São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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Mercadinhos crescem e preocupam grandes

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O segmento que parecia destinado a morrer, depois do desembarque de novas redes de supermercados no Brasil e de um processo de aquisição de companhias menores, não apenas sobreviveu como obrigou as gigantes do setor a repensarem estratégias.
Além de concorrerem entre si, grupos como o Pão de Açúcar e o Carrefour têm que se preocupar em aumentar suas cadeias populares e não continuarem a perder dinheiro para os supermercados de um a quatro caixas.
Segundo dados da ACNielsen, obtidos pela Folha, esses supermercados tradicionais, que em 2001 respondiam por 35,9% do faturamento global do setor no país, passaram a deter 38,3% das vendas no ano passado.
No mesmo período, a participação das grandes redes e dos hipermercados no faturamento total recuou: de 18,8%, em 2001, para 16,2% em 2003. A parcela dos pequenos supermercados (de cinco a nove caixas) permaneceu estagnada, na faixa de 11,2% a 11,3%. Por fim, a dos supermercados médios foi de 15,4%, em 2001, para 15,9% no ano passado.
""Entre 1999 e 2001, houve um momento de aquisição de mercados menores pelas grandes redes. Mas, paralelamente a isso, foi criada uma situação particular. A renda do trabalhador caiu muito. Ele fica mais parcimonioso na hora da compra. Em mercados de pequeno porte, o consumidor é menos tentado a comprar supérfluos", avalia Eugênio Foganholo, da consultoria de varejo Mixxer.
Deve ser considerado ainda que, a depender da renda do consumidor, cresce a importância de determinado canal de compra. Dados do LatinPanel mostram que, nas classes D e E, 24% das compras são realizadas no "mercadinho", enquanto as classes A/ B fazem apenas 8% de suas compras nesses estabelecimentos.
Os consumidores A/B preferem as cinco maiores redes de varejo: 25% de suas compras são realizadas nas grandes redes. Os de classe D/E não fazem mais que 7% das compras em grandes redes.
Para ficarem ativos, os supermercados tradicionais se movimentaram. Nos últimos quatro anos, multiplicaram-se as cooperativas compras para pequenos e médios varejistas. A Abras não tem números exatos de quantas sejam as cooperativas. Consultores estimam em ao menos três dezenas, a maioria no Sul e Sudeste.
As cooperativas centralizam os pedidos em lotes maiores, obtendo poder de barganha com os fornecedores que, isoladamente, os comerciantes não teriam.
Martinho Paiva Moreira, vice-presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados) e diretor comercial da Arcos, uma cooperativa que reúne 48 empresas (no total 81 lojas), afirma que, em média, obtém com as compras em lotes preços 5% mais baixos que para pedidos individuais.
O executivo afirma, com base em dados da Apas, que as diferenças de preços são "insignificantes". "As grandes redes praticam preços muito mais baixos em casos pontuais, em ofertas de determinados produtos. Na média, a diferença quase não existe", diz.
As grandes redes acompanham de perto a tendência. Em 2000, o Pão de Açúcar mantinha 111 lojas sob a bandeira Barateiro, a mais popular. Neste ano, elas já somam 158. No mesmo período, os pontos com a bandeira Pão de Açúcar, segmento de mais alto consumo, passaram de 186 para 199.


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