer erros de tipo 1 sejam menos capazes de cometer erros de tipo 2. No passado, elas pecavam por excesso de otimismo; agora, estão sendo excessivamente pessimistas.
A dívida dos governos da zona do euro vem caindo desde 2000. A dívida dos governos de Espanha, Grécia e Irlanda caiu ainda mais rápido do que a média da região. Dois desses países, Irlanda e Espanha, apresentavam em 2007 um índice de dívida pública equivalente à metade do alemão ou do norte-americano.
É verdade que, desde que irrompeu a crise, as dívidas governamentais nesses países parecem estar crescendo. Mas as dívidas dos EUA e do Reino Unido avançam com igual rapidez, e não foram lançados alertas com relação a esses dois países.
Assim, as agências parecem não só reagir de forma exagerada e ver perigo onde ele não existe como estão sendo muito seletivas quanto a esses exageros. Os governos de alguns países são considerados mais propensos a riscos do que os de outros, e as razões para tanto são obscuras.
É hora de ditar a punição das agências. Idealmente, depois de exibirem tamanha incompetência, qualquer um gostaria de vê-las fechadas. Mas é improvável que isso ocorra. Minha proposta tomaria de empréstimo uma abordagem adotada com relação ao setor de tabaco.
Assim como os maços portam alertas ao consumidor sobre riscos do fumo, as agências deveriam ser forçadas a lançar alertas de saúde em companhia de suas avaliações.
A terminologia seria assim: "Provas científicas demonstraram que essa avaliação pode prejudicá-lo. Caso seja favorável, é provável que tenha desconsiderado seus aspectos negativos, o que o tornará complacente e o prejudicará. Caso seja desfavorável, ela o prejudicará mesmo que você não mereça".

PAUL DE GRAUWE é professor de Economia na Universidade de Leuven e no Centro de Estudos Políticos Europeus. Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times".
Tradução de PAULO MIGLIACCI



Texto Anterior: Infraestrutura vê cenário incerto para 2010
Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Lula, BNDES, fusões & aquisições
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.