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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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CONTAS EXTERNAS

Investimento direto é de US$ 284 mi em março, menor valor em 8 anos; capital de curto prazo soma US$ 776 mi

País atrai capital volátil; dólar produtivo seca

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar do otimismo que tomou conta do mercado financeiro nas últimas semanas, os investidores estrangeiros continuam cautelosos em relação ao desempenho futuro da economia brasileira. A maioria dos dólares que tem ingressado no país é de curto prazo, segundo dados do Banco Central.
Os investimentos estrangeiros diretos recebidos pelo Brasil somaram US$ 284 milhões no mês passado, menor valor em oito anos. Entre janeiro e março, o ingresso desse tipo de recurso ficou em US$ 1,977 bilhão, contra os US$ 4,695 bilhões registrados no mesmo período de 2002.
Diante desse cenário, as empresas estão recorrendo a empréstimos de curto prazo, que vencem em menos de um ano. Em março, esses empréstimos ficaram em US$ 776 milhões. No primeiro trimestre deste ano, o ingresso do capital de prazo mais curto ficou em US$ 1,965 bilhão, contra apenas US$ 148 milhões em igual período de 2002.
"É um movimento natural", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Para ele, a maior entrada de capitais de curto prazo ainda é reflexo da crise enfrentada pelo Brasil no ano passado. Na época, com a proximidade das eleições, muitos bancos estrangeiros, desconfiados dos rumos da economia brasileira, cortaram suas linhas de financiamento para o país.
O setor privado conseguiu renovar apenas 43% das parcelas da dívida externa que venceram em 2002. Em 2001, essa proporção estava em 100%. De janeiro a março deste ano, a rolagem atingiu 34% do total de vencimentos.
Já os empréstimos externos de curto prazo chegaram a US$ 946 milhões no segundo semestre do ano passado, quase o dobro dos US$ 504 milhões recebidos pelo país em igual período de 2001.
Ao emprestar dinheiro para o Brasil, os bancos estrangeiros ganham com os juros altos cobrados, maiores que os cobrados de outros países, mas menores que aqueles do mercado interno.
Para Lopes, o primeiro sinal de que os estrangeiros estão voltando a aplicar no Brasil é, justamente, o crescimento no fluxo de capital de curto prazo. Essa seria apenas uma primeira etapa para que, posteriormente, recursos com caráter menos especulativo e de prazo maior voltem ao país.
Ele cita ainda a desaceleração da economia dos desenvolvidos como um obstáculo ao fluxo de investimentos diretos aos emergentes, entre eles o Brasil.
Inicialmente, o governo esperava contar com US$ 16 bilhões em investimentos neste ano. Diante dos fracos resultados observados até agora, a projeção foi reduzida para US$ 13 bilhões e pode cair ainda mais.
O Brasil precisa de aproximadamente US$ 30 bilhões para fechar suas contas externas neste ano. Esse dinheiro deve vir de empréstimos, incluindo recursos do FMI (Fundo Monetário Internacional) ou de investimentos diretos.
Capitais de longo prazo -como os investimentos ou empréstimos que vencem em mais de um ano- são considerados formas mais seguras de financiar as contas externas.
Por exemplo: quando um banco faz ao Brasil um empréstimo que vence em seis meses, nada garante que, terminado esse prazo, o dinheiro continuará por aqui.


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