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MÍDIA
Histórias sobre a quebradeira da empresa se transformam em filme da FOX neste ano; site vende bugiganga do grupo
Caso Enron já rende três livros e um filme
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
No país do espetáculo, nem o
primeiro e maior escândalo econômico da Era Bush poderia passar incólume: a debacle da gigante
da energia Enron, que pediu concordata em dezembro passado
sob acusações de irregularidades,
vai virar filme neste ano.
Mais: até dezembro, saem pelo
menos três livros que contam a
história da empresa que foi comandada por Kenneth Lay, um
dos principais contribuintes das
campanhas eleitorais dos Bush.
Não só: estouram no site de leilões
online eBay ofertas de itens relacionados à multinacional.
O filme deve ir ao ar na emissora
de TV paga norte-americana FX,
uma das filiais do canal Fox, e pode ter entre duas e quatro horas de
duração. Para comandar a pré-produção, o canal contratou Lowell Bergman, do programa jornalístico investigativo "60 Minutes", o "Globo Repórter" local.
"O caso tem elementos comuns
aos filmes "Erin Brokovich" e
"Wall Street'", citou Bergman em
entrevista coletiva quando indagado se o tema árduo não iria afugentar potenciais espectadores.
Para quem não está ligando o
nome à pessoa, o personagem interpretado por Al Pacino em "O
Informante", que detona o famoso caso contra a indústria do tabaco mundial, é baseado na vida
desse produtor.
"Nós queremos criar uma história que tenha idéias e imagens de
filmes como 'Todos os Homens
do Presidente'", disse Bob Cooper, da FX. Ainda não há candidatos ao papel principal, do texano
Lay, um cinquentão calvo, de fala
mansa e parecido com o Dunga,
um dos Sete Anões.
Isso não impediu que a mídia e
os "talk-shows" fizessem sugestões, que foram de Gene Hackman (um pouco parecido) a Clint
Eastwood (que seria uma forçada
de mão), passando pelo personagem de ficção Darth Vader.
Por falar no vilão de "Guerra
nas Estrelas", a cinessérie de
George Lucas também está presente no escândalo Enron de maneira indireta. Ao menos quatro
das empresas-fantasmas criadas
pela multinacional para maquiar
o balanço se inspiraram em nomes de personagens do filme.
São elas a Jedi LP, Kenobe Inc.,
Obi-1 Holdings LLC e Chewco Investments LP. A primeira pega
emprestado o nome dos cavaleiros da trilogia, a última parte do
alienígena peludo Chewbacca e as
outras duas são referência direta
ao guru Obi-Wan Kenobe.
O cineasta norte-americano não
gostou da história. "Até o caso ser
divulgado pela imprensa, a Lucasfilm ignorava o uso de suas marcas registradas pela Enron e declara que tais nomes foram usados sem sua permissão", afirma
um documento no site oficial de
George Lucas.
US$ 500 mil por livro
Se o anúncio da produção de
um filme foi uma surpresa, o mesmo não se pode dizer dos acordos
fechados por pelo menos três editoras para a produção de livros investigativos sobre o caso.
O principal foi anunciado pela
Doubleday: US$ 500 mil foram
adiantados para a jornalista Mimi
Swartz, da revista "Texas
Monthly", para produzir "Power
Failure" (um trocadilho em inglês
para "falha de energia" e "falência
do poder").
É uma das principais experts no
caso, que acompanha desde que a
iminente falência era apenas boataria local na cidade de Huston,
no Texas, sede da Enron e Estado-natal de George W. Bush. Foi a
primeira a entrevistar Sherron
Watkins, peça-chave nas investigações por ser a única executiva
que veio a público denunciar o
que ocorria na empresa.
Além dela, a John Wiley & Sons
vai publicar "Power Shock: The
Rise and Fall of Enron" ("Choque
de Poder - A Ascensão e Queda da
Enron"), de Loren Fox, e a PublicAffairs lança "Pipe Dreams", do
também jornalista Robert Bryce.
Todos os títulos estão previstos
para o meio do ano.
Mesmo a empresa de auditoria
Arthur Andersen, que saiu chamuscada do episódio, vai merecer
sua "biografia". Trata-se de "Our
People - How Arthur Andersen
Won Big Business and Lost Its
Way" ("Nossa Gente -Como a AA
Conquistou Grandes Negócios e
Se Perdeu no Caminho"), a ser
lançado no ano que vem pela
Broadway Books. A autora é Barbara Ley Toffler, especialista em
ética empresarial.
Por fim, o site eBay (www.ebay.com) recebe desde dezembro
uma enxurrada de itens relacionados à empresa de Huston, que
sempre primou pelo excesso de
brindes com seu nome. Os mais
de mil artigos colocados à venda
vão de xícaras de chá a calculadoras. O campeão de procura atual:
o livrete "Código de Ética da
Enron", entre US$ 25 e US$ 100.
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