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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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LUÍS NASSIF

O planejamento estratégico de Lula

A estratégia de trabalho da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica de Lula é muito mais ampla do que inicialmente se previa. Caminha para ser o centro de pensamento estratégico do governo Lula.
O formulador é o secretário Luiz Gushiken, formado em administração pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, deputado que participou da primeira caravana brasileira que visitou o Japão e a Juse (o órgão que zela pela qualidade total no Japão).
Na análise de Luiz Gushiken, os ministérios têm relativa autonomia. O presidente encontra muita dificuldade para projetos integradores, porque as ações são lentas, e as informações, escassas, dependendo do ritmo de cada ministério.
Esse problema foi identificado no governo anterior e resultou nas câmaras temáticas. Pelo menos no plano conceitual, a idéia de Gushiken é um avanço significativo sobre o antigo modelo.
O primeiro passo é a definição das ações estratégicas. Podem ser várias, mas o foco principal é ver o Brasil como produtor de riqueza de alto valor agregado, ofertando no mercado mundial e identificando vocações nacionais. Não basta um inventário de potencialidades, mas um levantamento claro sobre a demanda internacional.
A idéia foi montar uma estrutura vinculada à secretaria, na condição de órgão de estafe da Presidência, o Núcleo de Assuntos Estratégicos. Primeiro porque o presidente precisa de informação de qualidade, a tempo hábil e com visão de globalidade para orientar seu processo de decisão e unificar as ações ministeriais. Depois porque ações integradas exigem um articulador. E dificilmente um ministro aceitaria outro ministro articulando ações.

O tripé básico
O núcleo se baseará em um tripé: ala empresarial, ala acadêmica e área governamental.
Do governo, entrarão os principais ministérios que lidam com conhecimento, produto e serviço -Agricultura, MDIC (produto e conhecimento), Turismo (serviço), Comunicações (produto), Ciência e Tecnologia e Relações Exteriores (conhecimento). Um outro grupo vai discutir política financeira e desenvolvimento, com a participação da Fazenda, Casa Civil, Planejamento e Integração Nacional. Mas isso na hora de definir o financiamento das prioridades.
A idéia não é compor o estafe com os próprios ministros, mas com pessoas de sua confiança, que cedam tempo parcial, sejam qualificadas para o debate e -importante- estejam na operação no seu próprio ministério. Seu papel será fazer o link com a Presidência e também se capacitar (e capacitar o ministério) para pensar estrategicamente o seu papel na estratégia maior de governo.
Na área empresarial, o próprio Lula sugeriu Eugênio Staub, da Gradiente, como coordenador. Gushiken definiu os critérios de representação de empresários, que disponham de centros de prospecção e estudos e visão de país.
O problema que restou foi na área científico-tecnológica. Como montar uma estrutura que tivesse memória e pudesse articular setores que detêm conhecimento, montando trabalhos coletivos com metodologia?
Foi quando Gushiken tomou conhecimento do Centro de Estudos e Gestão, organização social criada pelo ex-ministro de Ciência e Tecnologia Ronaldo Sardenberg, para pensar as grandes políticas científico-tecnológicas do país. O centro estava ameaçado de desativação pelo novo ministro, Roberto Amaral. Gushiken negociou, conseguiu obter a concordância e a colaboração de Amaral, que se tornou o avalista do acordo.
Gushiken considera o Centro de Gestão a maior rede de cientistas do país e com maior capacidade articulatória. Além disso, como Ocip, o Centro tem flexibilidade e rapidez e será o principal supridor de informações do núcleo.
Finalmente, para essa área de inteligência, Gushiken trouxe Glauco Arbix -competente economista da USP, especializado em indústria automobilística-, que assumiu a presidência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e a direção executiva do núcleo. O Ipea será fortemente utilizado na área de estudos e inteligência. Gushiken pretende também trazer quadros da Escola Superior de Guerra, centro de pensamento que nunca deixou de analisar estrategicamente o país.
A montagem faz sentido. Se houver gestão, poderá começar a oferecer ao país um novo modelo de pensamento estratégico de longo prazo, dentro do conceito de Estado indutor de ações. Talvez falte apenas um operador, profundo conhecedor de governo, como Pedro Parente, para o modelo fechar.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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