São Paulo, Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 1999
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EFEITO ARGENTINA
"Acesso aos recursos não é algo que consideramos uma boa idéia", disse Greenspan
Fed nega crédito a países que venham a dolarizar economia

das agências internacionais

Países que dolarizarem as suas economias não terão acesso aos recursos do Fed, o banco central norte-americano, garantiu ontem seu presidente, Alan Greenspan.
"O acesso aos recursos do Fed não é algo que nós ou nossos colegas do Tesouro consideramos uma boa idéia, na verdade nós nos oporíamos a isso", disse Greenspan em seu segundo dia de pronunciamento semestral no Congresso norte-americano.
A declaração foi feita após o representante republicano Paul Ryan questionar se o Fed se tornaria a última instância de crédito dos países que adotarem o dólar como moeda.
O presidente argentino, Carlos Menem, é o principal defensor da adoção do dólar por parte dos países latino-americanos como forma de estabilizar suas economias. A Argentina já iniciou negociações com os EUA, como já havia confirmado o próprio Greenspan.
"O uso do dólar como moeda é algo que os próprios países interessados devem decidir. Eles têm o direito soberano de fazer isso ou não, mas nós não assumimos nenhuma responsabilidade por suas decisões", acrescentou o presidente do banco central norte-americano. Greenspan afirmou ainda que os Estados Unidos têm "algumas obrigações com a América Latina, assim como têm com outros parceiros comerciais".
"Queremos vê-la prosperar, mas não seremos fonte de última instância", disse.
Em seu segundo dia de discurso, Greenspan praticamente repetiu ao comitê bancário do Congresso norte-americano o seu pronunciamento de terça-feira.
No primeiro dia, o dirigente do Fed afirmou que o Brasil já mostra sinais de recuperação. "Embora o contágio da crise global esteja limitado, o risco de efeitos colaterais em parceiros comerciais do Brasil, como os EUA, ainda é possível. Mas o Brasil e a Coréia do Sul estão mostrando sinais de recuperação econômica", afirmara Greenspan na terça-feira.
"Nossa economia deve continuar sólida este ano, embora com um ritmo mais lento de expansão", disse.

Euro
As mudanças ocorridas recentemente na estrutura financeira internacional levaram os países a repensarem seus regimes cambiais, lembrou o presidente do Fed.
Para ele, o euro, a moeda única européia, será uma "experiência interessante", cujos resultados só serão conhecidos em alguns anos.
Ao ser indagado sobre como se deve estabilizar as moedas, Greenspan respondeu que é melhor "manter a economia estável e com inflação baixa".
O presidente do Fed disse também que as intervenções no mercado feitas pelos bancos centrais não conseguem influenciar o câmbio a longo prazo.
O estabelecimento de taxas fixas de câmbio, como fizeram os países emergentes nos últimos dois anos e dois anos e meio, "criou todo tipo de problema".
Segundo Greenspan, os países devem fazer seu próprio julgamento sobre a conveniência de adotar uma moeda mais estável.
O presidente do Fed disse, porém, que há muito mais implicações políticas e econômicas envolvidas em uma troca de moedas do que a maioria supõe. Greenspan fez o comentário ao responder se a Rússia deveria adotar o euro.
"Se eles conseguirem fazer isso funcionar, a minha resposta é sim. Mas não é uma questão simples", disse Greenspan, que demonstrou preferência pelo sistema de câmbio flutuante.


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