São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2002

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MÍDIA

Histórias sobre a quebradeira da empresa se transformam em filme da FOX neste ano; site vende bugiganga do grupo

Caso Enron já rende três livros e um filme

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

No país do espetáculo, nem o primeiro e maior escândalo econômico da Era Bush poderia passar incólume: a debacle da gigante da energia Enron, que pediu concordata em dezembro passado sob acusações de irregularidades, vai virar filme neste ano.
Mais: até dezembro, saem pelo menos três livros que contam a história da empresa que foi comandada por Kenneth Lay, um dos principais contribuintes das campanhas eleitorais dos Bush. Não só: estouram no site de leilões online eBay ofertas de itens relacionados à multinacional.
O filme deve ir ao ar na emissora de TV paga norte-americana FX, uma das filiais do canal Fox, e pode ter entre duas e quatro horas de duração. Para comandar a pré-produção, o canal contratou Lowell Bergman, do programa jornalístico investigativo "60 Minutes", o "Globo Repórter" local.
"O caso tem elementos comuns aos filmes "Erin Brokovich" e "Wall Street'", citou Bergman em entrevista coletiva quando indagado se o tema árduo não iria afugentar potenciais espectadores.
Para quem não está ligando o nome à pessoa, o personagem interpretado por Al Pacino em "O Informante", que detona o famoso caso contra a indústria do tabaco mundial, é baseado na vida desse produtor.
"Nós queremos criar uma história que tenha idéias e imagens de filmes como 'Todos os Homens do Presidente'", disse Bob Cooper, da FX. Ainda não há candidatos ao papel principal, do texano Lay, um cinquentão calvo, de fala mansa e parecido com o Dunga, um dos Sete Anões.
Isso não impediu que a mídia e os "talk-shows" fizessem sugestões, que foram de Gene Hackman (um pouco parecido) a Clint Eastwood (que seria uma forçada de mão), passando pelo personagem de ficção Darth Vader.
Por falar no vilão de "Guerra nas Estrelas", a cinessérie de George Lucas também está presente no escândalo Enron de maneira indireta. Ao menos quatro das empresas-fantasmas criadas pela multinacional para maquiar o balanço se inspiraram em nomes de personagens do filme.
São elas a Jedi LP, Kenobe Inc., Obi-1 Holdings LLC e Chewco Investments LP. A primeira pega emprestado o nome dos cavaleiros da trilogia, a última parte do alienígena peludo Chewbacca e as outras duas são referência direta ao guru Obi-Wan Kenobe.
O cineasta norte-americano não gostou da história. "Até o caso ser divulgado pela imprensa, a Lucasfilm ignorava o uso de suas marcas registradas pela Enron e declara que tais nomes foram usados sem sua permissão", afirma um documento no site oficial de George Lucas.
US$ 500 mil por livro
Se o anúncio da produção de um filme foi uma surpresa, o mesmo não se pode dizer dos acordos fechados por pelo menos três editoras para a produção de livros investigativos sobre o caso.
O principal foi anunciado pela Doubleday: US$ 500 mil foram adiantados para a jornalista Mimi Swartz, da revista "Texas Monthly", para produzir "Power Failure" (um trocadilho em inglês para "falha de energia" e "falência do poder").
É uma das principais experts no caso, que acompanha desde que a iminente falência era apenas boataria local na cidade de Huston, no Texas, sede da Enron e Estado-natal de George W. Bush. Foi a primeira a entrevistar Sherron Watkins, peça-chave nas investigações por ser a única executiva que veio a público denunciar o que ocorria na empresa.
Além dela, a John Wiley & Sons vai publicar "Power Shock: The Rise and Fall of Enron" ("Choque de Poder - A Ascensão e Queda da Enron"), de Loren Fox, e a PublicAffairs lança "Pipe Dreams", do também jornalista Robert Bryce. Todos os títulos estão previstos para o meio do ano.
Mesmo a empresa de auditoria Arthur Andersen, que saiu chamuscada do episódio, vai merecer sua "biografia". Trata-se de "Our People - How Arthur Andersen Won Big Business and Lost Its Way" ("Nossa Gente -Como a AA Conquistou Grandes Negócios e Se Perdeu no Caminho"), a ser lançado no ano que vem pela Broadway Books. A autora é Barbara Ley Toffler, especialista em ética empresarial.
Por fim, o site eBay (www.ebay.com) recebe desde dezembro uma enxurrada de itens relacionados à empresa de Huston, que sempre primou pelo excesso de brindes com seu nome. Os mais de mil artigos colocados à venda vão de xícaras de chá a calculadoras. O campeão de procura atual: o livrete "Código de Ética da Enron", entre US$ 25 e US$ 100.


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